DO TEXTO:
“Escritor do Mês na Biblioteca Camões” – ANTÓNIO JACINTO | CCCP Luanda 05 e 26/11
10ª Edição – dias 5 e 26 de Novembro de 2018
a partir das 10H00
Das mentiras loucas que me envolvem
Vou quebrando os liames um a um
E da angústia da libertação
nascerá um dia a paz/ do ser e do não ser
António Jacinto in “Libertação
O CAMÕES/CENTRO CULTURAL PORTUGUÊS, no quadro do seu desígnio de promoção da língua portuguesa e de divulgação de autores de língua portuguesa, criou na sua BIBLIOTECA um Núcleo de Leitura que revisita autores consagrados de língua portuguesa, através da leitura colectiva de extractos das respectivas obras e biografias. Este Núcleo de Leitura, com momentos interactivos, conta com participação activa de jovens, sobretudo, estudantes universitários e pré-universitários, utentes da Biblioteca.
Em dois dias de cada mês, a obra e a biografia do autor escolhido são revisitadas e analisadas.
Na 10ª Edição/Novembro de 2018 do “Escritor do Mês na Biblioteca Camões”, nos dias 5 (2ª feira) e 26 de Novembro (6ª feira), a partir das 10H00, em alusão às comemorações da Independência Nacional, será revisitada a obra e a biografia do Poeta angolano ANTÓNIO JACINTO.
António Jacinto nasceu em 28 de Setembro de 1924, em Luanda, e morreu em 23 de Junho de 1991, em Lisboa. Usou também o pseudónimo de Orlando Távora, para assinar alguns contos. Fez o curso do liceu em Luanda e trabalhou como empregado de escritório. Foi fundador, com Viriato da Cruz, do muitíssimo efémero Partido Comunista Angolano (logo dissolvido no movimento nacionalista que ajudaram a formar). Esteve preso, por actividades políticas anti-coloniais, de 1962 a 1972, a maior parte do tempo, no Tarrafal. Com excepção dos anos de prisão fora do seu país, viveu praticamente toda a vida em Luanda. Ainda antes da independência de Angola, dirigiu o Centro de Instrução Revolucionária do MPLA. Foi Ministro da Cultura (1975-78) e membro do Comité Central do MPLA.
Como o próprio autor admitiu, num depoimento de 1981, nunca escreveu para fazer carreira das letras, mas por imperiosa necessidade vital (cultural, afectiva, política). Escreveu Manuel Ferreira, na introdução ao seu conto inicial, que ele era «uma espécie de apólogo, de fábula didáctica, apontando para o realismo socialista», característica que perdurou na sua criação literária e que ele transpôs para a própria vida de militante da libertação nacional.
Formado na estética neo-realista, a sua poesia da fase heróica, escrita aquando do incremento grupal das literaturas angolana e africana (na viragem da década de 40), individualiza-se em poemas que permanecem como ícones sintomáticos e imprescindíveis dessa época: «Carta dum contratado», «Poema da alienação», «Monangamba» e «Castigo pró comboio malandro». Neles se encontram temas da dialética marxista e do Neo-realismo: alienação, analfabetismo, contrato, exploração e revolta. Noutro grupo de poemas (de que faz parte o também muito conhecido «Grande desafio»), são visíveis a temática e o estilo comuns aos poetas ligados a Benguela (Aires de Almeida Santos, Alda Lara, Ernesto Lara Filho), privilegiando quadros idílicos da infância, dos quintalões aprazíveis, das mulatas sensuais (tópico retomado, desde sempre, por poetas oitocentistas ou coloniais), da natureza avassaladora e pródiga.
António Jacinto publicou poemas escritos na prisão em Sobreviver em Tarrafal de Santiago (s.d. – 1985), que, a par de uma mais vincada adopção do sarcasmo e do vitupério contra o colonialismo, procura sugerir o clima concentracionário do campo prisional ironicamente localizado em Chão Bom.
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