As emoções empresariais de Roberto Carlos

DO TEXTO:

Em 15 anos, o cantor construiu um império de negócios diversificados e associou sua marca a cruzeiros marítimos, condomínios residenciais e comerciais, panetones, touros, vacas e cartões de crédito. E isso é só o começo


Por Eliane Sobral












Um dos maiores cantores e compositores da música popular brasileira, recordista de vendas de discos no Brasil e na América Latina, o Rei Roberto Carlos, quem diria, tem pelo menos uma frustração profissional: ele queria ser caminhoneiro ou arquiteto.

A primeira opção parece mesmo um sonho distante. Difícil imaginar o Rei por aí, na boleia de um caminhão, dirigindo pelas estradas, carregando e descarregando mercadorias. 

No comando: shows de Roberto Carlos durante cruzeiros marítimos
rendem R$ 12 milhões ao ano, segundo estimativas


Já o segundo sonho – embora não literalmente – está mais próximo de se concretizar com o lançamento, logo após o Carnaval, de um megaempreendimento imobiliário na Vila Olímpia, uma das áreas mais nobres da São Paulo.

Trata-se do primeiro projeto da incorporadora Emoções, que tem como sócios, além de Roberto Carlos, os empresários Ubirajara Guimarães, seu amigo há mais de 30 anos, Jorge “Dody” Sirena, manager e sócio do cantor em outros negócios, e o irmão de Dody, Jaime Sirena.

A Emoções é dona de 50% no Edifício Horizonte, que, assim como todos os negócios que envolvem o cantor, teve seu nome inspirado em um de seus grandes sucessos (para quem é fã do Rei, nesta parte é só cantarolar: “além do horizonte deve ter algum lugar bonito pra viver em paz”.) Os outros 50% pertencem às incorporadoras AAM e Toledo Ferrari.

Cartão real: Leonel Andrade, presidente da Credcard, 
lança o cartão de crédito de Roberto Carlos,
no dia 19 de abril, quando o cantor completa 70 anos de idade


O investimento previsto é de R$ 200 milhões na obra de duas torres – uma comercial de 15 andares e outra residencial com 39 andares. O Valor Global de Vendas (VGV) do empreendimento é calculado pelos empresários em R$ 300 milhões, o que significa dizer um retorno de 50% sobre o valor investido, quando a média do mercado é de 15% a 20%, segundo especialistas do setor.

O próximo passo da incorporadora Emoções (“quando eu estou aqui, eu vivo este momento lindo”) é a construção de um condomínio residencial em Indaiatuba, no interior de São Paulo, e um conjunto imobiliário em Santa Catarina, que envolve a construção de um hotel, um condomínio residencial e uma marina – com capacidade para barcos de pequeno, médio e grande portes.

Embora não adiantem maiores detalhes desses investimentos, os sócios já deixam escapar duas informações. A primeira: o nome de cada rua, tanto do condomínio de Indaiatuba, quanto em Santa Catarina, será o título de uma das canções de Roberto Carlos. A outra é o tamanho do investimento catarinense. “Estamos falando de algo em torno de R$ 150 milhões”, diz Ubirajara Guimarães. 

Amigos de fé: Ubirajara Guimarães (em pé), parceiro há mais de 30 anos do cantor,
e Dody Sirena, empresário e radar de novas oportunidades de negócios  


A incursão de Roberto Carlos pelo ramo imobiliário é apenas a parte mais visível do artista no papel de empreendedor. Nos últimos 15 anos, o Rei construiu um império empresarial, com negócios nos setores financeiro, agrícola e de turismo, além do imobiliário, que devem movimentar cerca de R$ 350 milhões só em 2011.

Esse valor não leva em conta o que o cantor ganha com shows, venda de CDs ou de direitos autorais, um dado guardado a sete chaves, mas que deve ultrapassar os R$ 100 milhões por ano, segundo estimativas do mercado.

Há sete anos, por exemplo, ele lançou a Amizade Empreendimentos (você meu amigo de fé, meu irmão camarada), uma empresa especializada na organização, operação e cobrança de cruzeiros marítimos.

