Assédio moral: comportamento abusivo pode afetar a saúde mental do profissional

DO TEXTO: Especialista explica como ocorre o assédio moral, um crime que afeta a saúde física e mental da vítima.
Em 2020, o Ministério Público do Trabalho (MPT) recebeu 4.826 denúncias de assédio moral no país. Uma pesquisa feita por um site de vagas registrou que 52% dos entrevistados alegam ter sofrido algum tipo de assédio moral no meio corporativo. No entanto, 87,5% não denunciam o assédio. Os motivos são inúmeros: vergonha, medo que a culpa recaia sobre a vítima e, principalmente, medo de perder o emprego.


Especialista explica como ocorre o assédio moral, um crime que afeta a saúde física e mental da vítima


São Paulo, agosto de 2021 - Em 2020, o Ministério Público do Trabalho (MPT) recebeu 4.826 denúncias de assédio moral no país. Uma pesquisa feita por um site de vagas registrou que 52% dos entrevistados alegam ter sofrido algum tipo de assédio moral no meio corporativo. No entanto, 87,5% não denunciam o assédio. Os motivos são inúmeros: vergonha, medo que a culpa recaia sobre a vítima e, principalmente, medo de perder o emprego.    


A Profª Eliziane dos Santos, coordenadora acadêmica do curso de graduação em gestão hospitalar da Faculdade Santa Marcelina, explica como essa relação entre assediador e assediado acontece de forma sutil: “O assédio moral se dá em duas fases: na primeira, a pessoa ainda não tem consciência que a agressão é direcionada exclusivamente a ela, em um segundo momento, a pessoa se percebe como alvo das atitudes maldosas”.  


A falta de discernimento entre poder e autoridade são a origem da maior parte dos comportamentos abusivos. Isso porque, de acordo com Eliziane, geralmente o assediador ocupa uma posição superior à da vítima na empresa: “São pessoas inseguras, mas usam da relação hierárquica para sobressair. Eles têm comportamentos arrogantes e exploram o outro nas relações interpessoais”. A professora destaca que o sentimento de inveja e a necessidade de se sentir importante também podem estar presentes no assediador. 


Essa forma de se relacionar pode ter resultados satisfatórios para o assediador em um primeiro momento. É comum o abuso da autoridade resultar em submissão, obediência e, inicialmente, na qualidade de trabalho mais satisfatória. Mas quando a vítima começa a sofrer as consequências do abuso, a produtividade pode cair. Além disso, em casos onde outros funcionários testemunham o abuso, a relação da equipe e o clima organizacional também são comprometidos.  


O fator mais preocupante são as consequências que a vítima pode sofrer. Eliziane destaca que “a alteração do sono, dificuldades de se relacionar, estresse, síndrome do pânico e depressão podem ser observadas”.  Além do comprometimento imediato à qualidade de vida do indivíduo, o acumulo gradativo desses sintomas podem resultar em doenças psicossomáticas, que são desordens emocionais ou psiquiátricas que afetam o funcionamento dos órgãos do corpo.  


Com o equilíbrio emocional comprometido, muitas vezes o indivíduo é colocado em uma posição onde não vê com clareza que é vítima da situação. Por isso, se culpar e continuar a se submeter aos assédios são atitudes muito comuns, e a denúncia se transforma em uma opção distante, acobertada pelo sentimento de incompetência profissional e o medo de perder o emprego.   


Como identificar o assédio moral e o bullying? 


Por mais que tenham premissas parecidas, o assédio moral e o bullying não são a mesma coisa. O bullying é caracterizado por agressões repetitivas, comumente físicas. Além disso, nesse tipo de abuso há um desejo consciente da prática de exposição da vítima.  Já o assédio moral é mais sutil e mascarado, por vezes disfarçado pela relação de poder intrínseca ao contexto corporativo. Outra diferença é que, nas ocorrências de bullying, identificam-se não apenas as agressões verbais no âmbito presencial ou nas redes sociais, como o cyberbullyng, mas a também conta com agressões físicas, sendo facilmente percebido pelos demais, enquanto que no assédio moral, o comprometimento físico da vítima é decorrente das agressões psicológicas que afetam a à saúde mental, a autoestima e autoconfiança da vítima. Um exemplo da ficção que trata do assédio moral no trabalho é o filme “O Diabo veste Prada”.  


