Em ritmo de aventura com Roberto Carlos

DO TEXTO:

Nosso colunista, especialista em trilhas sonoras, mergulha no universo da Jovem Guarda Por Frederico Pellachin O final de semana vai ser uma brasa com a exibição aqui no VIVA de mais um biscoito-fino da trilogia cinematográfica que marcou a carreira do astro-rei Roberto Carlos e a juventude de uma geração.

 "Roberto Carlos em Ritmo de Aventura" chegou às telonas no início de 1968, na esteira do sucesso do álbum homônimo lançado no ano anterior. Dirigido por Roberto Farias a partir de um argumento assinado pelo cronista Paulo Mendes Campos, o filme foi inspirado em um modelo vitorioso inaugurado pelos Beatles no ano de 1965 ("A Hard Day's Night", aqui no Brasil traduzido como "Os Reis do Iê-Iê-Iê"), em sintonia com a explosão mundial do pop-rock.


A história é uma bobagem deliciosa, beirando o nonsense. Perseguido por uns bandidões exóticos, que mais parecem transplantados de um filme qualquer do James Bond, Roberto Carlos inicia uma fuga frenética e espetacular pelas paisagens do Rio de Janeiro, o que não deixa de ser uma estratégia eficiente para potencializar a trilha sonora em detrimento da narrativa. E a magia do filme está justamente aí, neste casamento de interesses, numa época em que a indústria cultural brasileira se agigantava, ao ponto de transformar ícones musicais da juventude em mitos populares multi-midiáticos.


Na segunda metade da década de 60, a Jovem Guarda vivia o seu auge e Roberto Carlos era o grande porta-voz do movimento. Vendia milhares de discos, comandava um programa de sucesso na TV Record, era capa e assunto corriqueiro nas revistas ilustradas, recebia centenas de cartas por semana, tinha uma agenda de shows disputadíssima e já flertava com o mercado internacional. Era até dono de uma rede de postos de gasolina. A imagem do "bom moço", em harmonia com a do "rebelde", fez dele um fenômeno singular na história da cultura pop nacional.

             

Aos 24 anos, Roberto Carlos estrelou o filme que será exibido nesta sexta-feira, dia 13, às 21h30, aqui no VIVA (horário alternativo: domingo, dia 15, às 19h30). Curiosamente, o cinema já havia cortejado o cantor, dois anos antes da estreia de "Roberto Carlos em Ritmo de Aventura". O diretor "cult" Luiz Sergio Person chegou a filmar algumas cenas de "SSS contra a Jovem Guarda", com roteiro de Jô Soares e Jean-Claude Bernardet, em 1966. O filme, porém, nunca foi concluído, em função dos inúmeros compromissos do Rei com os palcos e com a televisão. (Assista abaixo a algumas imagens documentais deste filme, conservadas pela filha do diretor, Marina Person).


Finalmente, em julho de 1967, foram iniciadas as gravações de "Roberto Carlos em Ritmo de Aventura". Orçado em meio bilhão de cruzeiros velhos, foi o primeiro filme de uma trilogia, que ainda incluiria os títulos "Roberto Carlos a 300 Quilômetros por Hora" (1969) e "Roberto Carlos e o Diamante Cor-de-Rosa" (1971). No embalo de uma trilha sonora que exaltava a velocidade ("Por Isso Corro Demais", "Eu Sou Terrível"), este filme é lembrado hoje menos pela sua história do que por aquelas incríveis cenas musicais marcadas por voos razantes de um helicóptero endiabrado e por vertiginosas perseguições de carro. Imperdível!

 A trilha sonora é um capítulo à parte. Além de servir de inspiração para o filme, reuniu importantes hits da Jovem Guarda, num período em que o movimento já sinalizava um certo esgotamento. Na verdade, podemos considerar este um disco de transição na carreira do Rei, pois indica uma evolução na estrutura dos arranjos e a incorporação de uma variedade de instrumentos, algo que os Beatles já vinham experimentando na época. A faixa "Quando", por exemplo, bebe muito na fonte melódica de "Taxman", primeira faixa do álbum "Revolver" (1966). Sem contar que a utilização mais frequente dos metais aponta para o início do namoro do cantor com a soul music norte-americana. Isto se tornaria mais evidente no seu próximo trabalho, "O Inimitável" (1968), que marca a sua saída da Jovem Guarda e o início de uma escalada rumo à apoteose romântica da década seguinte.

in-http://canalviva.globo.com
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