Fernão contra a morte: milagres e escapadas

Fernão desafiou a morte por 21 anos em naufrágios, doenças e emboscadas — um mestre da sobrevivência nos mares do Oriente.
Ilustração de Fernão contra a Morte representando cenas de seus milagres e escapadas heroicas.

Naufrágios, doenças e emboscadas — um português com sorte de gato

"Parece que a morte me tem como inimiga, pois sempre me esquiva."
Fernão Mendes Pinto, Peregrinação

NOTAS DE BORDO
Local: Roteiros marítimos do Oriente
Evento-chave: Naufrágios, doenças e emboscadas
Ano estimado: 1537–1558
Ação: Fugir da morte repetidas vezes
Estado: Milagre e engenho em constante luta

"Tão perto da imortalidade andava Fernão, 
que até a morte se perdia no caminho para o alcançar."
Vímara Porto

Por: Armindo Guimarães


Se alguém merecia ser batizado de "o homem com sete vidas", esse era Fernão. Ao longo da sua odisseia de 21 anos, escapou por pouco a naufrágios que transformaram navios em cemitérios flutuantes, sobreviveu a doenças quase fatais, e fugiu a emboscadas onde poucos teriam a mesma sorte.

A morte rondava Fernão como um cão faminto — sempre por perto, sempre à espera. Naufrágios, emboscadas, febres tropicais, prisões injustas, quedas, golpes, venenos… tudo tentou levá-lo. Mas ele, como quem dança com o abismo, escapava. Às vezes por sorte. Às vezes por fé. Muitas vezes por pura teimosia.

Num episódio, foi dado como morto após um ataque pirata. O corpo, atirado ao mar, foi recolhido por pescadores que o confundiram com um espírito. Noutra ocasião, sobreviveu a uma febre que dizimou metade da tripulação — e acordou com um corvo pousado no peito. Em Goa, foi envenenado por um rival e sobreviveu apenas porque vomitou a tempo. Em Martavão, escapou por entre relâmpagos e lama. Em Malaca, por entre intrigas e favores.

"A morte não me quer," escreveu. "Ou talvez queira, mas não sabe como lidar com quem já morreu por dentro e continua a andar."

Fernão não era imortal. Mas parecia. E cada sobrevivência tornava-se mais do que uma vitória — era uma confirmação de que o seu destino ainda não se cumprira.

A sua astúcia e perseverança tornam-se lendárias. E se a sorte ajudava, a coragem e o engenho faziam o resto.

Fernão não era só um aventureiro — era um sobrevivente em estado puro.

CURIOSIDADE HISTÓRICA:

Na época, a expectativa de vida para marinheiros em longas viagens era baixíssima — mas Fernão desafiou as estatísticas. Talvez porque a morte também tenha tido medo dele.

DIÁRIO DE FERNÃO
Excerto imaginário inspirado na Peregrinação


Já perdi a conta às vezes que a morte me veio buscar e voltou de mãos vazias.

Num naufrágio, fiquei a boiar agarrado a uma tábua que parecia cruz de penitência.

Nas febres, ardi como brasa e ainda assim despertei, como carvão que não se apaga.

Nas emboscadas, corri mais rápido do que as setas, tropeçando no medo mas não no fim.

A cada queda, a cada veneno, a cada cadeia, pensei que a viagem terminava — mas era sempre o começo de outra.

Se Deus me guarda, é porque ainda não terminei a história que Ele me ordenou viver.

E se é a sorte que me salva, então direi que a sorte também cansa, mas ainda não se cansou de mim.

NOTA DE BORDO FINAL

Este é o décimo terceiro relato — Fernão contra a morte: milagres e escapadas, em que o acaso o salva mais vezes do que a razão.

Segue-se o episódio 14 — Regresso a Portugal: sem glória, só histórias, quando o peregrino volta pobre, mas carregado de mundos dentro de si.

NOTA FINAL DO ESCRIBA
 
Gostou da Viagem?

Deixe o seu comentário, partilhe este episódio e convide outros navegadores curiosos a embarcarem nesta aventura. 

EPISÓDIOS PUBLICADOS 
13 - Fernão contra a morte: milagres e escapadas (Você Está Aqui)
 
A SEGUIR

14 – Regresso a Portugal: sem glória, só histórias 

Enviar um comentário

Comentários