Tributo a Roberto Carlos - Armindo Guimarães - Porto-Portugal

DO TEXTO: Rumemos à nau que nos está reservada, a Capitânia, comandada por Cabral e ultimemos os preparativos.
No final dos concertos sempre superlotados do cantor e compositor Roberto Carlos, os espectadores, quiçá por lhes saber a pouco tanta emoção, pedem os habituais bis que o Rei da MPB normalmente concede. E dizemos, normalmente, porque, de facto, aquando de shows realizados no seu país, raramente os bis são concedidos.


Roberto Carlos é Brasil, é brasuca!
 
Por: Armindo Guimarães

UMA VIAGEM VIRTUAL

No final dos concertos sempre superlotados do cantor e compositor Roberto Carlos, os espectadores, quiçá por lhes saber a pouco tanta emoção, pedem os habituais bis que o Rei da MPB normalmente concede. E dizemos, normalmente, porque, de facto, aquando de shows realizados no seu país, raramente os bis são concedidos.

E o que em Terras de Vera Cruz é raro, no exterior é prática corrente, já que Roberto Carlos sempre presenteia os seus auditórios com o desejado bis, sendo que nas digressões a Portugal o tris é já uma tradição.

Não é pois de admirar que os fãs brasileiros se interroguem e sintam até uma certa dose de ciúme perante o inexplicável comportamento do seu ídolo.

Mas será que tal comportamento é inexplicável?

Partindo do princípio que nada é inexplicável e que tudo se explica, se não na fonte, através do recurso a métodos que melhor a substituam, podemos, baseados na teoria que diz que ao passado se podem ir buscar atitudes do presente, procurar descobrir uma resposta plausível na época dos Descobrimentos. Assim, convido os estimados leitores a participarem comigo numa viagem virtual patrocinada por Dom Manuel I O Venturoso, e comandada por Pedro Álvares Cabral, alcaide-mor de Azurara e Senhor de Belmonte, na maior e mais preparada frota composta por dez naus e três caravelas dotadas de bom armamento e de poderosa artilharia. Tudo que há de mais avançado em tecnologia naval na Europa e no mundo.

Aos viajantes virtuais somente se põe como condição que por motivos de espaço físico, apenas levem para a nau um saco de pano com o essencial para a viagem, ou seja, duas mudas de roupa, dois pares de sapatos e dois chapéus para o que der e vier. Para a ocupação dos tempos livres, apenas podem levar seis livros, uma resma de papel A4, meia dúzia de esferográficas e uns binóculos.

Objectos como computadores portáteis, rádios, máquinas fotográficas, telemóveis, e outros, não são autorizados a bordo, não só por uma questão de gestão do espaço na nau, mas também pelo facto de que as funções desses aparelhos não funcionam na época em que vai ser realizada a viagem.

A GRANDE VIAGEM
Domingo, 8 de Março de 1500

AS CERIMÓNIAS
Quarta-feira, 22 de Abril

Juntemo-nos ao povo presente nas cerimónias que antecedem a grande viagem.

Entremos na Capela de Nossa Senhora de Belém, diante da praia do Restelo, e exalemos o intenso odor a incenso. Participemos nos cânticos solenes, ao mesmo tempo que avistamos El-Rei D. Manuel I “O Venturoso”, que entrega a bandeira e a cruz a Pedro Álvares Cabral, além de um barrete benzido pelo papa especialmente para a ocasião.

Terminada a missa, sigamos com a comitiva para a praia.

Em grandes botes enfeitados, mais de 1500 homens, entre mercadores, pilotos, marinheiros, grumetes, degredados, carpinteiros, caldeireiros, ferreiros, torneiros, soldados e especialistas em navegação, dirigem-se às respectivas naus e caravelas ancoradas ao largo do rio Tejo.

Rumemos à nau que nos está reservada, a Capitânia, comandada por Cabral e ultimemos os preparativos. Acomodemo-nos o melhor possível e recebamos a ração que nos é destinada. A nós, marinheiros virtuais, cabe-nos a ração mensal de 15kg de carne salgada, cebolas, vinagre, pão, grãos, ervilha seca, semente de mostarda, sal, açúcar, sebo, manteiga, farinha de trigo, frutas secas, vinho, cerveja e sidra, além de 400g diárias de biscoito duro e salgado e uma canada diária (1,4 litro) de vinho armazenado em 200 pipas por navio. Haverá, também, o peixe pescado ao longo da viagem, mas isso apenas quando as condições o permitirem.

Como os alimentos são todos crus, a bordo existem dois fogões situados no convés, um de cada lado do navio, dos quais todos temos que nos servir, o que resulta que muitas vezes iremos ter que atear pequenas fogueiras no convés, pelo que alertamos desde já todos os viajantes virtuais para os perigos que tais fogos representam face a um qualquer descuido, tanto mais que, para além de não existirem bombeiros a bordo, a água é um bem precioso que não pode ser esbanjado a apagar incêndios provocados por negligentes marinheiros virtuais. A propósito de água, é bom que todos saibam que tomar banho está fora de questão, pois está provado que faz mal à saúde.

O enjoo marítimo é muito frequente a bordo e acontece até aos mais experientes navegadores. Pelo sim, pelo não, existem baldes espalhados por todo o convés, não só para o efeito mas também para as necessidades primeiras, sendo que não é permitido cortar o pano das velas seja a que pretexto for, e muito menos para actos supérfluos como são os de higiene.

A grande viagem está aprazada para o dia seguinte e todos já estão a postos para a partida. Porém, porventura atemorizados com as condições a bordo da nau, alguns dos viajantes virtuais decidiram arrepiar caminho, pelo que o organizador da viagem virtual, valendo-se da amizade, confiança e influência que tem junto do Capitão-mor, falou-lhe ao coração dizendo:

- Ó Pedro, estou tramado, pá! Há aqui uns gajos que se inscreveram para viajarem virtualmente, mas agora que viram as péssimas condições e os trabalhos por que vão passar, querem voltar pra terra…

- Caramba, Mindo! Pediste-me pra meter uma cunha ao Manel pra essa coisa da viagem virtual e ele reuniu a corte pra decidir favoravelmente sobre o assunto, ordenando até que fossem providenciadas melhores condições logísticas, tais como mais víveres, mais baldes novos para as necessidades, mais um barbeiro para tratar das feridas e extrair dentes, mais um cirurgião e duas caixas de botica, mais dois pajens, cartas de jogar, dados e eu sei lá que mais, e agora vens-me dizer que há desistências!? Estou f…!

- Ó Pedro, não te enerves, pá! Vê mas é se arrumas aí uns botes pra levar os desistentes pra terra, senão tás lixado que os gajos ainda te vomitam o convés todo! Eheheheheh

- Por Santiago! Ainda nem sequer zarpei e os problemas já me entram pela nau adentro. Que mais me irá acontecer?!

