O Presidente da República de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, visita o Brasil - Rio 2016

DO TEXTO:



Marcelo. Uma viagem ao Brasil marcada por afetos e memórias

Presença da família Rebelo de Sousa no Brasil remonta ao século XIX, com o avô António Joaquim. Seguiram-se os pais, o filho Nuno e os netos

A importância que o Presidente da República (PR) vai dar esta semana às comunidades portuguesas no Brasil parece traduzir uma maior proximidade da mais alta figura do Estado aos emigrantes, disse ontem o presidente do Conselho Mundial das Comunidades Portuguesas.

"Parece que [Marcelo Rebelo de Sousa] veio para fazer a diferença quanto à diáspora", depois de ter ido celebrar o 10 de Junho a França, realçou ao DN Flávio Martins, que também preside à Casa de Viseu no Rio de Janeiro e é diretor da Faculdade de Direito da cidade onde o PR assiste amanhã à cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos.

Também o embaixador Seixas da Costa, ex-representante de Portugal em Brasília, destacou a importância que Marcelo tem vindo a dar aos emigrantes: "Parece ser uma matriz que o Presidente tem tentado impor, no sentido de ligar mais as comunidades no exterior à vida portuguesa. Já o fez com a ida a Paris no 10 de Junho e é um gesto que tem a ver com uma certa filosofia que tenta implementar na relação entre os chefes do Estado e os portugueses."

Podendo ser cedo para fazer aquela afirmação com segurança, pois Marcelo Rebelo de Sousa é PR apenas há seis meses, o certo é que esta sua viagem oficial - para estar presente na cerimónia de abertura dos Jogos - faz sobressair as ligações que a sua família tem ao Brasil desde o século XIX, quando o avô António Joaquim (e o irmão Baltazar) para ali emigraram. Seguiram-se os pais e um irmão, após o 25 de Abril, e o filho Nuno (e os netos), que está em São Paulo e preside à Federação das Câmaras Portuguesas de Comércio no Brasil.

Filho mais velho de Marcelo Rebelo de Sousa vive no Brasil - Revista Flash/Sofia Martins Santos

Aliás, a memória da "costela minhota" da avó Joaquina de Marcelo, casada com António Joaquim e natural de Celorico de Basto, levou mesmo a Casa do Minho no Rio de Janeiro a querer "oferecer gratuitamente" um espetáculo de fado ao PE, contou ao DN o seu supervisor, Paulo Martins.

Seria "uma forma de enobrecer o momento" do encontro com a comunidade no Rio, que vai realizar-
-se no Palácio de São Clemente ao fim da tarde de hoje, mas não foi possível dado o "caráter formal" dessa receção, disse Paulo Martins.

"É sempre importante receber a figura mais importante de Portugal" no Rio, cidade onde há 27 casas regionais num conjunto de 101 instituições portuguesas (hospitais, colégios, obras de beneficiência ou clubes desportivos), realçou o responsável da Casa do Minho.


Flávio Martins, por outro lado, destacou os eventos culturais que serão outro ponto importante na agenda de Marcelo Rebelo de Sousa, tanto no Rio como em São Paulo e no Recife. Se mitiga a "desigualdade muito grande" que existe a esse nível entre os dois países, pois o Brasil "exporta muito mais" produtos culturais, também "divulga o Portugal contemporâneo" e, sendo Lisboa um "ponto de chegada" de muitos brasileiros que vão para outros pontos da Europa, "é ótimo divulgar o país para que eles visitem outras cidades além de Lisboa".

Para Belém, trata-se de reconhecer o "contributo inestimável para a ligação" bilateral que tem sido dado pelas associações de portugueses e lusodescendentes, várias "com mais de um século, com grande prestígio e que desde a sua fundação estiveram ligadas à cultura e solidariedade social". Desvalorizada é a quase ausência de encontros oficiais com as mais altas figuras do Estado brasileiro. Há "ligações fortíssimas do ponto de vista económico, social e cultural e estas componentes são o que determinam, em grande medida, a relevância muito especial das relações luso-brasileiras", enfatizou uma das fontes ao DN.

O embaixador Martins da Cruz, ex-chefe da diplomacia portuguesa, adiantou ao DN que Marcelo Rebelo de Sousa "faz bem em não ir a Brasília enquanto não estiver clarificada a questão político-constitucional" em torno da destituição de Dilma Roussef. "Creio que, desde que Michel Temer é o presidente de facto do Brasil, nenhum chefe de Estado ou de governo europeu ou do mundo ocidental visitou" a capital brasileira, acrescentou.

Agora, sublinhou Martins da Cruz, "o que há sempre de positivo no Brasil para uma visita do Chefe do Estado são as comunidades portuguesas" - e estas, acrescentou Flávio Martins, gostariam de ouvir o Presidente falar sobre a demora na regulamentação da lei que permite aos netos de portugueses no Brasil obter a nacionalidade portuguesa.

"Mais de 5000 pedidos por ano de aquisição da nacionalidade são diferidos no Rio", onde a comunidade ronda os 400 mil portugueses. "Este é um problema", a par da necessidade de "rejuvenescer" os quadros dirigentes das associações, concluiu o presidente da Casa de Viseu no Rio.

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