Fernão pisa o solo nipónico e vive o fascínio da cultura japonesa ancestral
"E era tanta a honestidade daquela gente que não consentiam mentira…" — Fernão Mendes Pinto, Peregrinação
NOTAS DE BORDO Local: Japão (Tanegashima e Kyushu) Evento-chave: Primeiro contacto com a sociedade japonesa e com a missão de Francisco Xavier Ano estimado: 1542-52 Ação: Espanto cultural, choque religioso, conflito latente, Missões diplomáticas e convívio com nobres e monges Estado: Fascinado, entre o choque cultural e o respeito. Peregrino dividido entre maravilha e inquietação
"Quando Fernão chegou ao Japão, não viu bárbaros. Viu mestres.
E aprendeu a calar para compreender." Vímara Porto
Por: Armindo Guimarães
Depois de sobreviver a corsários, naufrágios e escravidões, Fernão chega ao Japão — um mundo completamente novo, envolto em névoas de mistério, onde as espadas eram mais afiadas que as palavras e o silêncio dizia mais que mil tratados.
Tudo o espanta: os templos majestosos, os trajes, os costumes, a disciplina dos samurais, a reverência aos deuses locais.
Foi um dos primeiros portugueses (se não o primeiro) a pôr os pés naquele arquipélago então desconhecido dos europeus. O que encontrou não foi só uma terra exótica, mas uma civilização altamente sofisticada, com regras próprias, templos imponentes e uma classe guerreira que misturava violência e honra com quase perfeição coreográfica.
Lá, Fernão foi intérprete, negociador, espião, testemunha — e até peça política. Participou de audiências com senhores locais, observou cerimónias xintoístas e ouviu a música dos sinos budistas ressoar entre as montanhas. Sentiu-se pequeno diante da espiritualidade serena e da disciplina do povo nipónico.
A Fé no Fim do Mundo
Entre rumores, ouve falar de uma pequena comunidade que venera o “Deus dos portugueses”.
Guiado por um pescador, chega a uma aldeia escondida entre colinas, onde camponeses rezam em silêncio diante de cruzes esculpidas em madeira local.
No meio deles, surge um jesuíta europeu — talvez Francisco Xavier ou um dos seus sucessores.
O missionário está magro, de olhar ardente, e fala japonês com fluência surpreendente.
Explica a Fernão que a fé ali é uma semente frágil: aceite por alguns, perseguida por outros.
Fernão pergunta: “E vale a pena?”
O jesuíta sorri e responde:
“O tempo faz tudo valer a pena.”
O Conflito
Um grupo de samurais irrompe na aldeia. Há tensão.
O daimyō local tolera os cristãos, mas outros senhores não.
Fernão vê homens e mulheres esconderem imagens, apagarem velas às pressas, rezarem em silêncio.
Um jovem convertido é levado pelos guerreiros — não por crime, mas por desafiar o costume dos seus antepassados.
A fé cristã florescia em segredo, tão frágil como uma chama acesa ao vento.
Reflexão Final
Ao partir, uma criança japonesa oferece a Fernão um pequeno crucifixo de madeira.
Ele guarda-o junto ao seu diário, como símbolo de um mundo onde o espírito europeu encontrou eco — mas não domínio.
Mas nem tudo foi harmonia: o cristianismo começava a fazer sombra às crenças locais, e Fernão, como intermediário entre padres jesuítas e senhores feudais, viu de perto o nascimento de conflitos que décadas depois explodiriam em perseguições religiosas.
Ainda assim, essa passagem foi, segundo ele, uma das mais marcantes da sua vida. Um confronto entre Ocidente e Oriente, não com espadas, mas com ideias.
CURIOSIDADE HISTÓRICA:
Fernão Mendes Pinto pode ter sido o primeiro europeu a chegar ao Japão, antes mesmo de três portugueses (um deles possivelmente António Mota) chegarem à ilha de Tanegashima, trazendo armas de fogo (arcabuzes), num episódio que marca o início do contacto europeu com o Japão (1543) e antes de Francisco Xavier, missionário jesuíta, chegar a Kagoshima, no sul do Japão, acompanhado de dois companheiros jesuítas e um tradutor japonês (1549).
Embora a polémica persista, o que é certo é que Fernão, através da sua Peregrinação dá-nos um retrato raro e vivido do Japão pré-modernização — sem samurais romantizados, mas com homens reais.
NOTA DE BORDO FINAL
Este é o sétimo relato da viagem de Fernão — No Japão, entre fascínio e choque cultural, Fernão testemunha uma civilização sofisticada, o florescer secreto do cristianismo e os primeiros conflitos entre fé e tradição.
Segue-se o episódio 8: Entre padres e promessas: o drama da fé — Entre jesuítas, Fernão percebe que nem todas as cruzes valem o peso de serem carregadas.
DIÁRIO DE FERNÃO Excerto imaginário inspirado na Peregrinação
Entre templos dourados e casas de papel, achei uma cruz em madeira pobre.
Vi homens armados temerem a fé de camponeses descalços.
E compreendi que o império dos céus não se mede em fortalezas, mas em lágrimas escondidas e orações murmuradas.
O Japão mostrou-me que a fé, como o vento, entra por frestas invisíveis — e nem o mais duro samurai a pode deter.
