Como é possível Portugal ter invadido um país que não existia?

DO TEXTO: Mas não se pense que tal reacção só pode vir de pessoa malformada, pois também pode acontecer vir de quem menos se esperava que viesse, porque...
Tio Patinhas Português a banhar-se no ouro do Brasil.


O ministro da Justiça do Brasil julgou à flor-da-pele, não pensando bem no que disse, quiçá como aconteceu à portuguesa em causa


Por: Armindo Guimarães


Hoje estava a assistir na TV ao Telejornal da tarde, quando dei com uma cena de uma portuguesa a insurgir-se em voz alta contra uma brasileira, mandando-a para a sua terra, entre outras afrontas verbais.


Independentemente do que terá levado a portuguesa a reagir de tal forma (no vídeo nada aparece sobre o antes), escusado será dizer que impropérios do género são reprováveis sobre todos os aspectos e só se pode entender (mas não aceitar) quando vindos de alguém que reage sem pensar no que diz, desconhecendo ou esquecendo a história passada e recente do Brasil e de Portugal no que à migração se refere.

Mas não se pense que tal reacção só pode vir de pessoa malformada, pois também pode acontecer vir de quem menos se esperava que viesse, porque, à partida, pela posição pública e política que ocupa, é normalmente tida como culta e como tal com tento na língua, que o mesmo é dizer, falar com conhecimento de causa.

Acontece que ainda de acordo com a mesma reportagem, tal episódio mereceu do ministro da Justiça brasileiro a seguinte declaração "A cidadã brasileira em causa pode ser enviada de volta, mas juntamente com o ouro do Brasil". E a reportagem mostra o referido ministro durante uma cerimónia do lançamento de um programa de bolsas, declarando que a portuguesa teria dito qualquer coisa como "vocês estão invadindo Portugal. Se foi isso, nós temos direito a reciprocidade porque em 1500 eles invadiram o Brasil", palavras corroboradas com risos dos restantes elementos da mesa (ver vídeo a partir do minuto 46).

Toda a gente sabe, ou imagina, que ser-se migrante em qualquer país, seja ele qual for, não é fácil sobre todos os aspectos e um deles é precisamente o facto de numa hipotética situação conflituosa com um natural do país que o acolheu poder ouvir palavrão igual ou idêntico.

Ora, ninguém duvida que se há povo que durante séculos se viu obrigado a sair do seu país para poder fazer face às contingências da vida, foi, e continua ser, os Portugueses, que, fosse no Brasil, na Venezuela, na Argentina, em França, na Alemanha, Bélgica, Suíça, Estados Unidos, Canadá, etc., se levassem tanto a peito tais frases, por certo não se fixariam nunca em nenhum país, regressando imediatamente à sua terra natal, pelo que, por maioria de razão, qualquer português que mande para a terra-mãe estrangeiros que no seu país trabalham é puro contrassenso. 

Mas hoje os tempos são outros, tudo é para ontem, tudo é julgado com a emoção à flor da pele. Uma frase dita por um cidadão de determinado país é considerada como tendo sido dita por um significativo número de cidadãos desse país. As palavras Xenofobia e Racismo, são apontadas a este e àquele por dá-cá-aquela-palha, como aconteceu, por exemplo, comigo e com um amigo no Facebook quando, ao comentarmos um post sobre as cores de determinado objeto, ele disse que gostava do branco, tendo eu dito que gostava mais do preto, o suficiente para que o post fosse eliminado e eu e o meu amigo avisados de que o Facebook não permitia comentários racistas.

Por isso, temos que concordar que o ministro da Justiça do Brasil julgou à flor-da-pele, não pensando bem no que disse, quiçá como aconteceu à portuguesa em causa, que de forma alguma representa a generalidade dos portugueses que, é sabido, sempre gostaram dos brasileiros e sempre os recebem bem em Portugal, sendo que um caso aqui e ali, não passam de excepções que sempre as há seja no que for.

Com efeito, se o senhor ministro da Justiça tivesse tido a calma que se espera de um alto representante de um país, não iria dizer semelhante frase, pois sabe, ou se não sabe devia saber, que os Portugueses nunca invadiram o Brasil em 1500, como afirmou, pela simples razão de que os Portugueses nunca poderiam invadir um país que ainda não existia. Os Portugueses criaram o Brasil com a ajuda das várias tribos indígenas que se guerreavam até à morte umas com as outras e que a partir de então deixaram de o fazer.

Quanto ao ouro de Ouro Preto, se os Portugueses levaram algum desse ouro para Lisboa, não estavam a levar o que era de outro país mas sim de Portugal que fundiu terras que, para as poder manter de forma a que não fossem postas a retalhos como os restantes países sul-americanos, havia que as defender de quem as queria usurpar e, para isso, de algum sítio tinha de vir tanto dinheiro para tantos fortes espalhados pelo imenso Brasil.

Por isso, é de lamentar que volvidos mais de 200 anos da independência, alguns brasileiros, porventura incapazes de fazer melhor, tratem Portugal não como um país irmão, mas sim como o país colonizador, o eterno culpado de tudo o que de negativo acontece no Brasil, não deixando de ser caricato que os Portugueses que referem são os que fizeram o Brasil e por lá ficaram após a independência, esses mesmos pais e mães daqueles que hoje os culpam por dá-cá-aquela-palha.

Convivo virtual e diariamente com centenas de Brasileiros e Brasileiras desde 2004, muito por "culpa" do Rei Roberto Carlos com quem aprendi a amar o Brasil e as suas gentes, daí que são muitas as amizades que possuo em Terras de Vera Cruz que sabem o que sinto pois não é por acaso que me chamam Portuleiro ou o Português mais brasuca que conhecem, sem nunca ter visitado o Brasil, a não ser numa imaginada viagem virtual que passei a escrito. 

Portugal, sim, foi invadido por diversas vezes, por Espanha, mas nem por isso nas escolas nos é ensinado a dizer mal dos espanhóis ou a culpá-los dos nossos problemas. No Brasil, é ao contrário, nas escolas Portugal é o lobo mau colonizador que invadiu o Brasil para o explorar e matar os povos indígenas, quando se sabe que foi ao contrário e que morreram e continuam a morrer mais indígenas após a independência.

Só assim se explica o desconhecimento que muitos brasileiros têm sobre Portugal, conforme se pode constatar neste vídeo recentemente filmado por um brasileiro na sua cidade.

Há coisas do carago!

O que os Brasileiros sabem sobre Portugal?!  Inacreditável!

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