Difusão de música portuguesa nas rádios em Portugal, para quando?

DO TEXTO: Dos 13 temas do CD "Artes do Futuro" de Pedro Barroso, nenhum foi difundido pelas rádios portuguesas.
Locutor de rádio: E agora, depois de estarmos todo o dia a transmitir música anglo-saxónica, a fechar a emissão temos uma surpresa para os nossos estimados ouvintes! Uma música portuguesa! Quem é amigo?!

Pedro Barroso em jeito de desabafo


Por: Armindo Guimarães
 

Esta é a quarta vez (e provavelmente não será a última), que vimos a terreiro chamar a atenção para a gritante anomalia que há uns anos a esta parte se passa nas rádios em Portugal que, estranhamente, começam e terminam os seus programas musicais com música anglo-saxónica, menosprezando a música portuguesa e lusófona, exceção, que se louva, para muitas rádios locais.

Ontem, no Facebook, deparamo-nos com uma publicação de um notável cantor/compositor português, Pedro Barroso, que em jeito de desabafo disserta sobre o porquê de o seu recente CD "Artes do Futuro", que recebeu surpreendentes elogios críticos independentes, foi enviado pela editora a todos os sítios e dos 13 temas do CD nem um único foi difundido em parte alguma.

Com a devida vénia, transcrevemos todo o teor do texto, tal qual foi publicado, sem qualquer edição nossa. Um texto que até este momento obteve 718 leitores confirmados, 138 partilhas e 184 comentários, facto que por si só quer dizer alguma coisa.

"Desculpem hoje o muito invulgar e raríssimo desabafo. 
Em anos disto, nunca o fiz. 
Sei q não pertence. Pode parecer presunção, Desculpem se o for. É. Mas.
Sei ler e escrever. Sou licenciado e fui, até, prof efectivo do Ensº Secº. Contudo, optei por ser músico autor compositor. Tenho 48 anos de carreira. Estreei-me em 69 no célebre Zip Zip. 
Lutei pela Democracia. Fiz a estrada apaixonada de Abril e as campanhas de Dinamização cultural num país sedento de cultura, celebrando a Liberdade. Cantei c o Zeca o Adriano e todos os companheiros q correram o sonho e arriscaram voz em tempos difíceis.
Cantei em praticamente todo o espaço português. Continente e ilhas. Fiz as Aulas magnas, Coliseus, Tivolis, Rivolis; cheios. Enfim, tudo o q pertence. 
Publiquei mais de 30 discos de Autor. Escrevi 5 livros - com o 6º já entregue e a caminho.
Tenho tido por toda a parte salas cheias, q me presenteiam com noites inesquecíveis de emoção e aplauso.
Estudei música, escrevo os poemas. Canto afinadinho, ao q parece; dizem q com um timbre e uma extensão agradáveis. Lancei bastantes nomes; e dirigi centenas de musicos ao longo da vida. 
Evito o plágio, por questões de honestidade, o q me retira muito tempo de antena em publicidade gratis, num patético contraditório. 
Sou co autor em obra conjunta com um Prémio Nobel. 
Actuei em Espanha, França, Inglaterra, USA, Canada, Suíça, Suécia, Croácia, Luxemburgo, Alemanha, Brasil, China. Assim de repente, q me lembre.
Fui este ano galardoado c a medalha de Honra da Soc Portª Autores, pelo exemplo de carreira. 
Recebi demasiados prémios nacionais e internacionais cujos vos pouparei enumerar. 
Pq a ideia não é essa. Eu explico.
Hoje, num fim do mundo beirão onde fui almoçar, encontrei inesperadamente, velhos conhecimentos. Sabiam q enfrento problemas de saúde e achavam q eu me tivesse retirado. Perguntaram-me, candidamente, porque não me ouvem na radio, nem sequer na Antena um. 
Dói. Nunca soube porquê. Mas os critérios de play list são sempre nebulosos e difusos. Em toda a radio q se ouve. Há quem os diga convenientes, outros florentinamente manipulados. Sabemos. Percebemos todos. Não somos parvos.
O recente CD "Artes do Futuro", que prezo como obra maior e de mestrança, recebeu surpreendentes elogios críticos independentes. Foi enviado pela editora a todos os sítios. Tem, julgo eu, uma dignidade maior. 
Mas não me compete ser eu a dizer isto. Portanto não digo. Contudo, penso.
13 Temas. Não passam um único tema em parte alguma. Nem na RDP - Antena Um. A "rádio dos portugueses". Paga pelos portugueses para "ligar Portugal".
Oficialmente, portanto, eu não existo. 
Eu q luto tanto para ser, estar vivo, resistir, produzir e plasmar massa cinzenta. Luto demais para ter de admitir isto. E calar sorrindo, como se tudo fosse natural.
Não torno a implodir sobre este tema. 
Porque já sei. Não pertence. O próprio nunca deve dizer estas coisas de si mesmo. É vergonha. Tendes razão. Fica sempre mal.
...
Mas acho que, no mínimo, à Antena Um fica... bastante PIOR."

PEDRO BARROSO

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