Mais legumes e grãos, menos carne vermelha: mudar dieta pode adicionar até 13 anos a sua vida

DO TEXTO: Estima-se que os fatores de risco dietéticos levem a 11 milhões de mortes por ano

Estudo recente afirma que jovens adultos podem adicionar mais de uma década à expectativa de vida mudando sua alimentação, ao passar de uma dieta típica ocidental para uma ‘otimizada’


Estima-se que os fatores de risco dietéticos levem a 11 milhões de mortes por ano


Estudo recente afirma que jovens adultos podem adicionar mais de uma década à expectativa de vida mudando sua alimentação, ao passar de uma dieta típica ocidental para uma ‘otimizada’, que inclui mais legumes, grãos integrais e nozes e menos carne vermelha e processada.

São Paulo – Julho/2022 - Existe um meio de estimar o impacto da alimentação na nossa estimativa de vida? Um novo modelo, disponível como calculadora online, foi desenvolvido especialmente para estimar de que forma as mudanças na dieta trazem consequências para a expectativa de vida. Esse modelo foi utilizado em um estudo recente, publicado em fevereiro no PLOS Medicine , e os resultados até surpreendem: uma mudança alimentar sustentada pode proporcionar ganhos substanciais de saúde para pessoas de todas as idades, mas especificamente para jovens adicionar mais legumes e grãos e diminuir o consumo de carne vermelha pode resultar em até 13 anos de vida a mais. “A dieta típica ocidental tem um alto consumo de açúcar e carboidratos e conta com alimentos ultraprocessados em demasia. O estudo mostra que abandonar esse padrão alimentar, incluindo mais leguminosas, grãos integrais e nozes, e diminuindo o consumo de carne vermelha e processada, é o suficiente para adicionar alguns anos a nossa expectativa de vida. O trabalho também destaca que os ganhos são maiores quanto mais cedo as mudanças na dieta forem iniciadas na vida. No entanto, apesar de menores para os idosos, os ganhos previstos na expectativa de vida provenientes de tais mudanças na dieta ainda são substanciais”, explica a médica nutróloga Dra. Marcella Garcez*, diretora e professora da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN).

A alimentação é fundamental para a saúde e, globalmente, estima-se que os fatores de risco dietéticos levem a 11 milhões de mortes por ano, ao mesmo tempo em que tiram 255 milhões de anos de vida. No novo estudo, os pesquisadores usaram meta-análises e dados existentes do estudo Global Burden of Diseases para construir um modelo que permite a estimativa instantânea do efeito na expectativa de vida de uma série de mudanças na dieta. O modelo também está disponível como ferramenta online pública chamada calculadora Food4HealthyLife.

Para adultos jovens que seguem uma dieta típica ocidental, o modelo estima que uma mudança sustentada para o que seria uma dieta ‘ideal’ a partir dos 20 anos aumentaria a expectativa de vida em mais de uma década para as mulheres (10,7 anos em média) e homens (13,0 anos). “Os maiores ganhos em anos de expectativa de vida seriam obtidos comendo mais leguminosas, mais grãos integrais, e mais nozes, ao mesmo tempo em que se diminui o consumo de carne vermelha e processada. A mudança de uma dieta típica para a dieta otimizada aos 60 anos ainda pode aumentar a expectativa de vida em 8 anos para mulheres e 8,8 anos para homens; e os de 80 anos podem ganhar mais 3 anos”, explica a médica. A médica nutróloga explica que leguminosas são grãos que nascem de vagens, nossas principais fontes de proteínas vegetais, também ricas em fibras, como o feijão, grão de bico, lentilha, ervilha, soja e amendoim. “Os grãos integrais são cereais que possuem vários nutrientes, desde a fibras alimentares até aminoácidos, vitaminas, ômega-3, minerais, o que ajuda a proporcionar saciedade e a impedir os picos de açúcar no sangue. Arroz integral, aveia em flocos ou farelo, centeio, cevada, trigo integral são exemplos”, diz a médica.

A mudança de hábitos de vida, incluindo a alimentação que tem papel fundamental à manutenção das funções do organismo, pode trazer consequências importantes para alterações no DNA celular, chamadas de epigenéticas. “O DNA fornece o código para a produção de proteínas, que realizam muitas funções nas células do nosso corpo, e a epigenética se concentra na forma como os fatores ambientais, comportamentais e sociais podem modificar as funções e a herança celular. Uma alimentação mais inflamatória é capaz de impactar e acelerar o envelhecimento. Ao mesmo tempo, um padrão alimentar mais equilibrado, com inclusão de alimentos funcionais, como mostra o estudo, pode ajudar a acrescentar alguns anos à expectativa de vida”, diz a médica. “Um dos grandes focos dessa mudança é um maior fornecimento de nutrientes ao organismo, o que melhora o metabolismo, confere atividades hipoglicemiantes (de controle da glicemia), hipolipemiantes (no controle do colesterol), antioxidantes, anti-inflamatória e melhora a imunidade, ao mesmo tempo em que há um impacto significativo na redução da inflamação, que nem sempre é visível, mas pode ser considerada subclínica, atuar de maneira sistêmica e discreta, podendo perdurar de forma crônica e trazer danos ao organismo e, potencialmente, levar a problemas de saúde como artrite, doenças cardíacas, mal de Alzheimer, depressão e câncer”, explica a médica nutróloga.

Por fim, a Dra. Marcella argumenta que compreender o potencial relativo de saúde de diferentes grupos de alimentos pode permitir que as pessoas obtenham ganhos de saúde viáveis e significativos a partir do momento em que mudem o padrão alimentar. “A calculadora Food4HealthyLife pode ser uma ferramenta útil para médicos, formuladores de políticas e leigos entenderem o impacto na saúde das escolhas alimentares”, finaliza.

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*DRA. MARCELLA GARCEZ: Médica Nutróloga, Mestre em Ciências da Saúde pela Escola de Medicina da PUCPR, Diretora da Associação Brasileira de Nutrologia e Docente do Curso Nacional de Nutrologia da ABRAN. A médica é Membro da Câmara Técnica de Nutrologia do CRMPR, Coordenadora da Liga Acadêmica de Nutrologia do Paraná e Pesquisadora em Suplementos Alimentares no Serviço de Nutrologia do Hospital do Servidor Público de São Paulo. Além disso, é membro da Sociedade Brasileira de Medicina Estética e da Sociedade Brasileira para o Estudo do Envelhecimento. Instagram: @dra.marcellagarcez

 


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