Quando morrer, desejaria que a minha urna fosse coberta de
folhas de jornais impressas, levando para o “outro lado da vida” (onde muitos
dos amigos que aqui menciono me esperam), esse bichinho que, felizmente,
continua bem mexido. Daí que, uma vez por outra, vou alinhavando escritos para
serem publicados no matutino (na minha altura, vespertino) “A União”, o meu
primeiro jornal da imprensa regional, e cuja ideia foi bem acolhida pelo editor
João Rocha, um moço que, em boa hora, enveredou pelo jornalismo, apresentando
sempre uma qualidade digna dos maiores encómios. Um grande valor. Conheci João
Rocha como distribuidor de jornais, uma profissão como outra qualquer. Depois
deu o salto. Um vulto que despontou.
Aqui deixo, em retrospectiva, duas dessas crónicas (genérico
Postal do Brasil) que enviei, na oportunidade, para o jornal “A União”.
Stones, U2 e Carnaval, agitaram o Brasil no mês de Fevereiro
ANIVERSÁRIO AGITADO. O Partido Trabalhista, vulgo PT,
conheceu mais um momento de agitação, desta feita no assinalar do seu
vigésimo-sexto aniversário. Antes do início da festa, alguns militantes do
partido manifestaram-se contra as presenças dos deputados com processos de
cessação de mandato, os tais que estão envolvidos no “caso mensalão”. Mas,
depois, com a intervenção de Lula da Silva os ânimos serenaram. Só não sabemos
se houve beijos e abraços.
FERNANDO HENRIQUE LANÇA MAIS LIVROS. O ex-presidente do
Brasil, Fernando Henrique Cardoso, sociólogo, faz uma reestréia como escritor
com o lançamento de três livros nos próximos meses. Os livros serão lançados
nos Estados Unidos e no Brasil. Um desses livros, “a arte da política”,
Fernando Henrique Cardoso, aqui mais analítico, fala de privatizações e brigas.
Ainda em relação ao lançamento no Brasil (seguir-se-á, daqui a dois
meses, sensivelmente), são conselhos a um jovem que quer entrar na política e,
segundo FH, é o mais simples de todos, uma colectânea de entrevistas. Fernando
Henrique diz que foi presidente, mas que não deixou de ser sociólogo.
No seu primeiro livro de memórias, “the accidental
presidente of Brazil”, a ser lançado nos Estados Unidos, entre as provas de
texto, escrito durante suas temporadas como professor na Universidade de Brown,
e a edição final, revisada no Brasil em clima de campanha.
Fernando Henrique diz “que não ataca Lula, a não ser no
finalzinho, quando fala de corrupção e da decepção”. Um livro para ler só no
finalzinho? (a ironia é nossa, óbvio).
ROLLING STONES E U2 NO BRASIL. Rivalidades entre estados,
entre cidades, entre vilas, entre freguesias, há por todo o lado do universo.
Aqui no Brasil, São Paulo e Rio de Janeiro não fogem ao estigma da compita, por
vezes exarcebada. Mas há casos em que essa rivalidade é salutar, como aconteceu
agora com o rock. Rolling Stones estiveram em Copacabana (RJ) e os U2 em São
Paulo. Apenas dois dias e 400 quilómetros separaram os dois maiores grupos em
actividade no mundo, Rolling Stones e U2, que, assim, mediram forças no Brasil.
Uma coisa é certa: em lugar nenhum do mundo Rolling Stones e
U2 com diferenças de dois dias, a 400 quilómetros de distância um do outro.
Stones passaram por Copacabana e U2 pelo Morumbi. Stones e U2, qual deles o
melhor? As opiniões divergem, inclusive as dos entendidos na matéria.
A verdade, porém, é que os dois espectáculos registaram
inusitada afluência de público. Dizem que os Stones estão velhinhos, mas para
Copacabana vieram 1250 autocarros (aqui ônibus). E esta foi a terceira
tourné dos Rolling Stones ao Brasil. Valeu. E os U2, discípulos de Stones? A
magia da banda está, além da competência dos músicos, na riqueza das melodias e
na variedade do repertório.
Voltando a Copacabana, há que dizer que viveu novo clima do
reveillon no maior “show” da história da cidade do Rio de Janeiro.
O MELHOR CARNAVAL DO MUNDO. Quem pode duvidar que o carnaval
brasileiro é o melhor do mundo? Pensamos que ninguém. De facto, e mais uma vez,
o carnaval do Brasil primou por uma qualidade ímpar, principal incidência no
desfile (concurso) das escolas de samba do Rio de Janeiro. O sambódromo
registou mais uma impressionante adesão do público. É, para o brasileiro, a
quadra mais desejada, preparada com alguns meses de antecedência. E quem venceu
o concurso? Surpreendentemente, Vila Isabel, quando as previsões apontavam para
o “tri” de Beija-Flor. Uma vitória comemorada com pompa e circunstância na
airosa Vila Isabel.
