Batata e mandioca sim! 'Confusão de carboidratos' está retirando nutrientes dos pratos, diz estudo

DO TEXTO: No estudo, os pesquisadores analisaram dois modelos de cardápio de um dia para avaliar as contribuições de nutrientes de vegetais ricos em amido e...
 Carrela com batatas.



Interpretações erradas surgiram para demonizar os carboidratos


Vegetais ricos em amido são um veículo vital para fornecimento de nutrientes essenciais. Um estudo mostrou que trocá-los por vegetais à base de cereais, incluindo alimentos integrais, durante um só dia, leva a diminuições de: 21% no potássio, 17% na vitamina B6, 11% na vitamina C e 10% nas fibras

Destaques:
* Vegetais ricos em amido, como a batata, a mandioca e o inhame, são tratados muitas vezes como alimentos vilões, ou inimigos.
* Mas eles contêm grandes quantidades de nutrientes que são importantes à saúde, incluindo potássio, vitaminas e fibras.
* Restrições são perigosas e o caminho para dietas saudáveis é o equilíbrio, variedade e moderação. 

São Paulo — março 2024 - Desde que a alimentação low carb foi propagada em dietas da moda, algumas interpretações erradas surgiram para demonizar os carboidratos e isso confundiu muitos consumidores, que passaram a ver certos alimentos como ‘vilões’, em claros sinais de exagero e “terrorismo nutricional”. “Alimentos como batatas, batata doce, mandioca e inhame foram considerados ‘maus’ carboidratos e excluídos do padrão alimentar em muitas casas. O problema é que esses alimentos são fontes de vários nutrientes e sua substituição por vegetais de baixas calorias pode não garantir as vitaminas, fibras e minerais que o corpo necessita”, explica a médica nutróloga Dra. Marcella Garcez, diretora e professora da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN). É exatamente o que diz um estudo recente, mostrando que a substituição de vegetais ricos em amido por alternativas à base de cereais, incluindo alimentos integrais, durante um só dia, levou a diminuições de: 21% no potássio, 17% na vitamina B6, 11% na vitamina C e 10% nas fibras.

Segundo a médica, para muitos, é tentador pensar que todos os alimentos com carboidratos são intercambiáveis. “Mas estes alimentos são categorizados dentro de diferentes grupos alimentares por uma razão – e a mais importante delas é que eles tendem a ter conteúdos vitamínicos e minerais muito diferentes”, diz a nutróloga. “Em comparação com os grãos, os vegetais ricos em amido, como a batata, tendem a ser mais ricos em potássio, considerado um nutriente de interesse para a saúde pública, porque a ingestão inadequada está associada ao aumento dos riscos à saúde. Eles também podem fornecer uma excelente fonte de vitamina C”, completa a Dra. Marcella Garcez.

Além disso, embora nenhum dos grupos seja considerado uma importante fonte de proteína, a qualidade da proteína nas batatas é notavelmente superior à qualidade da proteína dos grãos, comparável em qualidade (medida pelo "valor biológico") à proteína do ovo e do leite. “E embora as escolhas alimentares de ambos os grupos possam ajudar a adicionar fibras à dieta, os grãos também oferecem benefícios nutricionais únicos, normalmente oferecendo mais tiamina, zinco e vitamina E”, diz a Dra. Marcella. “Como tantas vezes acontece no mundo da nutrição, a orientação resume-se ao equilíbrio, variedade e moderação – o que pode parecer chato, mas todos os três beneficiariam os estilos alimentares da maioria das pessoas. É o que eu sempre falo, a dieta deve ser equilibrada, diversificada e o mais natural possível”, acrescenta a Dra. Marcella. “É importante obter a mistura certa de vegetais e grãos e incluir vegetais com e sem amido para ajudar a garantir que estamos atendendo às nossas necessidades de macro e micronutrientes”, completa.

Além de demonstrar as principais diferenças nas contribuições nutricionais dos vegetais ricos em amido e dos alimentos à base de cereais, a perspectiva discute distinções na estrutura química de cada grupo alimentar, nas aplicações culinárias, nos benefícios econômicos e na relevância cultural. "Também é importante reconhecer que alguns grupos culturais tradicionalmente usam certos alimentos que contêm carboidratos em detrimento de outros. É por isso que mais pesquisas são necessárias para entender como as diferentes escolhas alimentares com carboidratos afetam a qualidade da dieta e quais alimentos culturalmente apropriados devem ser incentivados para ajudar a fechar quaisquer lacunas de nutrientes", explica a médica.

Estudo

No estudo, os pesquisadores analisaram dois modelos de cardápio de um dia para avaliar as contribuições de nutrientes de vegetais ricos em amido e alimentos à base de grãos para a dieta diária. Um menu "básico" de aproximadamente 2.000 calorias foi usado para refletir as recomendações dietéticas das Diretrizes Dietéticas para Americanos 2020-2025 e em alinhamento com os "Modelos de Padrões Alimentares" do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos). “Esse cardápio incluía tanto alimentos à base de grãos quanto batata branca, como alimento nutricionalmente representativo da categoria de vegetais ricos em amido. Nessa dieta básica, as batatas brancas eram incluídas no café da manhã na forma de fricassé e no jantar na forma de batata assada. Um menu de aproximadamente 2.000 calorias com 100% de vegetais ricos em amido substituídos por alimentos à base de grãos foi usado como comparação. Esse cardápio substituiu o fricassé no café da manhã por uma fatia adicional de pão integral e a batata assada no jantar por arroz branco”, explica a médica.

Para a Dra. Marcella, o estudo mostra que definitivamente não é saudável classificar alimentos em bons ou ruins. “Uma dieta low carb começa com a redução no consumo de açúcares adicionados e carboidratos farináceos.  Por restringir o consumo de grupos alimentares, o ideal é consultar o médico de confiança para saber se não há contraindicações. E, claro, um médico nutrólogo ou profissional da nutrição, para não correr o risco de adotar uma dieta monótona e insuficiente em nutrientes essenciais. Dietas restritivas geralmente concursam com hábitos que não são sustentáveis a longo prazo, não respeitam critérios individuais e são adotadas sem respaldo científico, deste modo aumentam o risco de desenvolvimento de intolerâncias alimentares que antes não existiam, transtornos alimentares e metabólicos”, finaliza a médica nutróloga.

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*DRA. MARCELLA GARCEZ: Médica Nutróloga, Mestre em Ciências da Saúde pela Escola de Medicina da PUCPR, Diretora da Associação Brasileira de Nutrologia e Docente do Curso Nacional de Nutrologia da ABRAN. A médica é Membro da Câmara Técnica de Nutrologia do CRMPR, Coordenadora da Liga Acadêmica de Nutrologia do Paraná e Pesquisadora em Suplementos Alimentares no Serviço de Nutrologia do Hospital do Servidor Público de São Paulo. Além disso, é membro da Sociedade Brasileira de Medicina Estética e da Sociedade Brasileira para o Estudo do Envelhecimento. Instagram: @dra.marcellagarcez

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