«Todos os povos vivem, mais ou menos, confinados no amor de si próprios. Mas a maneira como os portugueses se comprazem nessa adoração é verdadeiramente singular. Portugal vive-se ‘por dentro’ numa espécie de isolamento sublimado, e ‘por fora’ como o exemplo dos povos de vocação universal, indo a ponto de dispersar o seu corpo e a sua alma pelo mundo inteiro.»
EDUARDO LOURENÇO, «TEMPO PORTUGUÊS», PORTUGAL COMO DESTINO SEGUIDO DE MITOLOGIA DA SAUDADE, 1999.
Qual o poder da arquitetura? Porque se diz que não é possível imaginar um país sem pensar na sua arquitetura? A arquitetura é a imagem de um povo? Podemos falar de uma diáspora da arquitetura portuguesa? A afirmação da arquitetura moderna portuguesa tem sido acompanhada por uma crescente internacionalização que conduziu hoje ao reconhecimento pleno e unânime de uma produção arquitetónica de referência mundial. Neste processo, as viagens de estudo, os contactos entre arquitetos, escolas e organizações, os prémios associados à difusão mundial, desempenharam um papel fundamental tendo conduzido à consagração de obras e autores. Neste ciclo, entre a «habitação para o maior número» e a monumentalidade da Obra Pública, o percurso da arquitetura moderna portuguesa é realizado a partir do início do século XX até à atualidade. O objetivo destas conversas não é simplesmente discutir obras de referência, ação de criadores ou iniciativa de encomendadores, mas usá-las para promover o debate de ideias em torno do papel da arquitetura na sociedade e da sua contribuição para a construção de um mundo melhor.
PROGRAMA:
6 Março | 18:00 às 19:00
Progressistas e Culturalistas no dealbar do século XX. Ventura Terra (1866-1919) e Raul Lino (1879-1974).
Entre a Inovação e a Tradição (Marques da Silva, Álvaro Machado, Adães Bermudes, Rosendo Carvalheira).
A questão da casa portuguesa.
Teixeira de Pascoaes, a arte de ser português, 1915; Raul Lino, A Casa Portuguesa, 1929.
13 Março | 18:00 às 19:00
O Primeiro Modernismo, novos materiais e novos programas. O Capitólio, o IST e o Pavilhão do Rádio.
Arquitetura, Ideologia e Imagem de Poder. Duarte Pacheco e a Política de Obras Públicas. Pardal Monteiro (1897-1957); Jorge Segurado (1898-1990); Cassiano Branco (1897-1970); Cristino da Silva (1896-1976), Carlos Ramos (1897- 1969)
I Salão dos Independentes, Lisboa, SNBA, 1930; Orfeu, Luís de Montalvor, e a Ática.
20 Março | 18:00 às 19:00
Afirmação da Arquitetura Moderna: Congresso, ICAT e ODAM. O Inquérito à Arquitetura Regional Portuguesa. Fernando Távora (1922-2005), Keil do Amaral (1910-1975), Nuno Teotónio Pereira (1922-2016). Fundação Calouste Gulbenkian: a Obra Global com Ruy d’Athouguia, Alberto José Pessoa e Pedro Cid, Ribeiro Telles e Viana Barreto.
Keil do Amaral, Uma Iniciativa Necessária, 1947; Fernando Távora, O problema da casa portuguesa, 1947; Orlando Ribeiro, Portugal o Mediterrâneo e o Atlântico, 1945; Sofia de Mello Breyner Andresen, Mar Novo, 1958; A Arquitectura Popular em Portugal, 1961.
27 Março | 18:00 às 19:00
Dos anos 1960 ao processo SAAL e à afirmação da arquitetura portuguesa. Pluralidade e diversidade, situação pós-moderna e procura de uma identidade. Álvaro Siza (1933- ) e a internacionalização: Eduardo Souto Moura (1952-); Carrilho da Graça (1952-). Os Prémios Pritzker e as novas gerações: Aires Mateus, Paulo David, Falcão de Campos, ARX, Bak Gordon, João Mendes Ribeiro, Inês Lobo, João Favila, SAMI. Trabalhar com a memória e a história: do CCB à Expo 98 e à reconstrução do Chiado.
Eduardo Lourenco, Portugal como destino seguido de Mitologia da Saudade, 1999; Álvaro Siza, Profissão Poética, 1988
ANA TOSTÕES é Professora Catedrática no IST-Universidade de Lisboa e presidente do Docomomo Internacional. Durante o seu mandato, o Docomomo passou de uma organização maioritariamente europeia para uma dimensão global coordenando mais de 70 países nos cinco continentes (www.docomomo.com). Visiting Professor da Universidade de Tóquio, da École Polytechnique Fédérale de Lausanne, Katholik University Leuven, da Escola Tècnica Superior d'Arquitectura de Barcelona, da Universidad de Navarra e da Universidade do Porto. Comissariou a Exposição Arquitectura do Século XX em Portugal, patente no CCB e no Deutsches Architektur Museum, em Frankfurt. Publicou Idade Maior, Cultura e Tecnologia na Arquitectura Moderna Portuguesa (FAUP, 2015) galardoada com o Prémio da X Bienal Ibero-Americana de Arquitectura y Urbanismo e editou Arquitectura Moderna em África: Angola e Moçambique distinguido com o prémio Prémio Gulbenkian da Academia Portuguesa de História (2014). É atualmente investigadora responsável do projeto Cure and Care focado no estudo dos equipamentos de saúde construídos em Portugal no século XX.
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