ROGÉRIO CENI, FINALMENTE. Sim, finalmente, Rogério Ceni,
goleiro do São Paulo, foi convocado por Parreira para a Selecção do Brasil no
amistoso com a Rússia. Foi titular e correspondeu inteiramente. No São Paulo,
de bola parada, Rogério Ceni marca muitos golos. Na época passada, apontou 15.
E no jogo São Paulo – Liverpool, Rogério foi a grande figura do São Paulo.
Rogério Ceni na Alemanha? Pensamos que será um dos três goleiros que Parreira
convocará para a Copa do Mundo.
Este Brasil... brasileiro
Muitos apontam o dedo a Lula, face à tão badalada corrupção
que grassou no seio do seu governo, mas o que é certo é que as previsões
apontam Lula como vencedor do primeiro turno das eleições.
Fui sempre, em Portugal, um regular leitor da coluna, em “A
Bola”, do Dr. Duda Guennes, o genérico “Meu Brasil, Brasileiro”. Hoje, porém,
invertendo situações, encimei este apontamento com... Este Brasil...brasileiro.
E porquê? Este Brasil tem, de facto, coisas maravilhosas, muitas delas
fascinantes, servindo de paradigma o paisagismo, sobretudo no sul do país,
apenas para citar este exemplo sulista. Poderia ainda falar das orlas
marítimas, particular incidência para a Região dos Lagos do Estado do Rio de
Janeiro. Mas este Brasil, convenhamos por amor à verdade, tem, numa maioria
percentual, um povo inculto, apesar da sua bondade e inequívoca hospitalidade.
É pena que isso aconteça. Mas, pelo que temos auscultado, desde que aqui
chegamos há dois anos a esta parte, este o problema que mais afecta este
país. Será daí que advém tanta violência? Em parte, e numa opinião meramente pessoal,
pensamos que sim, adicionando, também, o factor pobreza que não deixa de ser
assustador.
Ora, desde que a bomba rebentou, muitos apontam o dedo a
Lula, face à tão badalada corrupção que grassou no seio do seu governo, mas o
que é certo, porém, é que as previsões apontam o actual presidente como
vencedor do primeiro turno, ele (Lula) que se recandidatou e que já se assume
como vencedor. Afinal, pergunta-se: onde estão os milhares de brasileiros que
já crucificaram Lula e o seu partido em função do processo “mensalão” que fez
correr muita tinta e que, inclusive, transbordou para os países estrangeiros
onde pululam emigrantes oriundos deste Brasil. Há, pois, este
Brasil...brasileiro.
Sei, e já escrevi, que o brasileiro tem semelhanças com o
português, conquanto o brasileiro se possa “ufanar” de ser mais divertido. É
indesmentível. Mas, seguindo a linguagem deles (ainda sou bem português),
existe um porém, este: o povo português tem mais raízes culturais, tem mais
vivência política e tem-se revelado mais forte quando depara com falcatruas
governamentais. Os brasileiros falam, falam, mas não se mostram capazes de
“pegar o toiro pelos cornos” (esta é uma expressão “made in Portugal”) e, daí,
acreditar que, face a tudo o que tem acontecido em termos de corrupção, Luís
Inácio Lula da Silva possa sair vencedor de mais este acto eleitoral.
Parafraseando o nosso saudoso Fernando Pessa, e esta, hein!!
Cintra símbolo do meu patriotismo
Há alguns anos atrás, acompanhei, em Angra do Heroísmo, ao
serviço do jornal “Record”, José de Sousa Cintra, então presidente do Sporting
Club de Portugal. Com ele, o meu querido amigo Mário Goulart Lino, que mereceu
a confiança de Sintra no Sporting. Recorde-se que Mário Lino foi, como
treinador, campeão pelo Sporting e vencedor de uma Taça de Portugal, na época
em que o argentino Yazalde se notabilizou no clube.
Claro que José de Sousa Cintra, sempre mereceu da minha
parte uma enorme simpatia, pela sua simplicidade e, sobretudo, por ter
presidido aos destinos do “meu” Sporting. Nunca neguei que era sportinguista.
Ora, quando vim para o Brasil comecei, desde logo, a beber a
cerveja Cintra, cujo sucesso, nestas paragens, tem sido notório. Aliás,
José de Sousa Cintra, como é seu timbre, revelou-se uma pessoa com enorme visão
com a implantação da sua cerveja no Brasil.
Numa das praias que frequento, peço sempre cerveja Cintra.
Um dia, alguém que estava ao meu lado, perto de mim, me apelidou de exagerado
patriotista, na medida em que só bebo Cintra que, bem vistas as coisas, é o símbolo
desse mesmo patriotismo. Que me perdoem os brasileiros, mas a Cintra é a melhor
cerveja em terras de Vera Cruz. E vai mais uma, à saúde do senhor Zé, que um
dia gostaria que voltasse à presidência do Sporting. Um homem de pequena
estatura, mas de alma muito grande. Digamos um empresário que soube chegar ao
desejado patamar do sucesso.
Cintra que gostosa esta cerveja. Aqui no meu livro posso
fazer publicidade porque não é proibido.
A seguir Capítulo IX
Para conferir os capítulos
anteriores, clique aqui.
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