- Tu nem imaginas, Pedro! Tu nem imaginas…

EMOÇÕES EM ALTO-MAR
Segunda-feira, 9 de Março

A PARTIDA
Pela tarde, já com os desistentes da viajem virtual em terra e os ventos favoráveis, os navios fazem-se ao largo. A esquadra está em alto-mar, navega em ritmo razoável rumo ao sul. A velocidade média é de 5,8 nós, ou quase 11 quilómetros por hora. Os viajantes virtuais deambulam pela nau, uns no porão ou na coberta, outros no convés ou na amurada olhando expectantes a imensidão do oceano.

Domingo, 22 de Março
EM CABO VERDE

Após, breve paragem nas ilhas Canárias, a armada chega a Cabo Verde e aí a tripulação aproveita para finalmente pisar terra firme, renovar as reservas de água e efectuar pequenas reparações na nau, actividades que os viajantes virtuais também participam, exceptuando uns quantos para quem catorze dias passados na nau, foi como catorze anos de trabalhos forçados. Estes optam por desenferrujar as pernas vagueando pela praia e mergulhando nas águas do Atlântico, feitos turistas, como se tivessem acabado de sair de um luxuoso transatlântico. Um desses “turistas” é o organizador da viagem virtual que, enjoando mais por andar a pé do que de barco, decide ir ter com o capitão-mor da nau para lhe falar acerca dos planos da viagem.

- Ó Pedro, chegaste a falar ao Rei Dom Manuel daquela minha ideia, pá?!

- Claro que cheguei a falar e ele achou a ideia porreira. O Duarte Pacheco Pereira já esteve lá em 1498, e comunicou logo o achamento ao Manel. Olha, por acaso até tenho aqui no bolso uma parte do seu “Tratado dos Novos Lugares da Terra”. Pega nele e lê.

- Ó Pedro, tens cada uma do carago, pá! Como é que queres que eu leia esse pergaminho, se eu não percebo patavina do que está aí escrito?!

- Não me digas que no Século XXI de onde vens, já não se fala nem escreve português, caramba?!

- Não é isso, pá! Acontece que em 508 anos muita coisa mudou, incluindo a nossa língua. Mas tenho uma surpresa para ti, Pedrocas! A língua portuguesa, com mais de 215 milhões de falantes nativos, é a quinta língua mais falada no mundo e a terceira mais falada no mundo ocidental. E esta, heim?!

- Porra! Em 508 anos isso não é nada, pá!

- Não é nada?! E se tu não andares da perna estamos tramados que dos 215 milhões vais ter que tirar 184, restando apenas 31 milhões. Lê-me o pergaminho e deixa-te de coisas!

- Diz assim, o “Tratado dos Novos Lugares da Terra” do Duarte Pacheco Pereira: No ano de Nosso Senhor de 1498, Vossa Alteza nos mandou descobrir a parte ocidental, passando a grandeza do Mar Oceano, onde é achada e navegada uma vasta terra firme, grandemente povoada de gente parda, mas quase branca…

- Ena, pá!

- Por isso é que o Rei D. Manuel achou fixe a tua ideia de a nossa armada fazer-se de perdida e em vez de seguir directamente para a Índia, fazermos um desvio rumo a Terra de Vera Cruz antes que os castelhanos se lembrem.

A frota deixa Cabo Verde rumo à Índia.

O NAUFRÁGIO

Entretanto, uma das naus simplesmente desaparece e apesar das diligências feitas para encontrá-la, durante dois dias de infrutíferas buscas, nunca mais se soube do seu paradeiro. Cento e cinquenta homens tinham sido «comidos pelo mar». Das 13 ficam 12.

O naufrágio da nau comandada por Vasco de Ataíde, impressionou grandemente todos os viandantes da frota, em especial os viajantes virtuais a bordo da Capitânia, cujo convés era palco de lamentos e promessas a uma Nossa Senhora de Fátima que o capitão-mor e toda a tripulação nunca antes ouviram falar.

Já aqui dissemos que por motivos de ordem logística, aos viajantes virtuais tinha sido imposta como condição apenas levarem para a nau um saco de pano com determinado limite de artigos pessoais, excluindo aparelhos que na época em que viajamos nem sequer funcionam. Apesar disso, a vistoria realizada antes do embarque detectou que alguns viajantes virtuais, para além de se fazerem acompanhar de sacos plásticos dum qualquer hipermercado, em vez de pano como tinha sido recomendado, tentaram levar para bordo material não autorizado, como foi o caso de uma viajante que consegui meter dentro do seu saco um televisor para, segundo se soube depois, acompanhar o enredo da telenovela “Gabriela, cravo e canela”, esquecendo que na nau não havia energia eléctrica que só muitos anos depois iria ser descoberta e que, mesmo que houvesse, o televisor não poderia transmitir som e imagens que ainda não tinham sido gravados.

Mesmo assim, como é natural da pessoa humana tentar iludir as regras impostas, alguns viajantes virtuais conseguiram levar para bordo pequenos objectos, tais como telemóveis, PDA, GPS, câmaras digitais, MP3, DVD, CD e leitores de CD, todos eles obsoletos numa viagem ao passado, como se comprovou aquando do naufrágio das cento e cinquenta almas que iam a bordo da nau comandada por Vasco de Ataíde, em que alguns viajantes virtuais munidos de telemóveis, logo ligaram o número de emergência numa tentativa de que alguém aparecesse para salvar as vítimas.

Tal maquinaria, apenas era mais um enigma aos olhos dos outros viajantes da nau que, curiosos que andavam com a vista de gente tão estranha no falar e no vestir, ainda por cima as viam com objectos que com certeza seriam amuletos de estimação, ou muito simplesmente engrenagens como aquelas que as crianças usam para brincar, coisa que os viajantes virtuais muito gostavam de fazer quando não estavam entretidos a ler, facto que também era estranho numa época em que raros eram os versados na matéria, como por exemplo o conceituado Pêro Vaz de Caminha, autor duma carta a El-Rei D. Manuel I, que irá ficar célebre.

INCIDENTE A BORDO

E por falar em entretimento, não se sabe como, mas um dos viajantes virtuais conseguiu levar para bordo uma bola de futebol. E hoje, estando no convés a dar uns chutos com outros viajantes virtuais, aconteceu que um deles acertou com a bola em cheio nas nádegas do bombardeiro que estava a proceder à limpeza de um dos canhões da nau. E, como se não bastasse ter apanhado com tremenda bolada em sítio tão sensível, ainda por cima o bombardeiro teve o azar de se desequilibrar caindo desamparado para a frente, batendo com a cabeça na boca da bombarda.

