A improvável viagem de um rapaz sem rumo que acabaria por dar a volta ao mundo
"E fui-me, sem saber por onde ia, nem onde havia de parar..." Fernão Mendes Pinto, Peregrinação
NOTAS DE BORDO De: Lisboa Para: Setúbal Transporte: A pé + caravela Evento-chave: Sequestro por corsários franceses Ano estimado: 1532-1534 Estado: Jovem fugitivo sem rumo
"A viagem mais longa começa quando não se sabe por onde ir." Vímara Porto
Por: Armindo Guimarães
Bem-vindo a "As Viagens de Fernão"!
Na sequência da nossa publicação de Apresentação de ontem, sob o título "As Viagens de Fernão: o mundo visto por um português", prepare-se, caro leitor, para embarcar numa viagem que atravessa oceanos, desertos e palácios, onde a realidade se mistura com a aventura, e o exótico encontra o homem comum.
Fernão Mendes Pinto, português de coragem e astúcia, guia-nos pelos segredos do Oriente do século XVI, numa narrativa que é tanto um relato histórico como um convite à reflexão sobre o nosso passado e presente.
Cada episódio é um convite para conhecer o mundo de outro tempo — com os olhos de quem o viveu intensamente, entre a glória e o desastre.
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Na Lisboa do século XVI, um rapaz de cerca de 12 anos corre pelas ruas estreitas, fugindo de um destino incerto — e de algo pior: a morte. Chama-se Fernão, filho de um homem pobre de Montemor-o-Velho, levado para Lisboa por um tio na esperança de um futuro melhor. Mas a sorte, essa madrasta, tinha outros planos.
Depois de ano e meio ao serviço de uma senhora nobre, o jovem Fernão vê-se forçado a abandonar tudo, de um dia para o outro. Sem plano, sem mapa, e sem mais do que a roupa no corpo, parte pela calçada abaixo, seguindo instinto e medo. O destino? O Cais da Pedra, onde o Tejo beija o cais com promessas e perigos.
Ali, entre barcos e marinheiros mal-encarados, consegue embarcar numa caravela com rumo a Setúbal — a sua primeira viagem marítima. Mas a sorte, teimosa, volta a pregar-lhe uma partida: o navio é atacado por corsários franceses, e Fernão é feito prisioneiro.
Aos gritos, ameaças e fome, junta-se a perspectiva sombria de ser vendido como escravo em Larache, no norte de África. Mas os corsários mudam de planos e seguem para França. É aí, numa reviravolta digna de novela, que Fernão é abandonado numa praia não longe de Setúbal, libertado sem explicações — uma liberdade embrulhada em incerteza.
Serve então, por mais um ano e meio, o fidalgo Francisco de Faria, como moço de câmara. Um tempo de trabalho, sim, mas também de reflexão. Porque Fernão já percebia que Portugal era demasiado pequeno para os seus passos. E, em 1537, com apenas 17 anos, embarca para a Índia.
Sem saber ainda que esta seria a mais longa e extraordinária viagem da sua vida.
Contexto histórico:
Antes do terramoto de 1755, a zona ribeirinha de Lisboa era repleta de cais e docas, cada um com funções específicas.
O Cais da Pedra, em Lisboa, era ponto de embarque de viajantes, marinheiros e mercadorias. Muitas "Peregrinações" começaram ali, voluntárias ou forçadas.
Após a reconstrução pombalina, a área foi reorganizada, e o Cais da Pedra deixou de existir como tal, integrando-se no novo plano urbanístico da Baixa. Contudo, a sua localização seria onde hoje se situa a Praça do Comércio (Terreiro do Paço).
NOTA FINAL DO ESCRIBA: Este é o primeiro relato, entre 14, da odisseia de Fernão — um português entre mundos, um cronista de naufrágios e milagres. Seguir-se-á o episódio 2: "Fernão é vendido: a primeira vez como escravo". Na bagagem: fé, dúvidas, e um mar de enganos.
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Gostou da viagem? Deixe o seu comentário, partilhe este episódio e convide outros navegadores curiosos a embarcarem nesta aventura.
