Os Bandeirantes - Parte 2 de 6

DO TEXTO: Uma das soluções que alguns particulares encontraram, era arriscar se aventurar pelos sertões em busca das supostas minas de ouro e prata...
A interação entre o estabelecimento religioso e a colonização é muito mais profunda. Durante os Tempos Modernos, a europeização do mundo era, em muitos momentos, confundida com a evangelização. A expansão ultramarina e a colonização eram vistas também como uma possibilidade de se levar a fé de Cristo ao mais distantes pontos do mundo.


Os Bandeirantes - Parte 2 de 6


"O colégio atuou como elemento aglutinador do povoamento do Planalto do Piratininga. Sua ação não pode ser compreendida se levarmos em conta o colégio apenas como um estabelecimento de ensino capaz de fornecer conhecimento ao filho dos colonos. A interação entre o estabelecimento religioso e a colonização é muito mais profunda. Durante os Tempos Modernos, a europeização do mundo era, em muitos momentos, confundida com a evangelização. A expansão ultramarina e a colonização eram vistas também como uma possibilidade de se levar a fé de Cristo ao mais distantes pontos do mundo. A catequização dos povos pagãos era a justificativa ideológica dos europeus para a conquista de outras terras e outros povos". (VOLPATO, 1986, p. 27). 

Um povoado se formou em torno do colégio jesuítico e rapidamente cresceu em pouco tempo. Em 1560, o então governador-geral Mem de Sá (1500-1572), ordenou a criação da Vila de São Paulo do Piratininga, ordenando que a população da Vila de Santo André se muda-se para a nova vila, a qual se tornaria o principal centro urbano do planalto piratininguense, mesmo assim, a população da vila não vivia em condições prósperas. As terras do planalto eram frias e constantemente ameaçadas por outras tribos indígenas como os Tupinambás. Como na colônia não havia um exército ou polícia, a própria população se armava para se defender, logo, milícias foram criadas para combater os ataques dos índios não apenas em São Paulo, mas em toda a colônia. 

Não obstante, as vilas de São Vicente e Santos ainda eram mais prósperas do que São Paulo, pois essas participavam da produção e comércio do açúcar, o "ouro branco" da época. Somando-se a isso a proximidade com o mar, isso facilitava a vinda de mercadorias da África, de outros cantos da colônia e da própria metrópole. Os habitantes do planalto tinham que ir ao litoral comprar mercadorias que faltavam em suas terras (roupas, móveis, utensílios, objetos, armas, etc.). No entanto, a medida que Pernambuco, Paraíba, Bahia e Rio de Janeiro despontavam no cultivo canavieiro, a produção açucareira de São Vicente fora ofuscada, isso obrigou parte da população da capitania a procurar outro meio de subsistência. Além disso, em 1562 São Paulo sofrera um terrível ataque dos Tupinambás e outras tribos, que formavam a Confederação dos Tamoios os quais de 1554 a 1567 causaram problemas a ocupação colonial naquela região. 

"Basicamente diversa era a vida no Planalto. A produção de gêneros de subsistência mantinha a região serrana quase que marginalizada do comércio mundial. À medida que não exportava em escala significativa, sua capacidade de importação também era irrisória. A produção de gêneros de subsistência garantia a sobrevivência, mas encarecia a obtenção de importados, uma vez que os mesmos não poderiam ser pagos com aquilo que a região produzia". (VOLPATO, 1986, p. 29).

Uma das soluções que alguns particulares encontraram, era arriscar se aventurar pelos sertões em busca das supostas minas de ouro e prata que se diziam existir no interior do continente; por outro lado, outros preferiram ir caçar os indígenas e vendê-los como escravos, pois embora São Vicente e Santos fossem portos movimentados, não recebiam tantos escravos africanos como na região norte (nesse caso norte, representa o atual nordeste, e sul o atual sudeste), logo, grande parte da mão de obra escrava da capitania, era indígena, e em alguns casos as bandeiras também vendiam índios para capitanias vizinhas. Logo, aqueles homens que haviam formados milícias para se defenderem dos ataques, decidiram organizar expedições para adentrar o sertão atrás de riquezas, de desbravar ou devassar, termo utilizado na época; e para se capturar os indígenas. As bandeiras eram criadas.

"Os colonos chegavam ao Brasil com a intenção de ascender econômica e socialmente. Mesmo aqueles que desembarcavam desprovidos de recursos  se negavam a se colocar a serviço de outros. A grande disponibilidade de terra fazia com que cada europeu buscasse se tornar ele próprio um proprietário, ocupando uma área, fosse por doação ou por simples ocupação". (VOLPATO, 1986, p. 30).

Muitos trabalhos manuais e braçais eram vistos como degradantes e indignos de gente de bom status social, logo, tais trabalhos na Europa era relegados aos servos e empregados, daí quando os colonos chegaram ao Novo Mundo, já possuíam em mente tal ideia, e para eles se tornarem servos de outros senhores naquelas terra não era algo cogitado, pois os europeus vinham para as Américas em busca de enriquecer, ganhar fama e ascender socialmente, não para serem meros trabalhadores como já eram em seus países.

Não obstante, além dessa ideia em voga, a Igreja Católica não proibia a escravização dos africanos e dos ameríndios, a justificativa era que aquele pagãos deveriam ser catequizados, para se tornarem cristãos e terem suas almas salvas. Se tornar escravo, seria uma "punição" aos seus pecados, e uma forma de quitar sua "dívida" com Deus, para receber seu perdão no fim da vida, e poder sere salvos de ir para o Inferno. Tal ideia foram bem predominante no final da Idade Média quando começou as Grandes Navegações até o século XIX, quando a escravidão nas Américas começou a ser abolida, embora que em África e na Ásia ela ainda se manteria, mas não justificada mas pela Igreja, mas por seus próprios governos. 