O episódio gerou uma troca de palavras azedas entre o bombardeiro que jorrava sangue da cabeça e os viajantes virtuais que tinham estado a jogar à bola. Estava já o bombardeiro com uma bola de canhão em cada mão, pronto a, qual canhão, arremessa-las aos futebolistas virtuais, quando por milagre surge o escrivão-mor Pêro Vaz de Caminha, que para além de ser um especialista na escrita, também o deve ser na fala, pois com uma breve alocução conseguiu pôr fim à contenda.

Talvez para aliviar o peso do incidente, os viajantes virtuais puseram-se a cantar canções robertocarlisticas, cada qual cantando a sua preferida, facto que ao contrário do jogo da bola, proporcionou um agradável clima a bordo da nau, já que os próprios tripulantes se sentiam atraídos por aquelas canções nunca antes ouvidas.

É UMA BRASA, MORA!

Entretanto, o organizador da viagem virtual cantava “de que vale o céu azul e o céu sempre a brilhar…”, enquanto subia à gávea para ver se havia terra à vista, quando o seu conterrâneo portuense Pêro Vaz de Caminha, de quem é amicíssimo, dirige-se a ele, dizendo:

- Ó Mindo, tás porreiro, pá! Como é que está isso aí em cima?

- Olá, Pêro! Estamos lixados, pá! Nunca mais avistamos terra, carago!

- Tem calma, pá! Já faltou mais do que o que falta. Tenho andado a pensar nesta malta esquisita que trouxeste contigo e cheguei à conclusão que daria um bom relato para enviar a El-Rei. Sabes que o gajo gosta que eu lhe conte sempre as coisas mais estranhas que encontramos durante as nossas viagens ao desconhecido. Alguns andam com uma camisa que tem ao peito a cara de um homem, tendo por baixo os seguintes dizeres: “Rei Roberto Carlos”. Que rei é esse e onde é o seu reino? D. Manuel bem que gostaria de fazer trato com ele.

- Ó Pêro, Roberto Carlos não é um rei, pá! Não te esqueças que eu e esta malta somos do futuro, ou seja, do ano de 2008. Ora, se neste momento estamos no ano de 1500, nós só vamos existir daqui a 508 anos! Eheheheheh

- F…! Então como é que vocês estão aqui neste momento, carago?!

- Ó pá, é difícil de explicar, pois em 508 anos as coisas mudaram mais do que do ano 1 até agora ao ano de 1500. Aliás, pode-se dizer que o impulso para tão grande mudança está precisamente a ter inicio agora com a gesta heróica dos portugueses dando novos mundos ao mundo, como este que oficialmente só agora vamos achar. A maior parte dos viajantes virtuais são dessa terra e é por isso que falam português.

- Mas se esse Roberto Carlos não é rei, porque é que vocês viajantes virtuais dão-lhe tanta importância?

- Ó pá, o gajo é chamado de rei porque é, digo, vai ser, o melhor cantor da Terra de Vera Cruz. O gajo canta bem em qualquer idioma, é certo, mas em português é o delírio! Para além de difundir a língua lusa pelos quatro cantos do mundo, ainda por cima espalha amor aos corações e mensagens de paz e de fé em Deus, alertando todo o mundo para os problemas do dia-a-dia. Ó Pêro, sabes do que me estou a lembrar? Vocês em vez de Terra de Vera Cruz, podiam era chamar Brasil em honra do Roberto Carlos, pois foi ele que criou a expressão sui generis: “É uma brasa, mora!”. Eheheheheh

- Se esse Roberto Carlos é assim como dizes, realmente o gajo merece que o tratem bem e, por isso, não admira ele ter tanta malta que o admira. Brasil até que é um nome porreiro, mas o pior é como vamos justificar esse nome.

- Ó Pêro, é fácil, pá! Como em Terra de Vera Cruz existem pra carago aquelas árvores de casca avermelhada a fazer lembrar o fogo, a brasa, a malta baptizava-as de pau-brasil e depois, para disfarçar, dizíamos que o nome Brasil provinha da árvore pau-brasil, e estava arranjado um bom motivo para o nome. Eheheheheh

- A ideia é boa, mas sabes que eu não posso decidir sozinho. Por isso, vou falar no assunto ao Pedro e se o gajo aceitar, então ficará Brasil.

TERRA À VISTA!

Da gávea, um marinheiro grita: TERRA À VISTA!

Um monte redondo e alto, muito arvoredo na terra chã. Ao monte, o Capitão-mor chama Pascoal e à terra dá o nome de Vera Cruz. Anoitece e resolve ancorar a seis léguas da costa. Enquanto isso, o marinheiro virtual Eduardo, natural de Castelo Branco, actualmente a trabalhar nas Lages, na Praia da Vitória, nos Açores, e que tinha a mania que era músico, andando sempre com uma batuta presa à cinta por um cordel, com medo de perdê-la ou que alguém a roubasse, entendeu que tão significativa descoberta devia ser comemorada com uma não menos significativa cerimónia. Por isso, pediu autorização ao Capitão-mor para que toda a comitiva se reunisse no convés para uma breve cerimónia.

Estando toda a malta reunida no convés, certamente pensando que mais uma missa se ia realizar, com sermão e tudo, quando em vez de Frei Henrique aparece Eduardo das Lages que usou da palavra: “Oi, pessoal! Hoje é um dia especial e por isso me estou dirigindo a todos vocês a fim de a uma só voz comemorarmos dignamente o achamento da terra que nos verá nascer. E como estamos diante de uma montanha que nosso Capitão-mor batizou de Pascoal, eu proponho que todos cantemos aquela música que vocês bem conhecem: “A montanha” da autoria de nosso Roberto e de nosso Tremendão Erasmo. Támos nessa, gente?!”.

Não foi preciso responder. Instrumentos da época, tais como gaitas-de-foles, trombetas, atabaques, sestros, tambores, flautas, pandeiros, tamborins, cascavéis (guizos), tambeiros, foram distribuídos pela comitiva e Eduardo das Lages, de batuta na mão, dirigiu a música que todos cantaram em coro.

