Uma crónica de saudade

DO TEXTO:
Esta fotografia a preto e branco sobreviveu a uma inundação num quarto andar e daí não estar muito explícita nalguns centímetros quadrados mas, no essencial, estão todos: a Ivone Chinita, o J. H. Santos Barros e as gémeas. A fotografia terá sido tirada em 1981 ou 1982
Fonte: AspirinaB



Uma dupla de reconhecidos poetas


Por: Carlos Alberto Alves
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Faz anos que faleceram Ivone Chinita e Santos Barros, dois vultos da poesia portuguesa. Um trágico acidente de viação, quando se deslocavam para a cidade de Évora, ceifou as vidas deste casal que se uniu pela poesia. Ambos se conheceram num espetáculo e acabaram por contrair matrimónio.

José Henrique Santos Barros foi meu amigo de infância e colega de estudo. Por mim, quando me iniciei nas lides jornalísticas, sempre teve o maior carinho e admiração, chegando, inclusive, a ser um dos críticos pela construtiva, naturalmente. Sempre me dizia: “Carlos, continua com todo esse frenesim, o teu futuro passa por um grande jornal”. E, de fato, assim aconteceu. E, de fato, passe a imodéstia, a minha carreira, já com 47 anos (a 10 de Março de 2012 completo os 48) de atividade, corrobora que todos aqueles que acreditaram no meu sucesso, podem-se orgulhar disso mesmo. E Santos Barros foi um desses amigos que sempre me incentivou. Quando estudávamos, Santos Barros adorava falar francês, quando estava numa cavaqueira de amigos e/ou quando se encontrava com os mesmos na rua. Às vezes, ao entrar de manhã no café e ele lá se encontrava, já sabia que tínhamos café português misturado com uma conversinha em francês. E, ao chegar à porta do nosso café habitual – uma pastelaria do pai de um amigo nosso -, começava por dizer: “Alors, Monsieur Barrô”. E lá vinha a resposta: “vos bien?”. Depois, em surdina, falávamos da professora de francês, D. Maria Alice Borba, que, pela sua boniteza (dos pés à cabeça), nos prendia com os olhos – o resto, óbvio, não posso dizer.

Quando em 21 de Agosto de 1966 dirigi em Angola o jogo entre a seleção local e a Associação Académica de Coimbra (que por lá digressionou), a ficha do jogo apareceu no jornal “A Bola” (sempre em todas) e, quando a edição chegou a Angra do Heroísmo, Santos Barros, com toda a sua ternura de um verdadeiro amigo, passava a palavra aos amigos: “foi o Carlos que dirigiu o jogo e expulsou um jogador (Bernardo) da Académica”. Claro que, posteriormente, muitos outros amigos, levados pelo ênfase de Santos Barros, acabaram por adquirir um exemplar do jornal ”A Bola”.

É desse verdadeiro amigo que tenho saudades. Um poeta de se lhe tirar o chapéu. “Alors; Monsieur Barrô”, quando aí chegar ao “outro lado da vida” vamos continuar a manter aquele diálogo em francês. Mas, sempre te recordo quando, por exemplo, ouço Roberto Carlos cantar em francês, o que não é muito usual no Rei. Gosta mais do espanhol, o que até se compreende.

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