NOTA FINAL DO ESCRIBA Gostou da Viagem?
Deixe o seu comentário, partilhe este episódio e convide outros navegadores curiosos a embarcarem nesta aventura.
Fernão pisa o solo nipónico e vive o fascínio da cultura japonesa ancestral
— Fernão Mendes Pinto, Peregrinação
NOTAS DE BORDO
Local: Japão (Tanegashima e Kyushu)
Evento-chave: Primeiro contacto com a sociedade japonesa e com a missão de Francisco Xavier
Ano estimado: 1542-52
Ação: Espanto cultural, choque religioso, conflito latente, Missões diplomáticas e convívio com nobres e monges
Estado: Fascinado, entre o choque cultural e o respeito. Peregrino dividido entre maravilha e inquietação
Vímara Porto
Por: Armindo Guimarães
Tudo o espanta: os templos majestosos, os trajes, os costumes, a disciplina dos samurais, a reverência aos deuses locais.
Foi um dos primeiros portugueses (se não o primeiro) a pôr os pés naquele arquipélago então desconhecido dos europeus. O que encontrou não foi só uma terra exótica, mas uma civilização altamente sofisticada, com regras próprias, templos imponentes e uma classe guerreira que misturava violência e honra com quase perfeição coreográfica.
Lá, Fernão foi intérprete, negociador, espião, testemunha — e até peça política. Participou de audiências com senhores locais, observou cerimónias xintoístas e ouviu a música dos sinos budistas ressoar entre as montanhas. Sentiu-se pequeno diante da espiritualidade serena e da disciplina do povo nipónico.
A Fé no Fim do Mundo
Entre rumores, ouve falar de uma pequena comunidade que venera o “Deus dos portugueses”.
Guiado por um pescador, chega a uma aldeia escondida entre colinas, onde camponeses rezam em silêncio diante de cruzes esculpidas em madeira local.
No meio deles, surge um jesuíta europeu — talvez Francisco Xavier ou um dos seus sucessores.
O missionário está magro, de olhar ardente, e fala japonês com fluência surpreendente.
Explica a Fernão que a fé ali é uma semente frágil: aceite por alguns, perseguida por outros.
Fernão pergunta: “E vale a pena?”
O jesuíta sorri e responde:
“O tempo faz tudo valer a pena.”
O Conflito
Um grupo de samurais irrompe na aldeia. Há tensão.
O daimyō local tolera os cristãos, mas outros senhores não.
Fernão vê homens e mulheres esconderem imagens, apagarem velas às pressas, rezarem em silêncio.
Um jovem convertido é levado pelos guerreiros — não por crime, mas por desafiar o costume dos seus antepassados.
A fé cristã florescia em segredo, tão frágil como uma chama acesa ao vento.
Reflexão Final
Ao partir, uma criança japonesa oferece a Fernão um pequeno crucifixo de madeira.
Ele guarda-o junto ao seu diário, como símbolo de um mundo onde o espírito europeu encontrou eco — mas não domínio.
Mas nem tudo foi harmonia: o cristianismo começava a fazer sombra às crenças locais, e Fernão, como intermediário entre padres jesuítas e senhores feudais, viu de perto o nascimento de conflitos que décadas depois explodiriam em perseguições religiosas.
Ainda assim, essa passagem foi, segundo ele, uma das mais marcantes da sua vida. Um confronto entre Ocidente e Oriente, não com espadas, mas com ideias.
CURIOSIDADE HISTÓRICA:
Fernão Mendes Pinto pode ter sido o primeiro europeu a chegar ao Japão, antes mesmo de três portugueses (um deles possivelmente António Mota) chegarem à ilha de Tanegashima, trazendo armas de fogo (arcabuzes), num episódio que marca o início do contacto europeu com o Japão (1543) e antes de Francisco Xavier, missionário jesuíta, chegar a Kagoshima, no sul do Japão, acompanhado de dois companheiros jesuítas e um tradutor japonês (1549).
Embora a polémica persista, o que é certo é que Fernão, através da sua Peregrinação dá-nos um retrato raro e vivido do Japão pré-modernização — sem samurais romantizados, mas com homens reais.
NOTA DE BORDO FINAL
Este é o sétimo relato da viagem de Fernão — No Japão, entre fascínio e choque cultural, Fernão testemunha uma civilização sofisticada, o florescer secreto do cristianismo e os primeiros conflitos entre fé e tradição.
Segue-se o episódio 8: Entre padres e promessas: o drama da fé — Entre jesuítas, Fernão percebe que nem todas as cruzes valem o peso de serem carregadas.
DIÁRIO DE FERNÃO
Excerto imaginário inspirado na Peregrinação
Entre templos dourados e casas de papel, achei uma cruz em madeira pobre.
Vi homens armados temerem a fé de camponeses descalços.
E compreendi que o império dos céus não se mede em fortalezas, mas em lágrimas escondidas e orações murmuradas.
O Japão mostrou-me que a fé, como o vento, entra por frestas invisíveis — e nem o mais duro samurai a pode deter.
NOTA FINAL DO ESCRIBA
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EPISÓDIOS PUBLICADOS
0 – As Viagens de Fernão: o mundo visto por um português
A SEGUIR
8 – Entre padres e promessas: o drama da fé
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