Eu vou seguir uma luz lá no alto
Eu vou ouvir uma voz que me chama
Eu vou subir a montanha e ficar
Bem mais perto de Deus e rezar
Eu vou gritar para o mundo me ouvir e acompanhar
Toda a minha escalada e ajudar
A mostrar como é
O meu grito de amor e de fé
Eu vou pedir que as estrelas não parem de brilhar
E as crianças não deixem de sorrir
E que os homens jamais
Se esqueçam de agradecer
Por isso eu digo:
Obrigado, Senhor, por mais um dia
Obrigado, Senhor, que eu posso ver
Que seria de mim
Sem a fé que eu tenho em Você?
Por mais que eu sofra
Obrigado, Senhor, mesmo que eu chore
Obrigado, Senhor, por eu saber
Que tudo isso me mostra
O caminho que leva a Você
Mais uma vez
Obrigado, Senhor, por outro dia
Obrigado, Senhor, que o sol nasceu
Obrigado, Senhor
Agradeço, obrigado, Senhor
Por isso eu digo
Obrigado, Senhor, pelas estrelas
Obrigado, Senhor, pelo sorriso
Obrigado, Senhor
Agradeço, obrigado, Senhor
Mais uma vez
Obrigado, Senhor, por um novo dia
Obrigado, Senhor, pela esperança
Obrigado, Senhor
Agradeço, obrigado, Senhor
Por isso eu digo
Obrigado, Senhor, pelo sorriso
Obrigado, senhor, pelo perdão
Obrigado, Senhor
Agradeço, obrigado, Senhor
Mais uma vez
Obrigado, senhor, pela natureza
Obrigado, Senhor, por tudo isso
Obrigado, Senhor
Agradeço, obrigado, Senhor

A RECEPÇÃO
Quinta-feira, 23 de Abril

Avançamos até meia légua da terra, direitos à boca de um rio. Sete ou oito homens pela praia. Cabral manda Nicolau Coelho a terra. Quando vara o seu batel, já correm para ele cerca de vinte homens pardos. Todos nus, sem nada que cubra as suas vergonhas. Setas armadas, cordas tensas, chegam dispostos ao combate. Mas Nicolau Coelho, por gestos, faz sinal que pousem os arcos em terra e eles os pousam.

O quebra-mar é forte. Mal se podem entender marinheiros e nativos. Mas Nicolau dá-lhes ainda um barrete vermelho e um sombreiro preto e, por troca, recebe um colar de conchinhas e um sombreiro de penas de ave, com plumas vermelhas, talvez de papagaio.

PORTO SEGURO
Sexta-feira, 24 de Abril
 
Achamos uma angra e antes do sol-posto lançamos ferro e àquele lugar o Capitão-mor dá o nome de Porto Seguro. Depois faz muitas recomendações a Afonso Lopes, que nunca baixe a guarda, que não se deixe apanhar desprevenido e manda-o a terra num bote. E o piloto, que é homem destro, com muita amizade e gentileza consegue recolher dois daqueles mancebos que em terra corriam e, com muito prazer e festa, a bordo são recolhidos. 

A FESTA
Domingo, 26 de Abril 

É domingo de Pascoela e o Capitão-mor determina que Frei Henrique cante missa num ilhéu que há na entrada daquele porto, a qual é ouvida com devoção, com Cabral empunhando a bandeira de Cristo que trouxera de Belém. E durante a missa muitos nativos aproximam-se nas suas canoas feitas de troncos escavados e recebem dos capitães da frota trombetas e gaitas que tocam juntando-se aos navegantes.

O Capitão Diogo Dias, que é homem gracioso e de prazer, leva consigo um gaiteiro e mete-se a dançar com todo aquele povo, homens e mulheres, tomando-os pelas mãos, com o que eles folgam e riem muito ao som da gaita.

MOÇAS MUITO MOÇAS E GENTIS
Sábado, 25 de Abril

Pela manhã o Capitão-mor manda Nicolau Coelho, Pêro Vaz de Caminha e Bartolomeu Dias levar a terra os dois mancebos. E muitos homens os cercam e falam e gritam mas tudo sempre em jeito de amizade. Também algumas moças muito moças e gentis, com cabelos muito pretos e compridos a tombar pelas espáduas e suas vergonhas tão altas e cerradinhas que delas vergonha não pode haver.


O FUTEBOL

Toda, ou quase toda a tripulação da armada, incluindo os viajantes virtuais, estão em terra vivendo os acontecimentos, cantando e rindo. O tal viajante virtual que teria subvertidamente levado para bordo a bola de futebol que tanta celeuma criou, levou-a para a praia para gáudio de outros que com ele aproveitaram para jogarem à bola improvisando balizas com pedras achadas à beira-mar.

O jogo despertou a atenção de toda a comitiva da frota e dos mais de 400 nativos que observavam estupefactos, certamente pensando que ritual seria aquele. Cabral, mostrando-se interessado pelo que se estava a passar, foi ter com o organizador da viagem virtual e perguntou-lhe:

- Ó Mindo, o que é que a malta está a fazer, pá?! Não gostam da esfera e por isso estão a pontapeá-la?

- Não é isso, pá! Eheheheheh Trata-se de um jogo entre duas equipas, sendo que cada equipa é composta de 11 jogadores. Existe uma área rectangular que é dividida em duas partes, ficando cada equipa numa parte e o objectivo é não deixar o adversário entrar na sua parte e meter a bola entre aquelas pedras, que se chama baliza, e ao mesmo tempo tentar entrar pela parte adentro do adversário para meter a bola na sua baliza. É mais ou menos assim.

- Então vamos formar dois grupos. Um grupo entre os capitães da armada e outro entre os Tupi.

E se assim se pensou, melhor se fez, ficando as equipas assim constituídas:

Os Tupi
1 – Airy (Palmeira)
2 – Moema (Doce)
3 – Cauã (Gavião) – Capitão da equipa
4 – Guaraci (Sol de verão)
5 – Potira (Flor)
6 – Jaciara (Luar)
7 – Jaci (Lua)
8 – Araquém (Pássaro)
9 – Piatã (Forte)
10 – Tinga (Branco)
11 – Anauá (Pau de flor)

Equipamento: todos nus

Os Capitães da armada
1 – Gaspar de Lemos
2 – Pêro de Ataíde
3 – Diogo Dias
4 – Bartolomeu Dias – Capitão da equipa
5 – Nicolau Coelho
6 – Luís Pires
7 – Pedro Alvares Cabral
8 – Nuno Leitão da Cunha
9 – Aires Gomes da Silva
10 – Sancho Tovar
11 – Simão de Pina

Equipamento: todos vestidos

Árbitro:
Organizador da Viagem Virtual

Equipamento: Calção branco às bolinhas azuis e camisa branca com a foto do LP de 1977, do Roberto Carlos.

Juízes de linha:
Açuã (Talo de espiga)
Cajuru (Boca do mato)

Equipamentos: todos nus

Colocada a bola ao centro, o árbitro, munido de um chocalho tupi, dá inicio ao jogo e as claques gritam apoiando as equipas. A equipa tupi entrou bem. Mais ousada que a equipa da frota, que apostava numa pressão alta para impedir que o meio-campo tupi pensasse o jogo. Mesmo assim, não tardou que o conjunto nativo criasse perigo. Na sequência de um canto, Anauã fez golo que o árbitro anulou por fora de jogo. A claque tupi reagiu de imediato com uma ladainha que ninguém entendeu, mas que por certo queria significar: “Fora o árbitro! Fora o árbitro! Gatuno! Gatuno! Gatuno!”.

