Os Portugueses de Antanho e os Laços que Perduram

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DO TEXTO: Muitos brasileiros, descendentes diretos de portugueses, acusam-nos de colonizadores, exploradores e esclavagistas, ignorando que são, na maioria,
Criação IA editada de portugueses num intercâmbio cultural e comnercial com povos de outras latitudes.


Muitos brasileiros desconhecem as suas raízes portuguesas devido ao enfoque limitado nas escolas



Por: Armindo Guimarães


Quando falamos dos portugueses de antanho, é inevitável mencionar os povos que hoje compartilham a mesma língua, herança daqueles que "deram novos mundos ao mundo". Terras ocupadas ou colonizadas, por vezes recorrendo a meios hostis e práticas como a escravatura, marcaram um período de conquistas e desafios. Contudo, os aspetos positivos e os laços culturais, embora não apaguem as injustiças do passado, também merecem reconhecimento.

Após a independência desses territórios, os laços entre os povos lusófonos continuam a existir, na maioria devido à língua que os une. Exemplo significativo disso foi o gesto de solidariedade do povo de Timor-Leste, um dos países mais jovens do mundo, que doou um milhão de dólares para ajudar as vítimas dos incêndios em Portugal, nos distritos do Porto, Braga e Viseu, no verão de 2013. Posteriormente, ofereceu um adicional de 500 mil dólares. Esse mesmo espírito de solidariedade repetiu-se em 2024, quando Timor-Leste doou 2,2 milhões de euros para a recuperação dos incêndios na Madeira. Esses atos carregam ainda mais valor por virem de um país que, após obter a independência em 1975, enfrentou anos de ocupação e perseguições até à sua libertação definitiva em 2002 — processo em que Portugal desempenhou um papel crucial ao nível diplomático.

Por outro lado, situações de conflito cultural, como o incidente entre uma portuguesa e uma cidadã brasileira no aeroporto de Lisboa, têm o potencial de alimentar tensões desnecessárias. Reações negativas de governantes, como a mencionada no artigo "Como é possível Portugal ter invadido um país que não existia?", refletem a falta de uma compreensão mais profunda da História.
 
Muitos brasileiros, descendentes diretos de portugueses, acusam-nos de colonizadores, exploradores e esclavagistas, ignorando que são, na maioria, herdeiros dessa mesma História. Acusações, como o suposto "roubo do ouro" do Brasil, também requerem uma análise mais justa: apenas 20% do ouro extraído era destinado à Coroa portuguesa, com investimentos significativos realizados em fortificações que garantiram a integridade territorial do Brasil contra potências como a Holanda, França e Inglaterra.

Esses fortes, hoje patrimónios nacionais, são testemunhos históricos da preservação do território.

Além disso, é importante lembrar que o Brasil não existia como entidade antes da chegada dos portugueses. Foram eles, com povos locais, que mantiveram o território unido, evitando que se transformasse em fragmentos como ocorreu na América Espanhola. Assim, o Brasil era uma extensão de Portugal, como as ilhas da Madeira e dos Açores, ou as terras do Minho ao Algarve na Península Ibérica.

Aqui surge uma reflexão essencial: o ensino da História. Muitos brasileiros desconhecem as suas raízes portuguesas devido ao enfoque limitado nas escolas, que negligenciam a complexidade dessa relação histórica. A escravatura, por exemplo, que hoje é justamente repudiada, era uma prática comum em muitas civilizações desde a antiguidade. Ainda assim, Portugal deu passos pioneiros em direção à abolição. Em 1570, um decreto governativo proibiu a escravização de indígenas no Brasil, proclamando-os "livres e iguais". Em 1761, Portugal foi um dos primeiros países a abolir o tráfico de escravos na metrópole, libertando todos os escravos que entrassem em território português.

A Epopeia Marítima e o Espírito de Descoberta


É fundamental reconhecer que, se não fossem os portugueses a chegar ao Brasil, outros povos o fariam. Holandeses, franceses ou ingleses poderiam ter colonizado o território, mas com objetivos distintos, como a exploração sem fusão cultural — algo que marca negativamente a história de muitas nações independentes hoje. Com as suas caravelas, astrolábios e cartas rudimentares, os navegadores portugueses enfrentaram mares desconhecidos, tempestades implacáveis, naufrágios e piratas. Cada viagem era uma epopeia que exigia coragem, resistência e visão.

Além de riquezas materiais, as expedições portuguesas promoveram um intercâmbio cultural sem precedentes. Tradutores, os chamados línguas, garantiam que o contacto com povos desconhecidos fosse mais do que um choque de culturas, mas também uma oportunidade de aprendizado mútuo. Ao conectar o Brasil, as rotas das especiarias na Índia e as costas africanas e orientais, os portugueses moldaram os alicerces da globalização.

Reflexão para o Presente


Duzentos anos após a independência do Brasil, é tempo de olhar para o passado com mais orgulho e menos ressentimento. Em vez de culpar os portugueses pelos desafios atuais, os brasileiros podem-se inspirar na coragem e determinação que moveram os seus antepassados lusitanos a desbravar o desconhecido. O Brasil, com os seus recursos abundantes e cultura rica, tem tudo para se tornar uma potência global. Falta, talvez, a mesma ousadia e visão que levou os portugueses a traçar os primeiros passos de um mundo conectado.

A História não deve ser julgada à luz do presente, mas compreendida no seu contexto. Os navegadores portugueses, com todos os erros e acertos, deixaram um legado de resiliência, intercâmbio cultural e um exemplo de como desafiar o impossível. Que essa reflexão sirva de inspiração para enfrentar os desafios do presente e construir um futuro mais unido e próspero.
 
Portugal: Pioneiro da Globalização

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