O principal produto da empresa, que conta com 30 funcionários, é o Projeto Emoções Em Alto-Mar, como foram batizados os cruzeiros que o Rei realiza pelo menos uma vez por ano. No início, os cruzeiros aconteciam no navio Costa Vitória, com capacidade para 2,2 mil passageiros. 

 


O negócio deu tão certo que foi preciso encontrar uma embarcação maior, o Costa Serena, cuja capacidade é para 3,5 mil pessoas. Só nesse negócio, estima-se que sejam movimentados R$ 12 milhões, em uma viagem de quatro dias entre Santos e Rio de Janeiro – embaladas pelas músicas de Roberto Carlos e por um show em cada uma das quatro noites de viagem.

Os pacotes para o cruzeiro de 2011, que aconteceu em fevereiro, foram todos vendidos. A temporada de 2012 já comercializou 30% das vagas, com preços que variam entre US$ 1,5 mil e US$ 4 mil.

Em junho, o cruzeiro musical, que já contabilizou nestes sete anos o embarque de mais de 20 mil passageiros, estreará no turismo internacional com uma viagem a Jerusalém, onde Roberto Carlos fará uma apresentação. Os valores ainda não estão fechados, mas partem de US$ 1,5 mil – sem contar o transporte aéreo.

O Roberto Carlos empresário também tem uma faceta de caubói. Em 2005, ele pagou R$ 768 mil pelo touro King of Africa, da AgroZurita, empresa de agronegócios de Ivan Zurita, presidente da Nestlé.

Um ano depois, o investimento começou a produzir retorno. Em leilão promovido por Zurita, foram vendidas 30 doses de sêmen do touro, que renderam R$ 90 mil ao cantor. Não é só.

Em 2006 a Emoções Agronegócios já havia pago R$ 192 mil por uma prenhez da vaca Lady Siska – prenhez é o nome que se dá ao aluguel do ventre da vaca. Cobiçada pelos pecuaristas brasileiros e considerada a mais completa matriz da raça simental no mundo, Lady Siska acabou nas mãos do cantor e de seu sócio Dody Sirena, que pagaram R$ 1,6 milhão pelo animal – um recorde para a raça.

Para completar os investimentos de Roberto Carlos no ramo, ele tem ainda uma participação em outra vaca, batizada de Emotion, que vive no Texas, segundo Dody Sirena.

Sirena merece um capítulo à parte na construção da dupla carreira de empresário e expoente do show business nacional. Gaúcho de Caxias do Sul, 50 anos idade, pode até não ser um nome muito conhecido do grande público, mas foi ele quem colocou o Brasil na rota dos megaeventos com estrelas internacionais, como a banda Queen, capitaneada por Freddie Mercury, que lotou o estádio do Morumbi, na década de 1980.

É a ele também que os fãs devem agradecer pelas apresentações no Brasil de nomes como Michael Jackson, Stevie Wonder, Bob Dylan, Ray Charles, e Paul McCartney. O encontro entre Sirena e Roberto Carlos aconteceu em 1992. Na época, Sirena procurou o staff do Rei para uma série de shows no Sul do País.

Nunca mais se separaram. Àquela altura, Sirena e sua empresa de promoções, a DC Set, já eram conhecidos e respeitados no meio, mas ele está longe de ser considerado um mero agenciador dos shows do cantor. “Geralmente, sou o radar de possibilidades de investimentos para ele”, disse Sirena à DINHEIRO. “É minha obrigação como sócio e empresário.”

Um executivo de uma das empresas com quem Roberto Carlos tem negócios, confirma papel de Sirena como guardião da imagem do Rei. “Ele realmente zela para que a imagem de Roberto Carlos não se banalize”, diz o executivo.

