Escola de Artes expõe obras de Ettore Marangoni

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Lawrence Marangoni falou sobre toda a trajetória do avô, que se dedicou à arte desde criança. Crédito da foto: Erick Pinheiro

Um misto de pintor, historiador, inventor. Um verdadeiro curioso e inquieto era o artista Ettore Marangoni (1907-1992), que tem cerca de 20 obras expostas na Escola de Cultura e Artes que leva seu nome, localizada no Jardim Sandra. Os quadros, que pertencem ao acervo da família e foram gentilmente disponibilizados pelo seu neto Lawrence Marangoni à Secretaria de Cultura e Turismo (Secultur), permanecerão expostos na unidade até o dia 11 de janeiro de 2019.

Segundo o neto do artista, entre as obras, os visitantes podem conferir “Campos”, que foi a primeira tela pintada por Marangoni, em 1936, e “Samba no morro”, datada de 1948, que foi premiada no Rio de Janeiro e também em um concurso realizado pela Prefeitura de Sorocaba no mesmo ano. “Até pouco tempo não tínhamos conhecimento, mas olhando com atenção uma pequena chapa, vi que esse quadro foi premiado em duas situações”, conta Lawrence.

O secretário de Cultura e Turismo, Werinton Kermes, destaca que a exposição é um grande momento para Sorocaba. “Muitas das obras nunca foram expostas ao público”, destaca o titular da pasta. Kermes chama a atenção para a importância de Marangoni para a história da região e conta que através dos quadros o artista passou a ser uma referência nas artes visuais não só para Sorocaba e Votorantim, mas para todo o Brasil.

O público pode conferir a exposição de segunda a sexta-feira, das 9h às 17h, até o dia 11 de janeiro de 2019. A Escola Pública de Cultura e Artes Ettore Marangoni está instalada em uma antiga unidade educacional do Sesi, localizada na rua Ana Cândida Corrêa Marins, 35, no Jardim Sandra.

Neto fala sobre os traços de genialidade do avô

Ettore Marangoni foi um artista plástico suíço, que chegou ao Brasil aos 8 anos de idade. Lawrence conta que o avô tinha muitos irmãos e que seus pais faleceram pouco tempo depois de chegar a Votorantim. “Ainda muito criança ele assumiu a responsabilidade pela família”, conta. 

Aos nove anos, ele se empregou na Fábrica Votorantim para limpar caldeiras, já que era pequeno e conseguia fazer esse serviço. “Seguravam ele pelas pernas e colocavam dentro da caldeira para limpar e ele saía dali com o rosto coberto de fuligem”, relata o neto, que desfrutou da companhia do avô durante toda a infância e adolescência.

“Samba no morro”, datada de 1948, foi premiada no Rio de Janeiro e também pela Prefeitura de Sorocaba. 
Crédito da foto: Erick Pinheiro

Com traços de genialidade mesmo com pouco estudo, Marangoni, criança, inventou um buraco na porta para ver quem chegava antes mesmo de existir olho mágico. “Ele também fez, com oito ou nove anos, um projetor de ferro fundido que está exposto no Museu Municipal de Votorantim. Era muito talentoso e curioso”, diz Lawrence. Ele também foi técnico em fotogravura na Cia. Nacional de Estamparia, a Cianê.

Marangoni começou a pintar aos 12 anos e, antes de finalizar seus quadros, realizava longos estudos. Em 1951 produziu a tela que o consagrou definitivamente: “Fundação de Sorocaba”. O quadro, destaca o neto, foi muito divulgado e conhecido. Através dessa obra também ficaram fixadas as feições de Baltazar Fernandes, após longos estudos do artista em parceria com o historiador Aluísio de Almeida.

A riqueza de detalhes encontrada em algumas das obras de Marangoni fez com que alguns quadros fossem usados nas faculdades de Medicina, segundo o neto. O artista era curioso e por conhecer muitas pessoas na cidade, fez contato com a Pontifícia Universidade Católica (PUC) e tinha acesso a esqueletos e partes de corpos. O neto conta que eram armazenados no porão da casa de Marangoni, que funcionava como ateliê. 

“Tem até uma história engraçada. Uma vez um ladrão tentou entrar no local, mas ao ver os esqueletos e pedaços de membros humanos, se assustou e saiu correndo. Até se machucou”, relata.

Marangoni era considerado um artista versátil porque não aplicava seu talento em apenas uma forma de arte, mas em várias, como esculturas em diversos materiais, artes plásticas com todas as técnicas e uso de engenharia na produção de aparelhos. Além das telas, Marangoni também fazia as molduras em madeira com equipamentos desenvolvidos por ele, no porão de casa.

Conforme Lawrence, a arte de seu avô possui um diferencial histórico considerável, pois são obras que retrataram a história de uma das regiões mais importantes do interior paulista, com prestígio no desenvolvimento do Estado e sua contribuição para a história do Brasil. 

Através dos quadros é possível traçar uma linha de tempo imaginária, que vai desde a exploração das regiões pelos tropeiros, feiras de muares, início da industrialização, registros da ferrovia sorocabana e das primeiras fundições de ferro do País. Outro detalhe à parte é o registro das primeiras capelas da história do Brasil, dentro da região de Sorocaba e Votorantim.


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