DO TEXTO:
Roberto Carlos é minha prioridade. Sempre foi, desde que comecei a trabalhar com ele. E tenho certeza que será até o resto dos meus dias.Eduardo Lages, Maestro da orquestra de Roberto Carlos
Leonardo Rodrigues
Do UOL, em São Paulo
O pacato Eduardo Lages é parado nas ruas com frequência. Ganha
beijos, os mais carinhosos abraços e tem sempre de se dedicar longas sessões de
fotos com os fãs. O detalhe: a maioria nem sequer sabe o nome do ídolo. Essa é
a rotina do "maestro do rei". "Tenho consciência de que eles me
adoram apenas porque sou maestro do Roberto Carlos. Mas isso não me incomoda. Pelo
contrário, tenho orgulho", diz ao UOL o músico carioca, parceiro de Roberto
há 37 anos.
Atualmente com a agenda mais enxuta, Lages vem se voltando a projetos pessoais. O mais recente deles é o show "O Maestro do Rei", em que comemora com sua orquestra 50 anos de carreira. A turnê começou este mês em São Paulo e, entre um e outro compromisso de Roberto Carlos, passará pelas principais capitais brasileiras. No palco, ele toca sucessos pop e dá ares de musical a um repertório que praticamente todo brasileiro sabe de cor –nem que seja apenas um refrão.
Fluminense de Niterói, Lages deu início à parceria famosa em 1977, a pedido do próprio cantor, que havia botado na cabeça a ideia de se apresentar apenas com grandes orquestras. Na época, o maestro conduzia a banda do programa "Globo de Ouro", da TV Globo, onde Roberto costumava reinar.
Na conversa com o UOL, Eduardo Lages refuta as histórias excêntricas de Roberto Carlos, descrito como um sujeito normal, embora cheio de manias. Também fala da fidelidade canina, fruto de muito profissionalismo e respeito. Sobre a atual fase musical, diz que Roberto anda bem mais "relaxado" e "aberto" e que a velha alma roqueira ainda dita o gosto musical do cantor.
Atualmente com a agenda mais enxuta, Lages vem se voltando a projetos pessoais. O mais recente deles é o show "O Maestro do Rei", em que comemora com sua orquestra 50 anos de carreira. A turnê começou este mês em São Paulo e, entre um e outro compromisso de Roberto Carlos, passará pelas principais capitais brasileiras. No palco, ele toca sucessos pop e dá ares de musical a um repertório que praticamente todo brasileiro sabe de cor –nem que seja apenas um refrão.
Fluminense de Niterói, Lages deu início à parceria famosa em 1977, a pedido do próprio cantor, que havia botado na cabeça a ideia de se apresentar apenas com grandes orquestras. Na época, o maestro conduzia a banda do programa "Globo de Ouro", da TV Globo, onde Roberto costumava reinar.
Na conversa com o UOL, Eduardo Lages refuta as histórias excêntricas de Roberto Carlos, descrito como um sujeito normal, embora cheio de manias. Também fala da fidelidade canina, fruto de muito profissionalismo e respeito. Sobre a atual fase musical, diz que Roberto anda bem mais "relaxado" e "aberto" e que a velha alma roqueira ainda dita o gosto musical do cantor.
Leia abaixo os principais trechos da
entrevista.
Como
surgiu a ideia do musical?
Nos últimos dois anos, eu vinha pensando
nisto. Tinha vontade de fazer um show de orquestra, que em princípio não seria
musical. Mas eu queria que tivesse muita participação da plateia junto da
orquestra. Que os músicos fossem participativos também. E queria tocar músicas
da minha geração, músicas novas, sem muita preocupação com a performance.
Convidamos o Ulysses Cruz para dirigir. E
ele veio com a ideia de que aquilo fosse meio que um musical também. Com
bastante teatralidade. A gente conta com sete atores no palco, além da
orquestra, de 20 músicos. É um musical, mas sem um formato rígido. Há muito
improviso.
Como conheceu Roberto Carlos?
Começamos a trabalhar em 77. Já o conhecia
antes, quando eu trabalhava na TV Globo, no programa "Globo de Ouro".
Eu era maestro da banda e fazia os arranjos. E, por ser um programa de parada
de sucesso, toda semana o Roberto estava lá, em primeiro, segundo ou terceiro
lugar.