O árbitro, que era luso com alma veracruciana, não entendendo os apupos, mas percebendo os gestos, vai daí e demite-se da sua função, entregando o apito, melhor dizendo, o chocalho, ao Frei Henrique que passou a dirigir o jogo.

Esse lapso de tempo foi o suficiente para a equipa da frota se recompor, passando a equipa tupi a sentir sérias dificuldades em entrar na área do adversário, onde o central Pedro Álvares Cabral se mostrava imperial. Porém, quando menos se esperava, Jaciara deu nas vistas. Primeiro, fez uma arrancada que só não deu frutos porque o remate saiu torto. Depois, na marcação de um livre directo, atirou forte em direcção à baliza do goleiro Gaspar de Lemos que num golpe de rins desviou a bola para fora.

Entretanto, a passe de Moema, Potira lança a bola em profundidade para Piatã que dominando o esférico com o peito desfere um potente remate sem hipóteses de defesa para o goleiro Gaspar de Lemos. Estava feito o 1-0 que a claque tupi festeja euforicamente com gritos de contentamento e uma salva de flechadas atiradas para o ar, facto que obrigou à debandada das duas equipas que se protegiam com as mãos na cabeça. Este incidente obrigou Frei Henrique a interromper o jogo durante cerca de 15 minutos a fim de que fosse mantida a ordem e recolhidas as setas caídas no terreno de jogo.

Retomado o jogo, a bola é novamente colocada ao centro, e Bartolomeu Dias dribla um tupi, outro e mais outro, centra para Cabral que por sua vez passa para o Simão de Pina que de calcanhar enfia a bola por baixo das pernas do goleiro da equipa tupi. Era o empate e agora foi a vez da claque da armada festejar entusiasticamente a alegria do golo. A um sinal de alguém da assistência, uma das 12 naus ancoradas ao largo, arremessa para o mar uma bombarda que ecoou pela praia, ferindo os tímpanos dos jogadores e das claques.

A jogada seguinte, iniciada por Guaraci, seria, talvez, a melhor jogada do encontro, não fosse ter resultado na saída em padiola de um seu colega de equipa, o Araquém, que, centrando brilhantemente para Jaci, este devolve com um pontapé potente para o mesmo Araquém que não pôde evitar receber a bola nas vergonhas, caindo inerte na areia, sendo imediatamente levado para fora do terreno de jogo e socorrido por um dentista que logo tratou de o massajar nas partes lesionadas. Com grande resultado, diga-se de passagem, pois Araquém veio a si numa fracção de segundos.

Dado o adiantado da hora, o árbitro deu por terminado o encontro que se saldou num empate a um golo e, num gesto significativo que tanto sensibilizou a equipa tupi e a sua claque, o Viajante Virtual dono da bola, ofereceu-a ao capitão tupi que, emocionado, retribuiu com um par de maracas.

Aquela bola de futebol irá ficar para sempre na Terra de Vera Cruz, e algo nos diz que os tupis farão bom uso dela.

A PROPOSTA
Segunda-feira 27 de Abril

Estava o organizador da viagem virtual todo refastelado à sombra duma palmeira a ler o seu velho livro “A vingança da mulher dos tremoços”, quando outro viajante virtual interrompe a sua leitura, dizendo:

- Oi, cara! Tá calor pra burro, pôxa!

- Olá, pá! Porque é que não fazes como eu e vais ao mar dar um mergulho e depois esticas-te aí à sombra da palmeira a ler um livro qualquer?

- Mindo, dá pra você falar com seu Cabral pra ele autorizar nós irmos até Cachoeiro de Itapemirim?

Antes de continuar o relato do diálogo, talvez seja oportuno dizer que o viajante virtual que agora fala com o organizador da viagem virtual, intitula-se súbdito do Rei Roberto Carlos desde os 12 meses de idade, e que, ao que parece, tem a mania que é o curioso número 1 sobre detalhes do seu Rei, daí que não seja de admirar aquele seu interesse pela terra onde nasceu o seu mais que tudo.

- Ó pá, vocês têm cada ideia do carago! Há pouco foi uma nossa amiga que queria que fossemos dobrar o cabo Horn de propósito só para irmos descobrir a sua terra, o Peru, antes que lá chegassem os castelhanos, e agora vens tu com essa de irmos descobrir Cachoeiro de Itapemirim. É dum gajo ficar doido!

- Mindo, não esquente, tá legal?! Diga aí se você também não gostava de conhecer a terra onde vai nascer nosso Roberto…

- Pensando bem, a ideia até que nem é má… Vamos falar com o Capitão-mor a ver o que se pode arranjar.

Acompanhado do viajante virtual que tem a mania que é súbdito e ainda por cima curioso, lá foi o organizador da viagem virtual ter com o Capitão-mor que por essa altura andava no areal de venda nos olhos a jogar à cabra-cega com alguns tupis e tripulantes da frota. O organizador da viagem virtual aproveitou e pôs-se à frente dele, retorquindo:

- Ó Cabral, dou-te um doce, se adivinhares quem eu sou, carago!

Ao dito da expressão “carago”, não foi difícil ao Capitão-mor adivinhar quem estava à sua frente, respondendo:

- Só pode ser um gajo do Porto! E esse gajo é o Mindo! Eheheheheh

O Capitão-mor tirou a venda dos olhos e, tendo confirmado que acertara, logo reivindicou o doce prometido. Porém, o Mindo, como é seu costume, remeteu a promessa do doce para outra ocasião, indo directo ao assunto.

- Ó Cabral, já que estamos aqui perto, podíamos dar uma saltada a Cachoeiro de Itapemirim. Foi lá, quero dizer… é lá que vai nascer o Roberto Carlos, pá!

Olhando para a foto do LP de 1979 que o súbdito trazia estampada na sua camisa, o Capitão-mor questionou:

- Esse que vocês chamam de Rei e não é? E onde fica essa terra? É longe daqui?

- Não, pá! E só seguirmos costa abaixo e em pouco tempo a malta está lá.

Depois de se aconselhar com os capitães da armada, o Capitão-mor aprova a ideia e no dia seguinte levantaram ferro duas naus capitaneadas por Nuno Leitão da Cunha e Luís Pires, com todos os viajantes virtuais a bordo, para além de Frei Henrique e de alguns marinheiros, grumetes, bombardeiros e três experientes tupis como guias.