“É um nome extremamente competente.” Com a experiência de quem partiu do zero e uma boa dose de arrojo – no início de sua carreira, Sirena abriu um escritório em Los Angeles sem falar uma palavra em inglês – o empresário gaúcho vislumbra o futuro. “Vamos investir R$ 1 bilhão em cinco anos nos empreendimentos imobiliários e espalharemos os condomínios por todo o Brasil”, diz Sirena. Outra de suas ideias é explorar a “marca” Roberto Carlos na área de alimentos e bebidas.

“Sucos com valor agregado, batizados com nomes de músicas, serão os primeiros”, diz Sirena. Segundo ele, a Nestlé ou sua controlada Garoto são candidatas naturais a fabricantes dos produtos alimentícios Roberto Carlos.

Atualmente, o cantor é patrocinado pela subsidiária da empresa suíça, que lhe paga cerca de R$ 12 milhões por ano, de acordo com estimativas do mercado. Ele concede à Nestlé o direito de estampar sua marca em material de divulgação dos shows do cantor, cotas de ingressos em apresentações abertas ao público e ainda a possibilidade de eventos fechados para convidados da empresa – como clientes e fornecedores.

Cada show de Roberto Carlos custa cerca de R$ 3 milhões. Além disso, a Nestlé recorre à sua imagem para promoções exclusivas – como o panetone Roberto Carlos, lançado no Natal de 2009, ou o sorteio feito pela empresa de 50 calhambeques, em comemoração aos meio século de carreira do artista. Para comemorar os 90 anos da Nestlé no Brasil, a campanha publicitária é embalada pela música Emoções – que costumam abrir os shows de Roberto Carlos.

“É a primeira vez que ele deu autorização para o uso comercial desta música”, afirma Izael Sinem, diretor de marketing da Nestlé. E qual é o retorno obtido pela Nestlé ao investir pesadamente no cantor? “É impressionante a força que ele tem entre os diferentes públicos, dos mais jovens ao pessoal da terceira idade, de todas as classes sociais”, diz Sinem.

Do vasto repertório musical do cantor, o hit que promete ressuscitar nos próximos dias é a antiga Eu quero apenas (eu quero ter um milhão de amigos e bem mais forte poder cantar), que gravou em 1974.

Esse será o tema da campanha que anuncia a entrada do rei no setor financeiro. Em parceria com a Credicard, ele lançará, no dia 19 de abril, quando completa 70 anos de idade, o cartão Roberto Carlos. Segundo Leonel Andrade, presidente da Credicard, a expectativa é comercializar 250 mil cartões no primeiro ano do produto.

“Mas a meta é chegar a um milhão de clientes em cinco anos”, afirma Andrade. Sinal de que a classe média emergente está no radar do cantor e empresário. Além de crédito, o cartão de Roberto Carlos terá também a opção de cartão pré-pago.

Os clientes também poderão acumular pontos que serão trocados por produtos do cantor. “Temos outras alianças, mas é a primeira vez, nestes 40 anos da empresa, que imprimimos a imagem de uma celebridade no nosso produto”, diz Andrade.

“Tenho certeza de que este será o melhor negócio da minha carreira profissional.” O contrato entre o cantor e a operadora de cartão de crédito tem duração de dez anos – numa clara aposta de que o cantor continuará reinando aos 80 anos de idade.

Quem também aposta na longevidade de Roberto Carlos é seu anjo da guarda financeiro, para quem, na verdade, o lado o empresarial do cantor está apenas engatinhando. “Há 30 anos não se ganhava dinheiro nem no show biz nem no mundo do esporte”, diz Sirena.

“As coisas mudaram e, no nosso caso, há um mundo de possibilidades ainda não exploradas.” Parafraseando a música mais conhecida de Roberto Carlos: “Se lucrei ou se perdi, o importante é que emoções eu senti.”

Colaboraram: Érica Polo, Rute Araújo e Carlos Eduardo Valim

Cafona, mas e daí?

É sábado, 12 de fevereiro. Fãs se amontoam nas áreas abertas do navio Costa Serena, ancorado no porto de Santos. No píer, uma movimentação digna do tapete vermelho na entrega do Oscar, com jornalistas e fotógrafos registrando a chegada de Roberto Carlos ao navio que parte para quatro dias de viagem até o Rio de Janeiro.