Até que fui convidado por ele. Ele havia
decidido que, a partir daquela época, iria fazer todos os shows com grande
orquestra. E ele achou que eu tinha o perfil certo. Estamos aí até hoje, graças
a Deus. Já fizemos uns 3.000 shows.
Por
que a parceria deu tão certo?
Eu sempre fui muito profissional e dedicado
no que fiz. E eu me dediquei muito ao Roberto. Com o tempo, a gente foi se
transformando em amigo. Nós nos respeitamos muito. E ele me incentiva muito com
meus projetos paralelos.
Ele não era muito do meu estilo de música
quando começamos a trabalhar. Mas posso dizer que ele tem sido muito importante
na formação da minha personalidade profissional. Aprendi muito com ele. Não só
musicalmente, mas principalmente na forma de administrar a carreira.
Ele
é conhecido pela personalidade detalhista e controladora. Isso já te trouxe
algum problema?
Não. Na verdade, ele é muito detalhista,
sim. E, no começo, tive de me adaptar ao estilo dele. Mas hoje as coisas nem
são tão assim. O tempo faz com que as pessoas fiquem mais
"relaxadas", no bom sentido. Hoje ele relaxa mais em relação a tudo.
Está mais aberto a coisas novas. E isso facilita muito meu relacionamento
profissional com ele.
Você
nunca teve receio de arriscar, de mudar um arranjo, por exemplo?
Não. Nunca tive problema. Ele confia muito
em mim. Inclusive, já gravei umas 50 músicas do Roberto nos meus CDs solo, que
venho lançando há dez anos. E, normalmente, é muito difícil fazê-lo liberar as
próprias músicas. Isso se deve muito à ligação profissional que a gente tem, a
confiança no meu trabalho. E ao respeito que eu tenho em relação a ele.
Ele sabe que tenho consciência de que
preciso fazer muito bem feito. Quem está ali não é Eduardo Lages, é o
"maestro do Roberto Carlos".
Já
ouvimos algumas histórias malucas, como a de que o Roberto leva o próprio
assento de privada quando se apresenta em seu cruzeiro anual. Conhece alguma
coisa assim?
Na verdade, não. E essa pra mim é nova
(risos). Acho até muito engraçada. É coisa de brasileiro mesmo, que tem essa
criatividade. Um absurdo (risos). O Roberto tem as manias dele, sim, como todo
mundo tem, mas não há esses absurdos, de levar tampa da privada ou coisas
assim. Inventam muita coisa. Roberto é um cara normal.
Acha
que o Roberto arrisca pouco no repertório? Não poderia cantar menos músicas
românticas e mais coisas da Jovem Guarda e da fase soul?
Não sei. Acho que, numa determinada época,
toda pessoa se acomoda numa coisa mais comportada. Ele não tem mais aquele
instinto rebelde da Jovem Guarda. Ele se acomodou. Mas o Roberto ainda gosta
muito de rock, muito de Elvis.
Nos ensaios, tem sempre uma hora que ele
vem e pede: "Vamos colocar uma música da Jovem Guarda, vamos colocar uma
coisa mais alegre". E muitas vezes isso não acontece por culpa minha,
porque fico preso a coisas da minha época para frente. Quando começamos a
tocar, ele já estava em outra fase, já era o "rei". Mas ele me cobra
muito para tocarmos rock. Ele gosta disso.
Você
nunca recebeu convites tentadores para tocar com outros músicos?
Muitos. E já aceitei vários. Mas só quando
são amigos mais próximos. Como foi o caso do Fábio Júnior, Zezé Di Camargo,
Daniel. Mas vou apenas para acompanhar algum show, eventualmente. De forma
alguma é uma opção, uma alternativa ao Roberto Carlos. Roberto Carlos é minha prioridade.
Sempre foi, desde que comecei a trabalhar com ele. E tenho certeza que será até
o resto dos meus dias.
Por
causa dessa relação, você acaba sendo muito assediado, não?
É muito legal, mas tenho consciência de que
eles me adoram porque eu sou maestro do Roberto Carlos. Muitas pessoas me
chamam de "maestro do rei". Sou parado nas ruas. Querem me abraçar,
me beijar, cumprimentar, tirar fotos. Quando acabam, perguntam: "mas qual
é seu nome mesmo?". Mas isso não me incomoda, não. Pelo contrário. Eu
tenho orgulho. Afinal, sou o maestro do maior artista popular do Brasil de
todos os tempos.
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Comentários
Há um ano atrás!!!...
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