A CAPITAL SECRETA DO MUNDO
Terça-feira, 28 de Abril

Com a ajuda de ventos favoráveis, as duas naus depressa chegaram a uma baía que o tupi Maimbá disse ser boa para fazermos aguada e que o sítio que queríamos descobrir ficava perto dali.

Depois de fazermos aguada e de descansarmos um pouco da viagem, rumamos a um sítio que o tupi Itabira disse podermos ancorar e fazermos prestes no descobrimento da terra, conselho que Gaspar de Lemos aceitou por bem.

Em terra, uma enorme pedra de cerca de 700 metros de altura domina a paisagem. Longe dali, duas altas montanhas de formas humanas despertaram a curiosidade geral, em especial do Frei Henrique que disse ter sentido uma qualquer vibração que lhe dizia que ali mesmo se deveria dar uma missa por quem tanto amou sem poder amar. Todos ficaram perplexos com o dito de Frei Henrique, mas ninguém quis questionar sobre coisas que só a fé explica.

Mais adiante, junto às margens de um grande rio, os guias tupis pararam num sítio que pelas indicações dadas pelo viajante virtual conhecido por Súbdito “O curioso”, seria o coração do sítio que um dia se iria chamar de “Cachoeiro de Itapemirim”. Aí, o tupi Abayomi (Alegre encontro), munido de uma pequena árvore originária das ilhas do Oceano Indico denominada “Delonix regia”, que lhe fora oferecida por Cabral, escava a terra plantando a árvore, após o que com o os tupis Maimbá e Itabira, realizam um ritual de dança em volta da árvore. Uns bons metros mais adiante, uma outra árvore foi plantada pelo tupi Maimbá e o mesmo ritual aconteceu. A árvore era nativa e alguém disse chamar-se “Genipa”.

O plantar das árvores foi um momento de emoção que toda a comitiva viveu, em especial os viajantes virtuais que, à falta de árvores para também plantarem, enterraram no sítio os objectos pessoais que levavam, tais como, CDs, DVDs, e camisas estampadas com a foto daquele que um dia ali iria nascer. Tudo coisas misteriosas naquele mundo.

Quem sabe um dia este sítio e estas árvores serão cantadas – disse Frei Henrique olhando para os viajantes virtuais que sorriram como que em resposta.

E por causa de tudo quanto aqui se passou hoje, talvez um dia este sítio seja conhecido pela “Capital Secreta do Mundo” – disse o organizador da viagem virtual, sempre pródigo a dizer o que não deve, piscando o olho ao viajante virtual, autor da ideia de estarmos ali.

E foi a magicar em tudo o que aconteceu naquele sítio, que todos regressamos às naus que nos esperavam para rumarmos a Porto Seguro.

30 de Maio, Quinta-feira
ESCRIVÃO-MOR DO REI É FÃ DE RC

Os tripulantes da frota continuavam as suas explorações naquela terra imensa, donde não se vê o fim. De ponta a ponta é toda praia chã, muito formosa. E os arvoredos, com muitas aves coloridas, correm para dentro a perder de vista.

O cronista de El-rei, Pêro Vaz de Caminha, incumbido que estava de relatar as novas do achamento, abeirou-se do organizador da viagem virtual e disse-lhe:

- Ó Mindo, estou-me a lembrar do seguinte: El-Rei D. Manuel incumbiu-me de relatar toda a nossa viagem. Para além de ele já estar habituado a ler relatos assombrosos e deslumbrantes, acresce que deposita em mim toda a confiança nos escritos que lhe envio. Porém, desta vez, se eu mais uma vez for fiel no meu relato, o que vai acontecer é que pela primeira vez El-Rei não vai acreditar no seu cronista predilecto.

- Então, porquê, pá?

- Já existe muita malta que não acredita no relato das nossas viagens, dos nossos descobrimentos. Então, se na minha próxima crónica relatar este acontecimento inacreditável de que nesta armada viajou gente do futuro, desta vez El-Rei não acreditará e muito menos os outros. Estou sujeito a ser despedido das minhas funções.

- Ó Pêro, até eu não acredito que estou aqui contigo, pá!

- Esse tal Roberto Carlos que vocês chamam rei sem o ser, deve ser mesmo um gajo porreiro, senão vocês não arriscariam a pele trocando a certeza do futuro pela incerteza do passado.

- Tás enganado, Pêro! Deve haver mais certezas agora do que na época donde vimos. Lá, ao ritmo em que as coisas evoluem, estamos sujeitos a acordar de manhã e ficarmos surpreendidos com a mudança da paisagem, isto para não falar do clima que anda desnorteado por causa da poluição atmosférica e outras coisas mais que se eu te contasse caías já para o lado. Eheheheheh A propósito, o nosso mais que tudo preocupa-se com toda essa mudança prejudicial para a humanidade e, à sua maneira, ou seja, cantando, protesta alertando a humanidade para todos esses problemas. Estou a lembrar-me, por exemplo, de uma sua canção chamada “As baleias” que é um autêntico hino ecológico, e…

- Ó Mindo, e se tu cantasses essa, pá?

- Sem música a acompanhar não é a mesma coisa, mas vou tentar.

Não é possível que você suporte a barra
De olhar nos olhos do que morre em suas mãos
E ver no mar se debater em sofrimento
E até sentir-se um vencedor nesse momento
Não é possível que no fundo do seu peito
Seu coração não tenha lágrimas guardadas
Pra derramar sobre o vermelho derramado
No azul das águas que você deixou manchadas
Seus netos vão te perguntar em poucos anos
Pelas baleias que cruzavam oceanos
Que eles viram em velhos livros ou nos filmes dos arquivos
Dos programas vespertinos de televisão
O gosto amargo do silêncio em sua boca
Vai te levar de volta ao mar e à fúria louca
De uma cauda exposta aos ventos em seus últimos momentos
Relembrada num troféu em forma de arpão
Como é possível que você tenha coragem
De não deixar nascer a vida que se faz
Em outra vida que sem ter lugar seguro
Te pede a chance de existência no futuro
Mudar seu rumo e procurar seus sentimentos
Vai te fazer um verdadeiro vencedor
Ainda é tempo de ouvir a voz dos ventos
Numa canção que fala muito mais de amor
Seus netos vão te perguntar em poucos anos
Pelas baleias que cruzavam oceanos
Que eles viram em velhos livros ou nos filmes dos arquivos
Dos programas vespertinos de televisão
E o gosto amargo do silêncio em sua boca
Vai te levar de volta ao mar e à fúria louca
De uma cauda exposta aos ventos em seus últimos momentos
Relembrada num troféu em forma de arpão
Não é possível que você suporte a barra

- Impressionante, Mindo! Até eu já estou a ficar fã desse gajo! Eheheheheh Espanta-me saber que no futuro a Terra e os animais estejam em perigo, mas fico contente por saber desse Roberto que ao seu jeito luta contra tudo isso.