A improvável viagem de um rapaz sem rumo que acabaria por dar a volta ao mundo
Fernão Mendes Pinto, Peregrinação
NOTAS DE BORDO
De: Lisboa
Para: Setúbal
Transporte: A pé + caravela
Evento-chave: Sequestro por corsários franceses
Ano estimado: 1532-1534
Estado: Jovem fugitivo sem rumo
Vímara Porto
Bem-vindo a "As Viagens de Fernão"!
Na sequência da nossa publicação de Apresentação de ontem, sob o título "As Viagens de Fernão: o mundo visto por um português", prepare-se, caro leitor, para embarcar numa viagem que atravessa oceanos, desertos e palácios, onde a realidade se mistura com a aventura, e o exótico encontra o homem comum.
Fernão Mendes Pinto, português de coragem e astúcia, guia-nos pelos segredos do Oriente do século XVI, numa narrativa que é tanto um relato histórico como um convite à reflexão sobre o nosso passado e presente.
Cada episódio é um convite para conhecer o mundo de outro tempo — com os olhos de quem o viveu intensamente, entre a glória e o desastre.
Na Lisboa do século XVI, um rapaz de cerca de 12 anos corre pelas ruas estreitas, fugindo de um destino incerto — e de algo pior: a morte. Chama-se Fernão, filho de um homem pobre de Montemor-o-Velho, levado para Lisboa por um tio na esperança de um futuro melhor. Mas a sorte, essa madrasta, tinha outros planos.
Depois de ano e meio ao serviço de uma senhora nobre, o jovem Fernão vê-se forçado a abandonar tudo, de um dia para o outro. Sem plano, sem mapa, e sem mais do que a roupa no corpo, parte pela calçada abaixo, seguindo instinto e medo. O destino? O Cais da Pedra, onde o Tejo beija o cais com promessas e perigos.
Ali, entre barcos e marinheiros mal-encarados, consegue embarcar numa caravela com rumo a Setúbal — a sua primeira viagem marítima. Mas a sorte, teimosa, volta a pregar-lhe uma partida: o navio é atacado por corsários franceses, e Fernão é feito prisioneiro.
Aos gritos, ameaças e fome, junta-se a perspectiva sombria de ser vendido como escravo em Larache, no norte de África. Mas os corsários mudam de planos e seguem para França. É aí, numa reviravolta digna de novela, que Fernão é abandonado numa praia não longe de Setúbal, libertado sem explicações — uma liberdade embrulhada em incerteza.
Serve então, por mais um ano e meio, o fidalgo Francisco de Faria, como moço de câmara. Um tempo de trabalho, sim, mas também de reflexão. Porque Fernão já percebia que Portugal era demasiado pequeno para os seus passos. E, em 1537, com apenas 17 anos, embarca para a Índia.
Sem saber ainda que esta seria a mais longa e extraordinária viagem da sua vida.
Contexto histórico:
Antes do terramoto de 1755, a zona ribeirinha de Lisboa era repleta de cais e docas, cada um com funções específicas.
O Cais da Pedra, em Lisboa, era ponto de embarque de viajantes, marinheiros e mercadorias. Muitas "Peregrinações" começaram ali, voluntárias ou forçadas.
Após a reconstrução pombalina, a área foi reorganizada, e o Cais da Pedra deixou de existir como tal, integrando-se no novo plano urbanístico da Baixa. Contudo, a sua localização seria onde hoje se situa a Praça do Comércio (Terreiro do Paço).
NOTA FINAL DO ESCRIBA:
Este é o primeiro relato, entre 14, da odisseia de Fernão — um português entre mundos, um cronista de naufrágios e milagres.
Seguir-se-á o episódio 2: "Fernão é vendido: a primeira vez como escravo".
Na bagagem: fé, dúvidas, e um mar de enganos.
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EPISÓDIOS PUBLICADOS
0 – As Viagens de Fernão: o mundo visto por um português
1 – Fuga de Lisboa: Fernão e o início da Peregrinação (você está aqui).
A SEGUIR
2 – Fernão é vendido: a primeira vez como escravo
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