O Rei chega dirigindo um Audi azul conversível. Comoção geral. Repórteres se espremem para obter uma declaração, fãs acenam em busca da atenção do protagonista da mais longeva história de sucesso da música brasileira e mundial.

Vida longa ao rei: o brinde encerra a última apresentação de Roberto Carlos
a bordo do Costa Serena. No ano que vem tem mais


O interior do Costa Serena impressiona: pelas dimensões e pelo gosto duvidoso da decoração – muito vermelho, dourado, néon e luzes. Há 3.500 passageiros a bordo. Famílias inteiras, casais de meia-idade comemorando bodas, grupos de amigas cuja faixa etária vai dos 40 aos 80.

Todos sonhando com quatro dias inesquecíveis embalados ao som das músicas românticas de Roberto Carlos. E elas estão por toda a parte: no hall dos elevadores, nas cabines, nas piscinas. Só dá ele.

À noite, o Rei fará o primeiro de uma série de quatro shows. “Não acredito que estou aqui”, diz Maria do Carmo, uma das 25 vendedoras da Nestlé premiadas para a viagem inesquecível.

A moda no interior do navio é qualquer calça, qualquer bermuda e qualquer saia. Desde que acompanhados da camiseta com o nome Roberto Carlos, é claro. Quem assistiu o primeiro show do cantor não tem outro assunto no dia seguinte.

Nos imensos restaurantes do navio, os fãs mais exaltados não sabem se falam da apresentação ou se avançam nos pratos sempre bem fornidos e sortidos à frente. Não é preciso recorrer às estatísticas para constatar que sim, a classe C chegou ao turismo. Nem é preciso pesquisar teorias sociológicas para perceber como estão felizes.

Roberto Carlos não costuma conceder entrevistas – ele se recusou a falar para esta reportagem. Mas realiza uma coletiva de imprensa uma vez por ano a bordo do navio. É simpático, carismático e afável.

Trata todos por “bicho”, gíria típica da década de 1970. Mas quem se importa? Fala de um CD com músicas inéditas, que talvez lance ainda neste ano. Desconversa sobre um eventual romance com a cantora Paula Fernandes – uma bela morena de 28 anos de idade – e fala de sua estreia na avenida. Ele é o enredo da Beija-Flor.

Noite de terça-feira e Roberto Carlos fará a última apresentação do cruzeiro, que está prestes a terminar. Senhoras com seus melhores vestidos, moças com suas produções mais caprichadas.

Parecia festa de casamento. As luzes se apagam e a orquestra que acompanha o cantor há 30 anos toca Como é grande o meu amor por você, com um coro de 1,5 mil vozes. Roberto Carlos entra para cantar a indefectível Emoções. As fãs suspiram, cantam, elogiam, aplaudem. Se emocionam.

No meio do show, Roberto Carlos explica que a música a seguir exige uma extensão de voz que ele não tem. Mas como ele gosta muito da canção, resolveu incluí-la em seu repertório.

Desculpa-se e começa a cantar Caruso, imortalizada na voz de Luciano Pavarotti. Não precisa desculpar-se. Ao final da interpretação o público aplaude de pé o maior cantor brasileiro de todos os tempos.

(Eliane Sobral)
25-02-2011

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Matéria enviada por Lilian Rocha, representante do Splish Splash em Santa Maria-RS - Brasil

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1 Comentários

Comentários

  1. Olá Lilian e maninho!

    Uaauuuuuuuuu!!!!!!!!!!!
    Roberto Carlos,o NMQT, está com tudo e não está prosa.

    Ah! Como gostaria que aqueles que me diziam que ele não ia pra frente, que estava acabando, lessem isso.Seria o delírio! A minha vingança!

    Parabéns Roberto, você fez por merecer tudo isso e o nosso amor também.
    O meu você já tem há 50 anos...

    Obrigada Lilian, gostei muito da reportagem.
    Beijos saudosos para você.

    Beijos maninho,
    Carmen Augusta

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