- É mesmo como dizes, Pêro! Ele também tem uma sobre a floresta amazónica, o pulmão do planeta, que representa 60% da Terra de Vera Cruz e que no futuro vai estar em perigo.

- Canta essa, Mindo!

Tanto amor perdido no mundo
Verdadeira selva de enganos
A visão cruel e deserta
De um futuro de poucos anos
Sangue verde derramado
O solo manchado
Feridas na selva
A lei do machado
Avalanches de desatinos
Numa ambição desmedida
Absurdos contra os destinos
De tantas fontes de vida
Quanta falta de juízo
Tolices fatais
Quem desmata, mata
Não sabe o que faz
Como dormir e sonhar
Quando a fumaça no ar
Arde nos olhos
De quem pode ver
Terríveis sinais
De alerta
Desperta
Pra selva viver
Amazônia, insônia do mundo
Amazônia, insônia do mundo
Amazônia, insônia do mundo
Amazônia, inssônia do mundo
Todos os gigantes tombados
Deram suas folhas ao vento
Folhas são bilhetes deixados
Aos homens do nosso tempo
Quantos anjos queridos
Guerreiros de fato
De morte feridos
Caídos no mato
Como dormir e sonhar
Quando a fumaça no ar
Arde nos olhos
De quem pode ver
Terríveis sinais
De alerta
Desperta
Pra selva viver
Amazônia, insônia do mundo
Amazônia, insônia do mundo

- Essa aí é mesmo um grito de alerta, pá! As letras das suas canções dizem muito. E por falar em letras, volto à minha preocupação de saber se devo ou não incluir na minha crónica a presença nesta armada dos viajantes virtuais.

- Estou a pensar que a tua preocupação tem fundamento. Por isso, o melhor é fazermos assim: tu limitas-te a relatar a viagem omitindo os viajantes virtuais, e eu cá me encarregarei de completar a história. Que dizes à ideia, pá?

- Está combinado!

CABRAL APREENSIVO COM ENCICLOPÉDIAS SOBRE RC

Estávamos eu e o Pêro nesta interessante cavaqueira, quando somos interpelados pelo Capitão-mor, que, dirigindo-se ao organizador da viajem virtual, questionou:

- Ó Mindo, diz-me uma coisa, pá! Já reparei em dois viajantes virtuais que andam sempre juntos tendo a rodeá-los inúmeros tupis que ficam fascinados vendo uns papéis desse tal Roberto Carlos. Será que andam tentando vender esses papéis aos tupis em troca de maracas, de papagaios ou coisa assim?

- eheheheheh Ó Cabral, não é nada disso que estás a pensar, pá! Esses gajos são os administradores do Portal Clube do Rei que vai existir daqui a 502 anos. Os papéis são enciclopédias robertocarlisticas e são pertença de um deles que anda sempre com elas onde quer que vá e por isso até o chamam “Enciclopédia Ambulante”. O outro, é o criador do tal Portal que é um ferrinho sempre a actualizá-lo. A esse há quem o chame “O testa de ferro”. eheheheheh

- Meu Deus! Vocês inventam cada uma!... É dum gajo ficar doido!

- Ó Cabral, nos viajantes virtuais há de tudo um pouco, pá! Se precisares de te aconselhares com geógrafos para saberes da extensão desta terra, tens ali em frente aquela viajante que tem na camisa a foto do CD de 2004 do Roberto Carlos. Ela é daqui de Terra de Vera Cruz, dum sítio que se irá chamar Fortaleza. Também anda por aí um gajo porreiro que é barra em Geografia. Tem na camisa a foto do CD de 2005 do Roberto Carlos, e vive em Lisboa. É só falares com eles, dizeres que vais por meu intermédio e eles até te desenham o mapa e tudo. Eheheheheh

- É isso, pá! Vou falar com eles.


A DESPEDIDA
1 de Maio, Sexta-feira

Setenta ou oitenta tupis ajudam a transportar e a chantar uma cruz junto à embocadura do rio, que irá ficar naquela terra, simbolizando a presença portuguesa.

O marinheiro Eduardo, das Lages, propõe a Pedro Álvares Cabral que em véspera da partida, nos despedíssemos dos tupis com uma apropriada canção de Roberto Carlos, ao que o Capitão-mor aquiesceu. E o marinheiro, juntando toda a comitiva à sua volta, incluindo os viajantes virtuais e mais de 400 tupis, consegue que todos cantem em uníssono uma canção pintada daquelas que iriam ser as cores da Terra de Vera Cruz e que marcou a despedida.

Verde e amarelo, verde e amarelo (coro)
Boto fé, não me iludo
Nessa estrada ponho o pé, vou com tudo
Terra firme, livre, tudo o que eu quis do meu país
Onde eu vou vejo a raça
Forte no sorriso da massa
A força desse grito que diz: "É meu país"
Verde e amarelo (coro)
Sou daqui, sei da garra
De quem encara o peso da barra
Vestindo essa camisa feliz do meu país
Tudo bom, tudo belo
Tudo azul e branco, verde e amarelo
Toda a natureza condiz com o meu país
Verde e amarelo, verde e amarelo (coro)
Só quem leva no peito esse amor, esse jeito
Sabe bem o que é ser brasileiro
Sabe o que é:
Verde e amarelo, verde e amarelo (coro)
Verde e amarelo, verde e amarelo (coro)
Bom no pé, deita e rola
Ele é mesmo bom de samba e de bola
Que beleza de mulher que se vê no meu país
É Brasil, é brasuca
Esse cara bom de papo e de cuca
Tiro o meu chapéu, peço bis pro meu país
Verde e amarelo, verde e amarelo (coro)
Verde e amarelo (coro)
Boto fé, não me iludo
Nessa estrada ponho o pé, vou com tudo
Terra firme, tudo o que eu quis é o meu país
É Brasil, é brasuca
Esse cara bom de papo e de cuca
Tiro o meu chapéu, peço bis pro meu país
Verde e amarelo, verde e amarelo (coro)
Verde e amarelo (coro)
É a camisa que eu visto
Verde e amarelo (coro)
Azul e branco também
Verde e amarelo (coro)
É Brasil, é brasuca
Verde e amarelo (coro)
Boto fé, não me iludo
Nessa estrada ponho pé, vou com tudo

Esta canção, acompanhada dos instrumentos musicais possíveis, tais como, trombetas, atabaques, sestros, tambores, flautas, gaita-de-foles, pandeiros, tamborins, cascavéis (guizos), tambeiros e outros, sob a batuta do marinheiro Eduardo, das Lages, foi um tamanho sucesso que todos pediram bis e mais bis.

