"Não sou um verdadeiro artista", diz Woody Allen

DO TEXTO:
François Guillot/France Presse


Woody Allen, que abriu esta edição do Festival de Cannes com o filme "Meia-Noite em Paris", fala a jornalistas ontem




Ao contrário do ano passado, quando fez de sua entrevista um show de tiradas, Woody Allen, desta vez, pisou na Croisette contido, com uma leve tosse a atravessar sua fala de voz baixa.





Ao chegar à sala em que jornalistas do mundo todo o aguardavam para uma conferência de imprensa, o cineasta tinha a cabeça baixa e seus ombros pareciam ainda mais encolhidos.

Claro que, humorista da palavra que é, soltou uma ou outra piada. Mas seu estado de espírito era reflexivo.



"Nunca me senti um artista", afirmou, quando questionado sobre seu lugar no cinema. "Tenho algum talento, me considero um realizador de sorte, mas artistas mesmo são Kurosawa, Bergman e Fellini."

Foi esse mesmo tom de modéstia, para não dizer de autodepreciação, que Allen usou para explicar a realização de "Meia-Noite em Paris", que abriu ontem à noite, em sessão de gala, o Festival de Cannes.



TÍTULO SONORO



Allen contou ter feito o filme a partir de uma frase que lhe veio à cabeça. "Pensei logo nesse título, que daria um filme passado numa noite, mas não tinha ideia de que história contar, do que ia acontecer nessa noite."

"Poderia ter saído um filme muito ruim", disse. Definitivamente, não foi o que aconteceu.



Depois de passar por Londres ("Match Point") e Barcelona ("Vicky Cristina Barcelona"), o cineasta levou sua câmera a Paris. De novo, conseguiu incorporar a cidade a seu projeto autoral.

O filme começa com tomadas dos principais cartões-postais parisienses. Tudo é lindo. Mas eis que começa a chover, e um casal inicia uma discussão num diálogo típico de Allen.



Gil (Owen Wilson), romancista frustrado apaixonado pela Paris dos anos 1920, acha linda a chuva que encharca a Torre Eiffel e as pessoas. Sua namorada (Rachel McAdams) considera tudo aquilo ridículo.

E é assim, entre duas épocas do mundo e duas visões distintas da vida, que o filme se divide.



Allen faz Gil entrar num carro e, sem efeito especial algum, o coloca para viajar no tempo. Atirado aos salões que tanto idealizava, ele vai encontrar Matisse, Picasso, Zelda e Scott Fitzgerald, Dalí e quem mais você imaginar.

"Foi fácil para mim escrever sobre essas pessoas porque o fiz de uma maneira satírica", disse Allen. "Eles não são personagens profundos. Estão ali para entreter."



A Paris de Allen é a cidade construída por lembranças afetivas, filmes e livros. "Não me importava saber o quão real era aquilo", ressaltou o diretor que, da melancolia e da risada, tirou uma espécie de conto de fadas.



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ANA PAULA SOUSA

ENVIADA ESPECIAL A CANNES



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1 Comentários

Comentários

  1. Olá, maninha!
    Estou chateado com ele.
    Tivemos os dois um trabalho do carago com a realização e produção do filme "A vingança da mulher dos tremoços", baseado no célebre livro com o mesmo nome escrito por mim e por ele e ao que se vê, a coisa não anda. Até já tinhamos arranjado uma actriz brasuca para fazer de mulher dos tremoços. Rodamos algumas cenas em terras de Vera Cruz e afinal o filme nunca mais sai da cepa torta, tudo porque o gajo quer-se meter em tudo ao mesmo tempo e isso nunca dá resultado.
    Ó maninha ainda bem que colocaste aqui este post pois fizeste-me lembrar que é hora de lhe telefonar pra saber como é.
    Ele diz que não é um verdadeiro artista e tem razão, pois aqui em Portugal temos o Herman José que diz que "o verdadeiro artista é aquele que se esforça" er o Allen não se está a esforçar nada com o nosso filme "A vingança da mulher dos tremoços".
    Beijinhos do maninho.

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