Por que a infertilidade está aumentando mundialmente?

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Pode não parecer, mas 15% dos casais que tentam engravidar não conseguem por pelo menos um ano de tentativa, por esse motivo sofrem com a infertilidade. “Estudos já mostraram que a qualidade média do sêmen dos homens vem caindo nas últimas 4 décadas.

 

Estudos já apontaram que a qualidade do sêmen dos homens vem caindo nas últimas quatro décadas e o impacto da vida moderna pode estar diretamente relacionado a isso.


São Paulo – Julho/2021 - Pode não parecer, mas 15% dos casais que tentam engravidar não conseguem por pelo menos um ano de tentativa, por esse motivo sofrem com a infertilidade. “Estudos já mostraram que a qualidade média do sêmen dos homens vem caindo nas últimas 4 décadas. Mas há outras diversas circunstâncias envolvidas na dificuldade em engravidar, desde disfunções de ovulação, alterações nas trompas uterinas, no útero, endometriose até baixa qualidade do óvulo e adiamento da maternidade”, afirma o Dr Rodrigo Rosa, especialista em reprodução humana e diretor clínico da clínica Mater Prime, em São Paulo. “Também sabemos que há um impacto da vida moderna e dos maus hábitos de vida nas causas da infertilidade. O tabagismo, o álcool, a má alimentação, o sedentarismo e a obesidade também dificultam a concepção de um filho”, acrescenta o médico.


No caso dos homens, um estudo já demonstrou que, nas últimas quatro décadas, houve queda na concentração, motilidade e a piora da morfologia dos espermatozoides, o que traz um impacto direto na fecundação e desenvolvimento do embrião. “Em relação à mulher, há também uma queda do estoque de óvulos. Na verdade, ela nasce com todo o estoque de óvulos e esses óvulos vão sendo consumidos ao longo da vida reprodutiva, mas nas últimas décadas esse consumo está mais intenso e as mulheres tem menor tempo de vida reprodutiva. Junta-se a isso o fato de que houve uma mudança social importante no setor profissional e agora muitas delas adiam a gestação, o que piora a qualidade dos óvulos, que contam com mais erros genéticos, dificultando a gestação e aumentando o risco de abortos espontâneos”, explica o médico.


Nesses últimos anos, as grandes mudanças que impactaram na infertilidade se referem a uma maior exposição à poluição do ar. “Por exemplo, homens e mulheres que trabalham ao ar livre em cidades grandes tem maior dificuldade em engravidar (agentes de trânsito, taxistas, motoristas de ônibus, etc)”, diz o ginecologista. “O excesso de exposição a produtos químicos provenientes da poluição e de agrotóxicos pode induzir a diversos tipos de danos no DNA, levando então a mutações que inviabilizam o espermatozoide, contribuindo para a infertilidade masculina. E indivíduos que são portadores de alelos que comprometem os mecanismos de defesa, como o sistema antioxidante, são ainda mais suscetíveis a esses danos”, afirma o geneticista Dr. Marcelo Sady, Pós-Doutor em Genética e diretor geral Multigene. “Além disso, vários produtos químicos e seus metabólitos podem alterar a expressão de genes, inibindo-os ou ativando-os em excesso. É o caso do gene SHBG, que possui alelos que estimulam a expressão e, consequentemente, a maior produção de SHBG, o que pode levar a diminuição dos níveis de testosterona”, completa o geneticista.


Mas, segundo o Dr. Rodrigo da Rosa Filho, é o tabagismo e a dieta inadequada, independente do peso, que mais têm impactado a capacidade reprodutiva dos casais. “O cigarro possui milhares de componentes tóxicos como nicotina, alcatrão, zinco, níquel, chumbo, ácido cético, fenol, ácido fórmico e substâncias radioativas as quais afetam a fertilidade. Essas substâncias afetam desde a produção dos espermatozoides até a movimentação tubária (que faz com que o embrião percorra o caminho entre o ovário e o útero), a divisão celular, a formação do embrião e sua implantação”, diz o especialista. “Dados da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM) apontam que homens e mulheres fumantes têm três vezes mais chances de sofrerem de infertilidade quando comparados àqueles que não fumam”, afirma o médico


