O Baú do Carlos Alves (40)

DO TEXTO:



Por: Carlos Alberto Alves
jornalistaalves@bol.com.br

O CONHECIDO DÉ ARANHA

(Publicado no jornal A União em 30 de junho de 2010)

Ao longo de todos estes anos, já passaram por Portugal centenas e centenas de jogadores brasileiros, ora de uma forma, ora de outra, quer dizer divididos pelos respectivos escalões. Antes a primeira, segunda e terceira divisões. Agora a Liga Sagres, Liga Vitalis, II e III divisões. Antes, o Benfica não admitia no seu plantel nenhum estrangeiro, isto porque, na altura, recorria ao filão das ex-províncias ultramarinas, mais concretamente Moçambique e Angola. Actualmente, no grémio da Luz, face a uma política de contratações em que já há luz verde para os estrangeiros, militam muitos brasileiros. Mudaram-se os tempos, mudaram-se as vontades, como sói dizer-se.

Lembro-me de muitos brasileiros que vieram para o Sporting, Porto e Vitória de Guimarães, para, apenas, falar destes três clubes, os que mais procuravam reforços no Brasil. Tantos por aí fora... Lúcio Soares, Aníbal (goleiro), Faustino, Fernando, Vadinho, Osvaldo Silva, Jaburu, Paulinho Cascavel, Caio Júnior (hoje um dos mais conhecidos treinadores brasileiros a trabalhar na Arábia Saudita), Casagrande (hoje comentador da Globo) e muitos mais. Alguns, inclusive, ficaram no nosso país, citando, como paradigma a uma vida sustentada (entenda-se por negócios de restaurantes) na capital, o “zagueiro” (central na linguagem portuguesa) Carlos Mozer. Isto, claro, para não falarmos da passagem de treinadores, como Otto Glória, Yustrik, Marinho Peres, Paulo Autuori, Carlos Alberto Silva, etc., etc.

Ora, de jogadores, curiosamente encontramos num bar do Rio de Janeiro um dos mais velozes que passaram pelo Sporting (salvo erro em 1974), o extremo Dé Aranha, hoje a treinar clubes das divisões secundárias do Estado do Rio de Janeiro. Dé que representou o Clube de Regatas Vasco da Gama.

Conversámos com Dé e quando lhe disse que era natural dos Açores, concretamente da ilha Terceira, o ex-jogador do Sporting lembrou-se logo do Lusitânia, isto porque, em 1974, quando o Lusitânia foi disputar às Antas um jogo com o Futebol Clube do Porto para os dezasseis-avos da Taça de Portugal (2-0), a meio da semana, por influência do nosso conterrâneo e grande amigo, Mário Goulart Lino, realizou um jogo-treino com o Sporting que, bem vistas as coisas, foi bastante útil com vista ao referido encontro das Antas. Dé, sempre brincalhão, comentou que, no Lusitânia, havia um jogador que, actuando como lateral-direito, lhe pediu para ele (Dé) correr menos. Penso que, lateral-direito naquela altura, era Duarte Berbereia ou então Zeca Soares. Aqui fica-me a dúvida.

Continuando com a nossa interessante cavaqueira, expliquei ao Dé Aranha o momento difícil que o Lusitânia atravessou (e ainda atravessa, sejamos realistas), na iminência de fechar a porta. Foi uma morte anunciada, mas que não se concretizou. Por outro lado, passei-lhe a informação de que, alguns desses jogadores que defrontou naquele jogo-treino em Alvalade, fazem parte do plantel dos veteranos do clube que, inclusive, já estiveram no Brasil, em 2002 ou 2003. O Dé, sem usar velocidade na conversação (velocidade era dentro do campo), achou muito interessante o facto desse grupo se manter e disputar jogos no exterior, como foi o caso do Canadá (que acompanhamos) e Brasil.

Também veio à - conversa o jogo Brasil-Portugal. Eu apostei num empate e o Dé numa vitória do Brasil. Bebemos uma cerveja e brindamos pela continuidade das duas selecções na Copa do Mundo. Ele ainda me perguntou se eu estava dividido? Respondi: jamais deixarei de ser português. Como segunda pátria, sim senhor, visto a camisola do Brasil. E por aqui ficámos.

NOTA FINAL – Eu acabei por acertar no desfecho. Estava mesmo convicto de que iríamos jogar num sistema hermético, explorando o contra-ataque. Justificamos pelo que fizemos no segundo-tempo. Não perder, para mim foi um motivo de satisfação. Desde que estou aqui no Brasil, ganhamos dois (2-1 e 2-0), perdemos um (o tal de 6-2) e empatamos agora. Portanto, ainda continuamos na frente. Mas há um jogo que os brasileiros não esquecem, está atravessado na garganta: os tais 3-1, em 1966, no Mundial da Inglaterra. E também tínhamos um treinador brasileiro (Otto Glória).

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