O REGRESSO
2 de Maio, Sábado

Pela manhã iniciaram-se os preparativos para a saída rumo à Índia. Pedro Álvares Cabral designou que a nau dos mantimentos seguisse para Portugal relatando o achamento da Terra de Vera Cruz. Os mantimentos foram, então, distribuídos entre as demais embarcações. Essa nau, comandada por Gaspar de Lemos, levava as cartas que Cabral, todos os capitães, vários escrivães, os principais religiosos e os fidalgos mais nobres, além das cartas de vários marinheiros, enviaram para Portugal, entre elas a carta de Pêro Vaz de Caminha.

Era também o fim da aventura dos viajantes virtuais. E dessa aventura, a experiência que colheram é que a música, enquanto mediadora de relacionamento humanos, é um meio de comunicação de primeira grandeza. E ninguém melhor que Roberto Carlos Braga, o Rei da Música Popular Brasileira, tem cumprido essa missão, não só na terra que o viu nascer, mas também por esse mundo fora, qual comandante de corações, transmitindo paz, fé e amor.

Daí que por muito que custe aos seus compatriotas brasileiros saber que no final dos seus concertos raramente dá bis em casa, sempre os dando fora, a verdade é que Roberto Carlos, sabe do peso da garra de quem encara o peso da barra e, por isso, veste essa camisa feliz do seu país.

Porque, só quem leva no peito esse amor, esse jeito, sabe bem o que é ser brasileiro, sabe o que é.

É Brasil, é brasuca!

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Matérias associadas:

Professora de História explica enigma de Cachoeiro de Itapemirim com base em argumento de doutorado em Robertologia Aplicada e Ciências Afins
http://www.portalsplishsplash.com/2013/08/professora-de-historia-explica-enigma.html

Raul Sampaio, Roberto Carlos e o hino à doce terra onde nasceram
http://www.portalsplishsplash.com/2013/08/raul-sampaio-roberto-carlos-e-o-hino.html


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11 Comentários

Comentários

  1. Oi maninho querido!

    Acredita que estou aqui toda emocionada?
    Que lindo ficou seu Roberto Carlos é Brasil, é brasuca,agora todo muito bem ilustrado!

    Para fechar com chave de ouro, esse lindo Tributo: Meu Pequeno Cachoeiro!É pra chorar mesmo, de emoção.
    Ainda mais hoje que estou aqui tristinha, porque tem show "dele" em Sampa e eu não vou...
    Ai mano, coração tá apertado.

    Parabéns mano, seu trabalho ficou ótimo, lindo desde a apresentação.

    Mil beijinhos,
    Carmen Augusta

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  2. Olà Mindo! estou exatamente no mesmo estado que a tua mana Guta, emocionadissomo com o que acabo de ver e ouvir.Tu es demais pà! tens de calmar com estas coisas se nao ainda vais dar cabo do nosso coraçao antes do tempo!abraços

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  3. >>> Armino querido <<<

    Lindo demais o seu Tributo a Roberto Carlos!!

    Confesso que não li tudo,(também quem manda escrever um livro? rsrs, brincadeirinha!), mas adorei as fotos, a forma como ilustrou tudo e o vídeo, simplesmente... Maravilhoso!!!

    Essa canção é muito linda e com o Rei assim, somente ao piano ficou demais!
    Parabéns!!!

    Posso te dizer uma coisinha?
    Fico feliz em saber que tenho um amigo tão inteligente assim!
    Você escreve demais!!! Podia escrever um livro!!!
    Beijos!!!

    Rosangela Amorim / BH

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  4. LI TUDINHO!!!!
    E adorei!
    Tens tanto jeito para escrever, Armindo!
    O nosso Rei deve ter ficado emocionadíssimo com um relato fantástico destes:)
    Mts Parabéns!
    bji mt gde aos 2

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  5. Armindo!!!!

    Foi muito bem pensado, idealizado este teu Tributo à Roberto Carlos.

    Começou muito bem, com o cartão de apresentação, onde colocaste fotos de bandeira brasileira e portuguesa, a inclusão dos personagens principais que é você Armindo, os indios nativos da terra descoberta.

    Além de tudo que citei, esse texto fez muito sucesso no Portal Clube do Rei com esse texto magnífico, dígno de um escritor conhecedor da História, onde criou essa Viagem Virtual, incuindo membros do Portal Clube do Rei, os dirigentes do Portal como o Carlyle e o Jotaefe.

    O texto é grande mais convidativo de ler-se e que eu já o tinha lido muitas vezes no Portal quando sxposto estava lá.

    Tudo ocorreu muito interessante, e até mesmo estranho, fruto da criatividade do Armindo.

    A ilustração muito bem escolhida encaixando-se nos conformes em que o texto ia desenrolando-se. Outra coisa que gostei foi as canções do Rei que forma cantadas sugestivamente pelo principal tripulante e que só contribuiu a enaltecer o texto.

    Para culminar o Tributo do nosso amigo Armindo, ele fez uma bela escolha da música, que é lindíssima, e a medida que a canção tocava as fotografias apareciam sempre a combinar com a letra.

    Achei lindo esse vídeo,muito bem idealizado e não poderia ter sido melhor. Excelente.

    Beijos!!!!

    Mazé Silva

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  6. Olá Armindo
    Parabéns!
    Nesta incrível viagem virtual ,homenageaste o Rei Roberto Carlos e também os povos português e brasileiro!
    Nesta viagem, não faltou animação e cultura!
    Obrigada ,por nos proporcionares momentos como estes !
    Abraços
    Miriam

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  7. Meu caro Mindo,
    Brilhante este seu tributo. O Rei já leu?
    É sobremodo eclético e culto.
    Vc fechou com chave de ouro, quando colocou a música Cachoeiro do Itapemirim.
    Parabéns, mesmo! Show de bola!
    Bottary

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  8. MEU AMIGO, QUE COISA MARAVILHOSA!
    VOCÊ TEM UMA CRIATIVIDADE NA ESCRITA, QUE ME SURPREENDE, PÁ!
    ADOREI ESSA MISTURA DO DESCOBRIMENTO DO BRASIL COM O REI ROBERTO CARLOS!
    PARABÉNS!
    UM ABRAÇO!
    E DEUS TE ABENÇOE, CARA!

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  9. Parabéns pela belissima homenagem,tens uma criatividade surpreemdente,nesta bela homenagem estão bem presentes o povo portugues e brasileiro e RC nosso Eterno Rei,beijo

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  10. Nossa que livro,mas eu li e adorei como sempre és supreendente...Vc é fantástico Armindo!!

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