Poluição do ar aumenta risco de trombose venosa

Estudo revela que poluentes como PM2.5 e NO2 elevam o risco de tromboembolia venosa, especialmente em moradores de grandes cidades.

Vista urbana com tráfego intenso e poluição atmosférica visível; ao fundo, fábricas emitem fumaça sob um céu alaranjado.


Estudo liga exposição prolongada à poluição ao risco de embolia pulmonar


O ar que respiramos pode ser o gatilho invisível de uma trombose fatal.

São Paulo – junho 2025 - A exposição à poluição do ar foi associada a um risco maior de desenvolvimento de tromboembolia venosa, de acordo com resultados publicados em março em estudo no periódico Blood. “A trombose significa que o sangue, que deveria ser líquido, coagulou, ficou no formato de uma gelatina, causando uma obstrução, interrompendo a circulação e a passagem de sangue. É o segundo estudo de grande relevância esse ano que faz essa correlação. Este trabalho traz uma análise mais profundamente caracterizada da poluição e da trombose venosa profunda e se soma às evidências crescentes de que a poluição do ar afeta negativamente a saúde”, destaca a cirurgiã vascular Dra. Aline Lamaita*, membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV). O estudo multiétnico prospectivo recrutou participantes de seis comunidades nos EUA para avaliar os impactos da poluição do ar no risco de TEV. “Os pesquisadores caracterizaram a poluição do ar com base em quatro fatores, que incluíam partículas finas menores que 2,5 micrômetros (PM2.5), óxidos de nitrogênio (NOx), dióxido de nitrogênio (NO2) e ozônio (O3). A poluição foi avaliada com base em um modelo espaço-temporal que incorpora dados de monitoramento”, explica a médica.

De acordo com a médica, na trombose, a circulação é afetada. “Ficamos com a drenagem do sangue comprometida, levando ao acúmulo de sangue na região afetada (90% dos casos ocorrem nas pernas). Além das alterações circulatórias previstas para o local afetado, temos o risco de uma complicação maior, a embolia pulmonar. Na embolia pulmonar um pedaço dessa ‘gelatina’ se solta da perna e vai parar no pulmão, podendo ser causa de morte súbita”, completa a médica. Entre os sinais e sintomas, estão o inchaço, a dor, as alterações de cor, podendo em casos extremos e raros evoluir para amputação, de acordo com a cirurgiã vascular.  

O estudo teve início nos anos 2000 e incluiu 6.651 participantes, dos quais 53,0% eram do sexo feminino. No início do estudo, os participantes tinham uma média de idade de 62,1 anos. Nessa população, em um acompanhamento mediano de 16,7 anos, houve um total de 248 eventos de tromboembolia venosa relatados, de acordo com dados de alta hospitalar obtidos até 2018. “A exposição crônica à poluição do ar, definida por concentrações mais altas de PM2.5, NO2 e NOx por até 18,5 anos, foi associada ao aumento do risco de desenvolvimento de tromboembolia venosa”, explica.

A médica diz que pacientes que moram em metrópoles e megalópoles, áreas mais poluídas, devem fazer um check-up vascular mais frequente, principalmente se estiver dentro do grupo de risco para a trombose. “Os principais fatores de risco são: idosos, fumantes, gestantes, pessoas sedentárias, usuárias de anticoncepcional ou terapia de reposição hormonal, portadores de trombofilia. Existem também situações de risco, como as que há restrição de movimento das pernas e mobilização, como viagens longas, internações, pós-operatórios e traumas”, comenta a médica. “Além disso, hoje consideramos o ficar sentado o nosso novo cigarro. O ser humano foi desenhado para estar em movimento e o imobilismo está relacionado a várias doenças que passam pelos problemas circulatórios como doenças arteriais, infarto, derrame e trombose, até alterações psiquiátricas como quadros de depressão, problemas ortopédicos de coluna e postura. É importante manter um dia ativo, independente da prática de exercícios físicos”, completa.

O tratamento da trombose, segundo a médica, é basicamente clínico, com uso de medicação anticoagulante por tempo que pode variar de 3 meses a 1 ano e meio, a depender da localização da trombose e características individuais do paciente. “Em casos extremos e raros podem ser realizados procedimentos para a extração do trombo”, explica. “Porém, o mais importante é que você consulte um cirurgião vascular regularmente, principalmente se você tiver predisposição ou agravantes individuais associados à doença. Apenas ele poderá acompanhar sua situação, realizar um diagnóstico correto e, se for o caso, indicar o melhor tratamento para você”, finaliza.

Foto de perfil da autora Dra. Aline Lamaita.
*DRA. ALINE LAMAITA: Cirurgiã vascular, membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV). Membro da Sociedade Brasileira de Laser em Medicina e Cirurgia, do American College of Phlebology, e do American College of Lifestyle Medicine, a médica é formada pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (2000) e hoje dedica a maior parte do seu tempo à Flebologia (estudo das veias). Curso de Lifestyle Medicine pela Universidade de Harvard (2018) e pós-graduação em Medicina Integrativa e Longevidade saudável. A médica possui título de especialista em Cirurgia Vascular pela Associação Médica Brasileira / Conselho Federal de Medicina. RQE 26557. Instagram: @alinelamaita.vascular
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