'Meus Lados B' explora repertório menos conhecido de Erasmo Carlos

DO TEXTO:
O cantor Erasmo Carlos em sua casa na Barra da Tijuca, no Rio


LUIZ FERNANDO VIANNA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Há mais coisas entre o rock e a balada romântica do que supõem muitos fãs de Erasmo Carlos. Por seus mais de 50 anos de carreira e 74 de vida passaram o samba, o baião e letras com toques sociais e existenciais.
É o que mostra "Meus Lados B", DVD (com CD na mesma caixa) que reúne itens menos conhecidos do seu repertório. Foi gravado no Tom Jazz em janeiro e terá shows neste sábado (19) e domingo (20) no Sesc Pinheiros.

No encarte, ele escreve que nunca foi tão feliz no palco: "Essas músicas representam muito para mim. Estou revivendo a emoção de cantá-las. Como não tocaram no rádio, muita gente não conhece".
Algumas até fizeram sucesso, mas não costumam entrar em shows por não serem rock, caso do samba "De Noite na Cama", que Caetano compôs para ele quando estava exilado em Londres, em 1971.

"O samba foi importantíssimo na minha vida. Fui criado na Tijuca [Zona Norte do Rio], saía em bloco de Carnaval tocando surdo. Depois veio a bossa nova, eu adorei, mas não tive acesso ao pessoal, não recebi incentivo. Meus incentivos foram todos no rock, que surgiu na mesma época", conta.

Ele lembra já ter gravado até "Aquarela do Brasil", mas só fez sucesso no samba com "Coqueiro Verde", em 1970. Voltaria a fazer, em grau menor, com "Cachaça Mecânica" em 1973. Sobre a música, que está em "Meus Lados B", recaiu a suspeita de ser plágio de "Construção", o que Chico Buarque negou.
Em "Mané João" (1972) o que transparece é a influência da tradição nordestina. "Ouvi muito Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro. Meu maestro, José Lourenço, me disse outro dia que minhas frases melódicas são de baião, não de música americana."

As fusões entre gêneros musicais são um aspecto da obra de Erasmo que, se é menos conhecido pelo público, é muito admirado pelos artistas mais jovens, como Marcelo Camelo e Marcelo Jeneci.
"Isso é bonito, me deixa muito honrado. E olha que, quando eu surgi na música, tinha gente que me dava só três meses de vida", diz.

A longevidade permite a ele agora cantar em público, enfim, "Maria Joana", reverência à maconha que a Censura proibiu, em 1971, que se tocasse no rádio.
E Erasmo ainda mostra canções feitas para ele, como "Queremos Saber" (por Gilberto Gil) e "Dois Animais na Selva Suja da Rua" (por Taiguara). "Paralelas" também lhe foi entregue para lançar, mas Belchior, num gesto eticamente discutível, resolveu dar também para Vanusa, a quem coube fazer sucesso.
"São coisas da vida", desconversa Erasmo, que gravou o DVD apenas oito meses após seu filho Alexandre morrer em função de um acidente de moto. "Faria com ele ou sem ele. Sou um cara muito determinado nos sonhos."

Sempre se renovando, ele está escrevendo um livro de poemas e cuida pessoalmente (com "ajudinha" de sua equipe) de suas contas em Facebook, Twitter e Instagram.

No Rock in Rio, no próximo sábado (26), Erasmo dividirá com o Ultraje a Rigor o palco Sunset. Ele esteve no primeiro festival, em 1985.
"Foi quando eu descobri que havia as tribos e que os metaleiros, por exemplo, não gostavam dos outros rocks. Eles acreditavam piamente que o Ozzy Osbourne comia morcego no palco", diz o cantor, que se orgulha de ter encontrado uma linha brasileira de rock. "Mas o tapete vermelho aqui é sempre para os estrangeiros. Quando estão recolhendo o tapete, chega o rock brasileiro."

MEUS LADOS B
ARTISTA Erasmo Carlos
GRAVADORA Coqueiro Verde
QUANTO R$ 29,90

SHOWS
QUANDO sáb., às 21h, e dom., às 18h
ONDE Sesc Pinheiros, r. Paes Leme, 195, tel. (11) 3095-9400
QUANTO R$ 15 a R$ 50

Foto:Zanone Fraissat/Folhapress

in:http://www1.folha.uol.com.br
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