Lições de Roberto Carlos para todos os brasileiros

DO TEXTO:
Por Gilda de Castro
O rei nunca mudou e isso preserva sua idoneidade Há indignação generalizada em relação aos políticos brasileiros, especialmente quando fazem considerações negativas sobre os eleitores. O presidente da Comissão de Ética do Senado Federal disse, por exemplo, que "a opinião pública é volúvel", sinalizando que não providenciará punição de parlamentares corruptos. Afinal, são sempre redimidos no próximo pleito, justamente pelo fórum mais legítimo de uma democracia. Todos se sentem, então, confortáveis para agir em benefício próprio, embora sejam hostilizados em várias situações, mas isso seria culpa da mídia que os persegue indevidamente. Esse quadro demonstra a necessidade de uma reforma política para eliminar perversos mecanismos de formação dos partidos, indicação de candidatos e aliciamento de eleitores, pois a mesma população que se submete a essa degradante situação atribuiu o título de rei a Roberto Carlos e vem mantendo sua admiração há meio século. Tudo aconteceu espontaneamente e, embora existam outros artistas talentosos, não se cogita retirar-lhe o cetro e ele não pode circular livremente pelas ruas, porque sofreria assédio insuportável pelo carinho de fãs sem o devido respeito por sua privacidade. Por que tanto sucesso em tempo tão longo? Por que 70 mil pessoas suportaram chuva intensa, no Maracanã, aplaudindo com o mesmo entusiasmo músicas de diferentes décadas, numa reprise do calor de outras capitais? A resposta é extraída da dedução de que, quando se trata de Roberto Carlos, a opinião pública não é nada volúvel. Ela aprecia, aplaude e reverencia aquele que mantém o mesmo discurso, a mesma práxis e a mesma turma de amigos. Ele iniciou sua trajetória em 1959, quando a realidade política, social e econômica era muito diferente, e passou por todas as transformações, especialmente nos meios de comunicação, sem mudar sua fala para ajustar seus objetivos e sua práxis a outras plateias. Isso sinaliza convicção, coerência e consistência de seus ideais, qualidades próprias de quem mobiliza admiradores da honestidade, generosidade e verdadeira arte na poesia e música. Cativou, então, um público que absorveu suas proposições de paz, amor e fé no sonho coletivo de um mundo melhor. Nunca trocou de turma e a parceria com Erasmo Carlos tornou-se paradigma da amizade verdadeira em qualquer situação. Ampliou, entretanto, seu palco para absorver novos talentos ou demonstrar sua admiração por outros estilos, num gesto que indica sua consciência de que o Sol nasceu para todos. É uma atitude muito diferente dos conchavos obscuros próprios dos políticos, que precisam trocar favores para preservar seu status, pois admitem seu papel nocivo à sociedade. Durante os anos de chumbo, Roberto Carlos foi considerado alienado político, mas sua postura era uma opção de um cidadão comum, que não precisa mobilizar-se para assumir o poder nem usar sua obra para pavimentar uma trajetória no universo do Estado. Ele se inquietou, entretanto, com o sofrimento dos exilados pela Ditadura Militar, pois visitou Caetano Veloso em Londres e compôs uma música em sua homenagem. Ou seja, não é necessário transformar um palco em palanque para mostrar sua indignação por regime de exceção. Há muitas maneiras de contribuir na construção de uma sociedade livre e isso ficou patente no último show, pois ele tinha o mesmo script de outros; ou seja, o rei nunca mudou e isso preserva sua idoneidade e atrai legiões de admiradores, que deveriam exigir a mesma coerência e postura de todas as autoridades. O TEMPO 25-07-2009

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2 Comentários

Comentários

  1. Cara

    Eu considero que o Roberto foi o que mais mudou, ele mudou muito para continuar sempre o mesmo! Isso deve ser dificílimo, mas os olhares preconceituosos que existiam sobre ele nunca conseguiram ver isso!

    Blog Música do Brasil
    www.everaldofarias.blogspot.com

    Um forte abraço a todos!

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  2. Olá Armindo!

    Eu, se o Everaldo deixar, apoio tudo que ele falou.
    Só num ponto que não:os olhares preconceituosos que existiam sobre ele. Existiam não, eles existem ainda, infelizmente.
    Claro que houve uma grande diminuição,mas que os há, há.

    Beijos Mil,
    Carmen Augusta

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