Joel Neto fala do Dia Mundial do Livro

DO TEXTO:




Por: Carlos Alberto Alves
jornalistaalves@bol.com.br

No dia 23 de abril corrente, assinala-se o DIA MUNDIAL DO LIVRO. Joel Neto, natural de Angra do Heroísmo e que passou por vários jornais da capital portuguesa (Gazeta dos Desportos, Record, 24 Horas, Diário de Notícias e outros), é um dos escritores marcantes da chamada nova-vaga. Já editou vários livros e recentemente lançou em Lisboa (El Corte Inglês) OS SÍTIOS SEM RESPOSTA, apresentado por António Pedro Vasconcelos que opinou o seguinte: «Um excelente livro [e] uma bela surpresa. Um retrato do vazio e do seu rosto mais nobre: a solidão e o silêncio. A lucidez é o refúgio tardio dos românticos.»

Na edição deste sábado do matutino angrense Diário Insular, Joel Neto fala do Dia Mundial do Livro e cuja entrevista se transcreve com a devida vénia:

A 23 de abril comemora-se o Dia Mundial do Livro. Será um dia para festejar ou para meditar?
Haverá seguramente razões para festejar o livro. Desde logo por ele ter resistido até hoje, apesar da ameaça da televisão, do cinema e da Internet, da criação de novos e menos românticos suportes de leitura, da conjuntural crise económica global e da estrutural crise no setor nacional. Agora, refletir parece-me ainda mais urgente. E não sei até que ponto essa reflexão ainda virá a tempo. Há toda uma nova geração para a qual o livro não existe e já não tem possibilidades de existir. Como censurá-la? Para além da escola, estes miúdos têm o futebol, a música, os escoteiros, o inglês e sei lá mais o quê - não têm tempo para o ócio, não têm tempo para o tédio, não têm tempo para cultivar impulsos de descoberta, aventuras próprias ou prazeres escondidos.

É comum dizer-se que cada vez se lê menos... Tem essa noção?
Não sei se, em geral, se lê menos. Mas acho que se lê pior. E isso não tem apenas a ver com a degradação da qualidade dos leitores, mas sobretudo com a degradação da qualidade dos cidadãos. Há um défice de cidadania cada vez mais grave nas sociedades ocidentais, e em Portugal em particular (e nos Açores em especial). As pessoas estão cada vez mais desinteressadas da coisa pública, do bem comum, do lugar para onde este mundo caminha (e nós com ele). Mesmo entre as que ainda leem, cada vez mais delas procuram em exclusivo shots de diversão. Na verdade, já poucos se interessam com a procura da verdade, ou sequer com a autodescoberta a partir dos livros. Um livro ou diverte ou não interessa.

Nas livrarias, nos quiosques, nos hipermercados... Há muito papel com coisas escritas e uma capa quase sempre de bom marketing. Serão livros?
Livros são, com toda a certeza. E também são ficção. Se são literatura, já é outra coisa. Muitos não o são. E o superavit desse tipo de livros nem sequer pode ser assacado apenas aos leitores e aos novos ficcionistas. O nosso establishment literário, dos editores aos autores, passando pelos livreiros e pela crítica, simplesmente não tem permitido a existência de uma literatura popular de qualidade. Só há espaço (pouco) para a alta erudição e (muito) para a folha de couve. Tudo o que aparece no meio - e que é aquilo que impera em tantas grandes literaturas, como a anglo-saxónica - acaba por ser aniquilado. Como é que, desta maneira, se conquista as massas para a literatura?

Acaba de publicar mais um romance - "Os sítios sem resposta". Como tem sido - qual a sua perceção?... - a resposta do público ao seu trabalho literário?

Do público, ainda só posso avaliar pelas audiências dos lançamentos. Têm sido excelentes, mas isso não deixa de ser uma amostra limitada. Da crítica e dos media em geral, a resposta tem sido absolutamente extraordinária. Do ponto de vista da carreira literária, penso que queimei várias etapas com este livro. Vamos a ver, agora, como corre a estratégia de internacionalização. E, naturalmente, como o livro se comporta nas livrarias. Sem leitores, torna-se tudo muito mais difícil. E, até certo ponto - até certo ponto, repito -, mais inócuo.

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