Estudo mostra que até as pequenas pedras nos rins devem ser retiradas

DO TEXTO: Deixar pequenas pedras secundárias nos rins para trás após uma cirurgia causa problemas mais tarde

Representação de um rim contendo pedras.

Deixar pequenas pedras secundárias nos rins para trás após uma cirurgia causa problemas mais tarde

São Paulo – outubro 2022 - Quando os cirurgiões removem os cálculos renais (as famosas pedras nos rins) dos pacientes, eles normalmente deixam para trás pequenas pedras que parecem não estar causando problemas. Um novo estudo controlado randomizado, publicado no meio de agosto no New England Journal of Medicine, mostrou, no entanto, que deixar esses cálculos assintomáticos para trás aumenta significativamente o risco de recaída de um paciente nos cinco anos seguintes. “Geralmente, cálculos com menos de 6mm de diâmetro que não são o alvo primário de um procedimento não são removidos, mas monitorados porque os cálculos ‘secundários’ têm altas taxas de passagem bem-sucedida se se moverem para o ureter. Esse estudo mostrou que é importante também retirar essas pequenas pedras”, explica a médica nefrologista Dra. Caroline Reigada*, especialista em Medicina Intensiva pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira.

Antes deste estudo, as opiniões clínicas eram bastante confusas sobre se algumas dessas pedras deveriam ser tratadas. A maioria dos médicos decidiria, com base no tamanho da pedra, se ela atingiu a barra para o tratamento e, se não, muitas vezes ignorariam as pequenas pedras. Os pesquisadores estudaram os 75 pacientes que foram tratados em várias instituições durante um período de 2015 a 2021. Cerca de metade dos pacientes teve apenas seu cálculo primário grande tratado, enquanto os outros tiveram cálculos primários e secundários removidos. “A recidiva foi definida como a necessidade de ir ao pronto-socorro ou realizar um procedimento adicional devido a uma recorrência ou se uma tomografia computadorizada de acompanhamento mostrasse que os cálculos secundários cresceram. A remoção dos cálculos secundários reduziu a taxa de recidiva em 82%, descobriram os pesquisadores, levando os autores a recomendar que os cálculos menores não devem ser deixados para trás”, diz a médica nefrologista.

Os resultados do estudo apoiam a ideia da remoção de pequenos cálculos renais assintomáticos no momento da cirurgia de um cálculo maior, mas não entraram no mérito da indicação do procedimento em casos apenas de pequenas pedras. “Apesar dos resultados, mais estudos são necessários para determinar se o tratamento apenas de pequenas pedras é justificado, à medida que a tecnologia melhora e os custos e riscos da intervenção diminuem”, acrescenta. Os autores observaram que, embora a remoção de cálculos menores possa aumentar a duração e o custo do procedimento, esses custos provavelmente seriam menores do que os associados à repetição do procedimento ou à visita ao pronto-socorro do paciente. “Alguns pacientes do estudo visitaram o departamento de emergência várias vezes e, em seguida, precisaram de cirurgia, segundo o relatório”, explica a médica. “De qualquer forma, o estudo nos mostra que a remoção dos pequenos cálculos assintomáticos é benéfica quando viável e em pacientes que são candidatos a ter todos os cálculos tratados em um procedimento. Deixar as pedras para trás pode causar problemas no futuro", diz a médica.

Por fim, a médica nefrologista enfatiza que atualmente existem várias opções de tratamento para retirada de pedra, como:

Litotripsia Extracorpórea por Ondas de Choque (LECO): quebra as pedras por ondas de choque aplicadas sobre a pele;
Ureterolitotripsia: as ondas de choque são aplicadas diretamente no cálculo através de um endoscópio (um tipo de cateter com uma câmera na ponta) inserido pelo orifício da uretra até o ureter;
Nefrolitotripsia percutânea: pequena cirurgia realizada através de um corte de 1 cm na pele da região lombar e introdução de um endoscópio para localizar o cálculo. “A pedra é quebrada e os fragmentos são retirados com auxílio de pinças”, destaca a médica;
Cirurgia aberta: pouco realizada nos dias de hoje, geralmente é feita nos cálculos coraliformes (pedras de tamanho grande que são formadas pela presença de alguns tipos de bactérias na urina).
                                                                
                                                                  🏥🏥🏥

*DRA. CAROLINE REIGADA: Médica nefrologista formada pela Faculdade de Medicina da Universidade de Santo Amaro, com residência médica na Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e residência em Nefrologia no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Especialista em Medicina Intensiva pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira, a médica participa periodicamente de cursos e congressos, além de ter publicado uma série de trabalhos científicos premiados. Participou do curso “The Brigham Renal Board Review Course” em Harvard. Integra o corpo clínico de hospitais como São Luiz, Beneficência Portuguesa de São Paulo e Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Instagram: @dracaroline.reigada.nefro

 


POSTS RELACIONADOS:
Enviar um comentário

Comentários