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Armindo Guimarães

Corria o ano de 1982 e por esse tempo já eu era um dos muitos admiradores de Vangelis
"1492 - Conquest Of Paradise" iria servir como uma luva para o meu número de Ilusionismo dedicado aos Descobrimentos Portugueses
Por: Armindo Guimarães
Evangelos Odyssey Papathanassiou, mais conhecido pelo nome artístico Vangelis, foi um músico grego celebrado mundialmente pelos seus estilos musicais neoclássico, progressivo, música electrónica e ambiente. Faleceu aos 79 anos no passado dia 17, em França. A música perdeu um Mestre, e o céu ganhou mais uma Estrela.
Corria o ano de 1982 e, por essa altura, já eu era um dos muitos admiradores de Vangelis, sobretudo pelo tema "Chariots Of Fire", que, nesse ano, venceu o Óscar de Melhor Banda Sonora, pertencente ao filme homónimo.
Dez anos depois, em 1992, andava eu pelas discotecas da minha cidade (Porto) à procura de uma música que melhor se coadunasse com a temática do meu número de ilusionismo. Foi então que encontrei um CD de Vangelis intitulado "1492 - Conquest Of Paradise". Pedi para o ouvir, e aquilo que pensei ser uma breve audição tornou-se numa imersão total durante os quase cinco minutos que a música dura.
Não precisei de procurar mais. "1492 - Conquest Of Paradise" viria a encaixar-se como uma luva no meu número dedicado aos Descobrimentos Portugueses. Para a parte final, incluí também o tema "Chariots Of Fire", que acompanhava uma bola prateada a surgir de um fino lenço de seda, bailando no espaço ao som de música tão singular.
Sucede que, no final de um dos meus espectáculos, enquanto me preparava no camarim para regressar a casa, bateu à porta alguém da organização para me informar que um jornalista, presente na plateia, desejava falar comigo. Pensei para os meus botões que, certamente, teria apreciado o número e queria entrevistar-me para algum jornal. As palmas do público tinham sido tantas que precisei de voltar ao palco por duas vezes.
Consenti que ele entrasse.
Imaginava que, além de uma entrevista, o jornalista quisesse captar algumas fotografias da praxe. Antes de ele chegar, apressei-me a ajeitar o laço da camisa e o cabelo já então escasso, numa cena digna de Woody Allen em "Take the Money and Run". Pouco depois, apareceu o jornalista, esbaforido, com uma máquina fotográfica ao pescoço e um bloco de apontamentos na mão. Pediu desculpa, mas precisava que lhe dissesse o nome da primeira música e o respetivo autor, pois queria comprar o CD para utilizá-lo num grande evento.
Escusado será dizer que só não deixei cair a minha coisa ao chão, refiro-me à minha varinha mágica, porque já a tinha guardado na mala das ilusões, deixando apenas de lado a grande ilusão que tive de ter brilhado em palco, quando, na verdade, quem brilhou foi o Vangelis.
Naquela época, as músicas de Vangelis não eram amplamente conhecidas do público, o que explica o desconhecimento do jornalista. Nunca mais o vi, nem soube para que grande evento pretendia usar "1492". Apenas sei que, dois meses depois, fui forçado a retirar o tema do meu número de ilusionismo. Estava em curso a campanha eleitoral para as legislativas de 1995, e o Partido Socialista usava "1492" em todos os comícios e eventos. Ainda hoje, muitos portugueses associam essa música àquele momento político.
Convém lembrar que foi o Partido Socialista que venceu aquelas eleições, elegendo o engenheiro António Guterres como Primeiro-Ministro – atualmente, Secretário-Geral da ONU desde 2017.
Por isso, tal como as ovações no meu espetáculo talvez tenham sido para Vangelis e não para mim, não seria de admirar que, em 1995, quem realmente venceu as eleições em Portugal não tenha sido o Partido Socialista, mas sim Vangelis.
Deixo um player com as músicas mencionadas e com o tema "Voices", que substituiu "1492 - Conquest Of Paradise" no meu número de ilusionismo.
Clique no título para assistir ao respetivo vídeo:
Vangelis - 1492 Conquest of Paradise
Vangelis - Chariots Of Fire
Vangelis - Voices

Escriba das coisas da vida e da alma. Admin., Editor e Redator do luso-brasileiro Portal Splish Splash. Máxima favorita: "Andamos sempre a aprender e morremos sem saber".
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Comentários
Comentários
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A tua veia de escritor leva te a publicar textos de muita inspiração que nos leva a recordar a realidade passada. Parabéns com bênçãos do padrinho. Abraço
ResponderEliminarNem estou em mim!!! Este comentário tem para mim montes de absolutamente por ter sido escrito e publicado pelo meu padrinho que tinha 10 aninhos quando foi ao meu batizado. Agora ele tem 60 anos mas parece que tem 40, Sempre na onda!. Ainda me lembro quando aos 4 anos me deu um triciclo azul ainda a cheirar a tinta e, mais tarde, com 8 anos, as minhas primeiras calças de ganga que eu e ele fomos comprar na Rua Alexandre Braga. Maravilha! Grande abraço, padrinho! 😊👍
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