De acordo com Eliziane, o assédio moral pode ser identificado por colegas de trabalho: “As mudanças nas relações interpessoais no ambiente de trabalho são o maior sinal de que aquele profissional está passando por algum problema.  A postura adequada ao identificar tais mudanças é buscar entender o que está acontecendo, porque na dinâmica profissional, o clima se torna tenso”.  

 

Vale destacar que, ao notar qualquer tipo de relacionamento abusivo no ambiente de trabalho, a atitude empática dos colegas pode fazer uma diferença essencial nas consequências sofridas pela vítima. O Ministério Público do Trabalho (MPT) tem um canal direto para receber denúncias de assédio moral: podem ser utilizados o site (mpt.mp.br/pgt/servicos/servico-denuncie)  e o app Pardal MPT. Denúncias também podem ser feitas presencialmente.  



Sobre a Faculdade Santa Marcelina    

A Faculdade Santa Marcelina é uma instituição mantida pela Associação Santa Marcelina – ASM, fundada em 1º de janeiro de 1915 como entidade filantrópica. Desde o início, os princípios de orientação, formação e educação da juventude foram os alicerces do trabalho das Irmãs Marcelinas. Em São Paulo, as unidades de ensino superior iniciaram seus trabalhos nos bairros de Perdizes, em 1929, e Itaquera, em 1999. Para os estudantes é oferecida toda a infraestrutura necessária para o desenvolvimento intelectual e social, formando profissionais em cursos de Graduação e Pós-Graduação (Lato Sensu). Na unidade Perdizes os cursos oferecidos são: Música, Licenciatura em Música, Artes Visuais, Licenciatura em Artes Plásticas e Moda. Já na unidade Itaquera são oferecidas graduações em Administração, Ciências Contábeis, Enfermagem, Fisioterapia, Medicina, Nutrição, Tecnologia em Radiologia e Tecnologia em Estética e Cosmética.


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2 Comentários

Comentários

  1. Muito bom! Factual, directo e descreve perfeitamente este assunto infelizmente tão actual e comum. Para as vítimas deste tipo de agressão, todo o meu apoio e consideração. Também passei pelo mesmo e andei 5 anos perdida num turbilhão emocional e mental que afectou toda a minha vida (saúde mental, vida familiar, auto-estima, auto-confiança, vida financeira, etc etc etc). Passei por uma grave depressão devido ao elevado nível de stress a que era sujeita e que me causava ataques de pânico constantes. Também tinha dificuldades em me relacionar com outras pessoas, alterações no sono e medo de sair de casa. Desenvolvi transtorno de ansiedade generalizada e transtorno obsessivo-compulsivo, sendo que estes dois problemas ainda estão em tratamento. Fui medicada e devidamente acompanhada e tive o apoio fantástico do meu marido que foi crucial na minha recuperação. Denunciei a situação e a mesma teve o seu término, apesar de algumas consequências ainda subsistirem. É preciso coragem para admitir o problema, pedir ajuda especializada e denunciar a situação. E também muita força interior para quem esteja a passar por isso e muito apoio por parte dos mais próximos, pois entra-se mesmo numa espiral de degradação mental, emocional e física da qual é muito difícil sair e toda a ajuda é fundamental. E, claro, fé. Acreditar que quando uma porta se fecha, é porque outra vai ser aberta e a paisagem vai ser linda. Aconteceu comigo, graças a Deus! E oxalá aconteça com todos que são vítimas de tão vil comportamento! E para quem fez isto comigo, um recado: voltei, sã e salva e... melhor que nunca!

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  2. O assédio moral no trabalho ainda é mais agravante se vier de quem tem responsabilidades na matéria no sentido de pugnar por tão medievo e covarde crime e, em vez disso, são os próprios prevaricadores, casos em que a punição devia ser severamente agravada e se não chegar a ser porque o dinheiro ainda vai pagando tudo, há que lembrar o velho ditado "cá se fazem, cá se paga".
    Para além do que eventualmente se possa passar nas empresas aqui e além fronteiras, seria também interessante saber-se o que a este respeito se passa dentro de alguns partidos políticos e sindicatos pois não é de admirar que possa acontecer o que mais um ditado reza, ou seja, "em casa de ferreiro, espeto de pau".
    Quem sabe este tema seja um mote para a rubrica "Há coisas do carago!".

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