Estudo mostra que testosterona piora o prognóstico do melanoma em homens

DO TEXTO: Pesquisa da Universidade da Pensilvânia, publicado no final de outubro no periódico Cancer Research, mostra que a testosterona promove a proliferação

O tipo de câncer de pele com pior prognóstico é o melanoma e, segundo o INCA (Instituto Nacional de Câncer), em 2020 a estimativa de novos casos no Brasil é de 8.450, sendo 4.200 homens e 4.250 mulheres (2020 - INCA).

Pesquisa da Universidade da Pensilvânia, publicado no final de outubro no periódico Cancer Research, mostra que a testosterona promove a proliferação de melanoma ativando o gene ZIP9, por isso drogas contra o câncer de próstata usadas para os receptores desse hormônio podem ser efetivas

São Paulo — Janeiro/2022 - O tipo de câncer de pele com pior prognóstico é o melanoma e, segundo o INCA (Instituto Nacional de Câncer), em 2020 a estimativa de novos casos no Brasil é de 8.450, sendo 4.200 homens e 4.250 mulheres (2020 - INCA). Apesar da paridade quanto ao número de casos, o prognóstico é pior em homens, não só no Brasil (1.159 em homens e 819 em mulheres) como no mundo – nos Estados Unidos, por exemplo, segundo a American Cancer Society, em 2021, espera-se que cerca de 7.180 pessoas morram da doença (cerca de 4.600 homens e 2.580 mulheres). Uma nova pesquisa da Universidade da Pensilvânia, publicada no final de outubro no periódico Cancer Research , um dos mais importantes a tratar do tema, mostra o porquê dessa disparidade de gênero no número de mortes: a testosterona promove a proliferação de melanoma, ativando um receptor de testosterona não clássico recentemente reconhecido em células de melanoma chamado ZIP9. “Essa proteína é codificada por um gene e trata-se de um transportador de zinco que não é intencionalmente direcionado por nenhuma terapêutica disponível, mas é amplamente expresso no melanoma humano. O estudo sugeriu que drogas que têm como alvo os receptores de andrógenos (e a testosterona é um hormônio andrógeno) no câncer de próstata podem ser efetivamente reaproveitadas para bloquear a ZIP9 e, assim, inibir o melanoma em homens”, explica a dermatologista Dra. Patrícia Mafra*, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia.

Segundo a dermatologista, o melanoma é um câncer de pele derivado das células pigmentares da pele. “É o tipo de câncer de pele mais mortal. Ele pode se espalhar para outras partes do corpo precocemente, quando as lesões ainda são muito pequenas”, explica a Dra. Patrícia. Embora essa diferença de sexo seja reconhecida há décadas, as razões permaneceram indefinidas. “O hormônio sexual masculino testosterona aumenta a taxa de proliferação de células de melanoma porque atua por meio da proteína ZIP9 em vez dos receptores clássicos de testosterona que são bem estudados no câncer de próstata. Embora não existam drogas aprovadas que inibam ZIP9, drogas estruturalmente relacionadas, como a apalutamida, que bloqueiam o receptor clássico de testosterona (androgênio) no câncer de próstata, quando administradas a camundongos com melanoma, retardam o crescimento do tumor e prolongam a sobrevida, mas apenas em machos, segundo o trabalho dos pesquisadores”, explica a médica.

O estudo enfatiza que esta descoberta sobre ZIP9 é provavelmente aplicável à maioria dos melanomas humanos. O estudo avaliou 98 lesões melanocíticas humanas (manchas regulares, bem como melanoma primário e metastático de homens e mulheres). Quase todas as amostras expressaram lotes de ZIP9, enquanto o receptor clássico de testosterona não foi detectado em nenhuma delas. ZIP9 também é expresso em muitos outros tecidos humanos, sugerindo que esta descoberta no melanoma pode ser amplamente aplicável a muitos tipos de câncer.

Este estudo é o primeiro a mostrar que ZIP9 é um determinante da disparidade entre homens e mulheres no câncer. Segundo o estudo, com relação a alguns cânceres e hormônios sexuais, os machos biológicos parecem estar em duas desvantagens: eles não têm os efeitos protetores da atividade estrogênica (feminina) não clássica, enquanto a testosterona, por meio da ZIP9, agrava ativamente os tumores. “A boa notícia em potencial é que esses dois receptores de esteroides sexuais provavelmente podem ser manipulados como medicamentos. Embora sejam necessários mais ensaios clínicos, os medicamentos atualmente aprovados para o câncer de próstata parecem bloquear efetivamente o ZIP9, segundo os pesquisadores”, finaliza a Dra. Patrícia.

Autoexame – O câncer de pele melanoma é caracterizado por uma lesão que muda de forma, cor, tamanho, sangra ou desenvolve uma borda irregular. “Uma nova grande mancha marrom na pele, às vezes contendo manchas escuras salpicadas; um novo ponto na pele que muda de tamanho, forma ou cor; uma ferida que não cicatriza; tudo isso pode ser sintoma de um câncer melanoma”, diz a dermatologista.

Embora qualquer pessoa possa ter câncer de pele, pessoas de tom de pele claro, que se ‘queimam’ facilmente após exposição ao sol, que tenham histórico familiar de câncer de pele (ou que já tiveram câncer de pele) são mais suscetíveis.

Uma das formas de acelerar o diagnóstico do câncer de pele é por meio do autoexame do tecido cutâneo, utilizando principalmente a regra de manchas e lesões ABCDE (A de assimétrica, B de bordas irregulares, C de cores desiguais, D de diâmetro maior que 6 milímetros e E de evolução – quando crescem aceleradamente). “Basta alguns minutos, uma vez por mês, de preferência com luz natural, de frente para o espelho para verificar alguma mudança na pele, com relação às manchas, pintas e lesões. Normalmente, surge uma ferida pequena com casquinha que sangra facilmente. Consideramos que essa é a primeira etapa do problema, onde o próprio paciente pode pesquisar. Além disso, se a ferida for maior que seis milímetros, se houver coloração dupla ou tripla e se não cicatrizar em quatro semanas, é fundamental procurar o médico imediatamente para obter um diagnóstico preciso e tratamento adequado que, normalmente, é cirúrgico para retirada total da lesão e deve ser realizado o mais precocemente possível”, finaliza a dermatologista Dra. Patrícia Mafra.

*DRA. PATRÍCIA MAFRA: Dermatologista, membro titular da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD). Graduada em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais (FCM-MG), com estágio em Dermatologia pelo Grupo Santa Casa e acompanhamento do Serviço de Ginecologia e Sexologia do Hospital Mater Dei, Dra. Patrícia Mafra é expert em injetáveis e speaker em eventos nacionais e internacionais, palestrando sobre temas ligados à área de atuação. A dermatologista também foi preceptora de Medicina Estética do Instituto Superior de Medicina (ISMD).

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