No caso da dieta, estudo da Boston University School of Medicine realizado com mulheres americanas e canadenses entre 21 e 45 anos apontou que aquelas que consumiam ao menos um copo de refrigerante por dia tinham 25% menos chances de engravidar. “Da mesma forma, a alimentação com consumo exagerado de açúcar foi apontada como ruim, pois atrapalha a atuação de hormônios requeridos no processo de reprodução e também está envolvido na inibição do gene regulador de estrogênio e testosterona”, diz o médico. “Além disso, o consumo excessivo de açúcar pode levar a um processo inflamatório com consequente risco de estresse oxidativo, o que pode lesar o DNA de células germinativas, aumentar a frequência de mutações prejudiciais e desequilibrar a expressão de genes que atuam na reprodução, assim comprometendo o processo reprodutivo”, afirma o Dr Marcelo Sady. E é importante destacar que isso acontece por conta do excesso de açúcar e independe do peso dos pacientes, que podem ser magros, mas ter uma má alimentação, o que prejudica a fertilidade.


No caso da obesidade, enquanto a feminina diminui em 60%, a masculina causa uma queda de até 50% na capacidade reprodutiva. “O excesso de gordura corpórea interfere na produção adequada de hormônios. Mais especificamente no homem, há um aquecimento maior da região genital, prejudicando a produção de espermatozoides”, afirma o médico. A qualidade do sêmen também piora para homens com dietas com alto teor de carne vermelha (mais de três vezes na semana). “Como contraponto, sabemos que o consumo de legumes, verduras, frutas e alimentos ricos em gordura saudáveis (salmão, atum e sardinha) aumentam a chance de gravidez em até 30%”, destaca o Dr Rodrigo da Rosa Filho.


Outro hábito que pode estar interferindo na fertilidade é dormir mal de maneira contínua. “O sono é fundamental para o bom funcionamento da hipófise, glândula presente no cérebro que é responsável pela produção de uma série de hormônios, inclusive daqueles responsáveis pela estimulação dos ovários e dos testículos. Logo, quando o período de repouso é curto ou de pouca qualidade, essa glândula não funciona da maneira como deveria, o que, consequentemente, interfere na fertilidade”, diz.


Por fim, o médico enfatiza que um estilo de vida saudável, adotando uma alimentação balanceada, dormindo bem e praticando exercícios físicos com regularidade, é a melhor maneira de manter o bom funcionamento do organismo e assim melhorar a fertilidade e as chances de gravidez. “No entanto, caso o casal perceba que está tendo problemas para engravidar, é importante que ambos consultem um médico especializado, já que apenas ele poderá realizar uma avaliação e identificar a real causa do problema, recomendando assim o tratamento adequado ou, quando a causa da infertilidade não pode ser revertida, métodos de reprodução assistida”, finaliza o Dr. Rodrigo da Rosa Filho.


FONTE: *DR. RODRIGO ROSA: Ginecologista obstetra especialista em Reprodução Humana e sócio-fundador e diretor clínico da clínica Mater Prime, em São Paulo. Membro da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA) e da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH), o médico é graduado pela Escola Paulista de Medicina – Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM). Especialista em reprodução humana, o médico é colaborador do livro “Atlas de Reprodução Humana” da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana.


*DR. MARCELO SADY: Pós-doutor em genética com foco em genética toxicológica e humana pela UNESP- Botucatu, o Dr. Marcelo Sady possui mais de 20 anos de experiência na área. Speaker, diretor Geral e Consultor Científico da Multigene, empresa especializada em análise genética e exames de genotipagem, o especialista é professor, orientador e palestrante. Autor de diversos artigos e trabalhos científicos publicados em periódicos especializados, o Dr. Marcelo Sady fez parte do Grupo de Pesquisa Toxigenômica e Nutrigenômica da FMB – Botucatu, além de coordenar e ministrar 19 cursos da Multigene nas áreas de genética toxicológica, genômica, biologia molecular, farmacogenômica e nutrigenômica.


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