"No dizer de Sérgio Milliet, o centro bandeirante durante longos anos foi apenas um povoado extremamente pobre, erguido ao abrigo dos piratas que devastavam a costa e dos índios que infestavam a mata serra acima". (DAVIDOFF, 1984, p. 22).

A vila de São Paulo só viria a se tornar um centro importante por volta do século XVII, mesmo assim ainda se manteria como uma vila "atrasada" até o século XIX, quando começaria a se desenvolver rapidamente graças ao café. Pois embora, as bandeiras fizessem lucro, tal lucro ficava entre particulares, e após a descoberta das minas, muitos deixaram São Paulo para lá irem morar. 

A organização de uma bandeira

Em 1560, Mem de Sá designou Brás Cubas para liderar uma entrada a fim de procurar ouro, prata e joias. Segundo o relato da entrada, Cubas teria percorrido cerca de 300 léguas sertão adentro, no entanto, tal distância não é confirmada como certeza; Ele retornou em 1561, depois de alguns meses, tendo fracassado e ficado enfermo. Ainda no mesmo ano, Mem de Sá enviou a entrada de Luís Martins, o qual teria encontrado segundo ele, ouro e umas pedras verdes que se acreditara serem esmeraldas. 

No entanto, hoje os historiadores a partir de outras fontes documentais, apontam que o suposto ouro que Martins descobrira que ele havia dito ser tão valioso quanto o ouro da Costa da Mina em África, provavelmente deve ter sido pirita, o chamado "ouro dos tolos", os quais consistem em cristais isométricos de ferro com a aparência dourada. Já as supostas esmeraldas, provavelmente eram turmalinas. Pois se a descoberta de Martins fosse real, porque nenhuma expedição fora enviada para o mesmo lugar para certificar-se da descoberta? Mas, pelo contrário, outras missões partiram para locais diferentes da região, pois boatos sobre ouro e prata surgiam toda hora. A solução mais viável por hora era caçar índios. 

"O movimento bandeirantista surgiu da necessidade de mão-de-obra dos habitantes do Planalto piratingano. Sem condições de importar os escravos africanos que o comércio europeu colocava-lhes à disposição nos portos coloniais, utilizavam a força de trabalho indígena". (VOLPATO, 1986, p. 45).

A primeiras bandeiras eram expedições pequenas, contendo algumas dezenas de homens e até mesmo centenas. No auge das bandeiras, no século XVII como será visto, algumas bandeiras chegaram a conter milhares de integrantes,  eram verdadeiros exércitos que cruzavam o interior do continente. 

As primeiras bandeiras eram armadas (organizadas) pelos seus próprios líderes, no entanto, com o passar do tempo, alguns homens ricos, se uniam para financiar a expedição, e não necessariamente eles participavam da bandeira, mas contratavam um homem experiente que conhece-se as matas e os costumes indígenas para liderar a expedição, então dependendo do investimento feito, comprava-se armas, equipamentos, mantimentos, medicamentos e convocava-se o restante dos membros da expedição, os quais geralmente eram homens entre os seus 15 e 35 anos, atrás de fazerem riqueza e fama; homens de coragem e força, pois a selva era implacável.

Alguns bandeirantes que começaram ainda cedo sua carreira, por exemplo, foram Bartolomeu Bueno da Silva Filho (Anhanguera II) e Antônio Pires de Campo, ambos participaram de bandeiras armadas por seus pais, quando tinham apenas quatorze anos. Francisco Dias da Silva tinha dezesseis anos quando participou de sua primeira bandeira, armada por um tio seu. Outros bandeirantes dedicavam quase a vida toda as bandeiras, as quais se tornavam para eles um estilo de vida; Manuel de Campos Bicudo participou de pelo menos vinte e quatro bandeiras, Fernando Dias Paes Leme fora até o fim da vida um bandeirante, vindo a falecer durante uma bandeira, tendo na época mais de 64 anos. Domingo Jorge Velho, embora tenha se aposentado na velhice, seguiu até essa, sendo um bandeirante. 

Além de conter homens livres, as bandeiras também tinham como membros, "índios amansados", usando um termo da época. Tais indígenas, eram cristãos e sabiam falar português, em geral eles eram os guias da expedição, pois muitos conheciam as trilhas e rotas de viagem pelas matas, pois não existiam estradas propriamente falando; seguia-se o curso de rios, ou trilhas, que para olhos desapercebidos passariam em branco, daí a necessidade de se terem pessoas (no caso os índios) que conhecessem aquelas rotas. 

O fato de muitas bandeiras conterem índios é interessante, pois na literatura tradicional, se conveniou a ideia de que os bandeirantes fossem apenas brancos, mas na realidade, haviam muitos mestiços, principalmente caboclos ou mamelucos (ambos os termos designam os mestiços de branco com índio), além de haver índios puros mesmo, e em alguns casos mais raros, negros. Além disso, era comum muitos bandeirantes falarem a língua geral, língua esta que originalmente era um dialeto tupi, que com a introdução da língua portuguesa, fora misturada a este dialeto. Pelo fato de conviver muito com os indígenas, alguns bandeirantes falavam mais em língua geral do que em português. 

 

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