Patrimônio brasileiro

DO TEXTO:
O cantor Roberto Carlos antes mesmo de ganhar o título de Rei. fez seu primeiro show no Canecão em 1979.
Naquela época, o local tinha o melhor sistema de som e luz do País


De cervejaria à casa de shows, o Canecão tornou-se parte da história por ter servido de palco para alguns dos maiores nomes da música, no Brasil

A casa de espetáculos Canecão, no Rio de Janeiro, foi um caso bem-sucedido de empreendimento comercial que se torna parte da cultura brasileira. Criada em 1967 apenas como uma cervejaria, acabou se transformando na mais importante casa de shows do Brasil nos anos 1970 e 1980.

Seu epílogo foi escrito no ano passado, quando o Supremo Tribunal Federal decidiu que o terreno onde está instalado pertence de fato à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), encerrando também três décadas de intensa disputa jurídica.


Maysa e Tom Jobim foram alguns dos artistas que passaram pelo Canecão em shows memoráveis: arquivo preservado.


A universidade recebeu o lote da União, nos anos 1960, e afirmava que a casa não pagava aluguel. Apesar da vitória, a UFRJ não decidiu o que fará do lugar. Mas um passo importante já foi dado para a preservação da sua memória.

No princípio do mês, o empresário Mário Priolli, dono do Canecão, doou ao Instituto Ricardo Cravo Albin, no Rio, todo o acervo da casa. São 24 caixas de documentos, filmes e fitas sonoras, além de 15 mil fotografias que testemunham quatro décadas de história da MPB. Também foram gravadas em áudio algumas apresentações como a montagem do espetáculo "Cats", e a performance do pianista americano Bill Evans, pouco antes de sua morte, em 1980. Entre os documentos, há registros históricos como os cortes feitos pela censura no texto da peça "Deus lhe Pague", de Joracy Camargo, cuja adaptação feita por Millôr Fernandes, com composições de Edu Lobo e Vinicius de Moraes, foi apresentada em 1976.


Maysa


A casa se transformou numa referência para os espetáculos no Brasil no final dos anos 1960, quando foi reformada para receber o show da cantora Maysa, que retornava de uma temporada nos Estados Unidos.

Com o maior palco e o melhor sistema de luz e som da época, passou a permitir a apresentação de grandes espetáculos musicais. "Foi uma mudança de paradigma", diz o pesquisador Ricardo Cravo Albin.

Atrações

Roberto Carlos fez seu primeiro grande show no Canecão, em 1970. Pelo mesmo palco também passaram diversas vezes Elis Regina, Vinicius de Moraes, Tom Jobim, Chico Buarque, Clara Nunes, Gonzaguinha e atrações estrangeiras como o balé francês do Moulin Rouge.

"Até os anos 1980, quem não pisasse no Canecão não era considerado artista consagrado", diz Cravo Albin. De olho nesse status, o cantor Elymar Santos chegou a alugar o espaço para se apresentar em 1986, gastando uma fortuna, mas alcançando certa projeção em torno de seu nome. O acervo da casa, ainda guardado em caixas, não está completamente catalogado. A intenção do instituto é, após uma identificação completa do conjunto, produzir discos e livros. "Uma investigação neste material pode revelar tesouros que a gente nem imagina", diz Cravo Albin.

HISTÓRIA
Espetáculos importantes marcaram casa de shows

O Canecão chegou a ser reformado só para receber a cantora Maysa. Bailarinas do Moulin Rouge fizeram topless e causaram polêmica no Rio de Janeiro, em 1972

O show da cantora Maysa, em 1969, marcou o início dos grandes espetáculos musicais no país. Para recebê-lo, o Canecão passou por uma reforma instalando projetores de cinema no palco e um sistema de som e luz bastante avançado para a época.
 
O primeiro grande show de Roberto Carlos aconteceu em 1970, no Canecão, com cenário elaborado e acompanhado de orquestra. O espetáculo foi produzido pela dupla Luís Carlos Miele e Ronaldo Bôscoli. Em 1971, um show reunindo musica popular e erudita foi noticiado até no "New York Times".

A apresentação unia Chico Buarque e a Orquestra Sinfônica Brasileira, regida por Isaac Karabtchevsky. Com direção de Manoel Carlos, o show também teve participação de Jacques Klein, MPB-4, Quarteto em Cy e a bateria da escola de samba Padre Miguel. Pioneiras na arte do topless, as bailarinas francesas do Moulin Rouge subiram ao palco do Canecão em 1972, causando um certo desconforto na sociedade brasileira da época.

Chico Buarque. escritor, cantor e compositor, fez show no Canecão ao lado da
Orquestra Sinfónica Brasileira


Em homenagem ao poeta Antônio Maria e à cantora Dolores Duran, o espetáculo "Brasileiro, Profissão Esperança" foi encenado, em 1974, pelo ator Paulo Gracindo e a cantora Clara Nunes. O show, com direção de Bibi Ferreira, ficou oito meses em cartaz. Grande sucesso nos final dos anos 1970, o show que reuniu Tom Jobim, Miúcha, Toquinho e Vinícius de Moraes ficou seis meses em cartaz. O espetáculo, dirigido por Aloysio de Oliveira, deu origem ao disco "Tom, Vinícius, Toquinho & Miúcha".

Caderno3
16-05-2011

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1 Comentários

Comentários

  1. Olá maninho!

    Uma pena uma casa de espetáculos com tanta história ser fechado.Famoso Canecão!
    Já pensou a riqueza de material, que aquelas caixas devem ter?

    Você foi mais esperto do que eu,porque eu também li a reportagem...

    Parabéns!

    Beijos,
    Carmen Augusta

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