DO TEXTO:
O F.C. do Porto perdeu, mas a cidade ganhou uma portuense que, pese embora conselhos contrários, teima em ser tripeira de gema!
“De onde és?”, pergunta uma. “Do Porto”, responde a outra. “Eu vi logo!"
Por: Armindo Guimarães
Sobre o novo Acordo Ortográfico, trouxemos aqui à estampa várias publicações onde se discorreu sobre a sua implementação, mais ou menos fácil, nos oito países de língua portuguesa, tendo em conta as diferentes pronúncias de país para país e, inclusivamente, dentro de cada um deles. Veja-se, por exemplo, o caso de Portugal, que, pese embora o facto de ser um país relativamente pequeno, apresenta não só uma geografia com grandes contrastes de Norte a Sul, mas também costumes e pronúncias que variam significativamente, como ocorre com os algarvios, os alentejanos, os lisboetas, os beirões, os portuenses, os minhotos, os transmontanos, os madeirenses e os açorianos.
Ora, tais assimetrias trouxeram-me à ideia um artigo da minha autoria, publicado no Jornal de Notícias (JN) a 5 de Outubro de 2004, que, por o considerar actual e pertinente, aqui reproduzo.
Para quem não esteja familiarizado com a pronúncia tripeira (caso dos nossos irmãos brasileiros do outro lado do Atlântico), o exemplo constante do vídeo anexo é perfeito. Trata-se de uma portuense, adepta do Futebol Clube do Porto, dissertando sobre o respectivo presidente, Pinto da Costa, uma figura incontornável do mundo do futebol e não só.
Para terminar, gostaria de dizer que, no meu caso pessoal, já estou habituado a que, sempre que me desloco a Lisboa em trabalho, me perguntem: «Você é do Porto, não é?»
TRIPEIRA DE GEMA
Naquele dia, o Porto jogava com o Chelsea, e fui cedo para o Café do Aristides para ocupar a melhor mesa frente à TV. Enquanto o jogo não começava, lia o JN da casa, mas, por mais que as notícias me despertassem, inconscientemente a minha atenção ia para a conversa de duas jovens na mesa ao lado que, apercebi-me depois, trabalhavam na mesma empresa.
«De onde és?», pergunta uma.
«Do Porto», responde a outra.
«Eu vi logo! A tua pronúncia não engana ninguém.»
«Sou do Porto, falo e falarei sempre à tripeira, com muito orgulho!»
«Pois olha que eu também sou do Porto, mas sempre me esforcei para não falar à portuense e, se queres progredir na carreira, aconselho-te a mudares a pronúncia!»
A conversa foi interrompida porque, entretanto, a caixa mágica já estava a anunciar a formação das equipas. O jogo começa e o Chelsea marca um golo, depois outro e ainda outro. O Porto, finalmente, marca um golo e, entre várias manifestações de contentamento, a que me chamou mais a atenção veio da mesa mais próxima, a das jovens.
«Bibó Porto, carago!», gritou a jovem que sempre se tinha esforçado por não ter a pronúncia portuense.
Apesar de continuar a seguir o jogo de futebol, os meus pensamentos estavam num professor de linguística que, um dia, a propósito de Edite Estrela, me disse que qualquer um pode afogar de várias formas a sua génese linguística, mas que, nos momentos de maior emoção, a pronúncia de origem vem sempre à superfície.
O F.C. do Porto perdeu, mas a cidade ganhou uma portuense que, pese embora conselhos contrários, teima em ser tripeira de gema!
Ora, tais assimetrias trouxeram-me à ideia um artigo da minha autoria, publicado no Jornal de Notícias (JN) a 5 de Outubro de 2004, que, por o considerar actual e pertinente, aqui reproduzo.
Para quem não esteja familiarizado com a pronúncia tripeira (caso dos nossos irmãos brasileiros do outro lado do Atlântico), o exemplo constante do vídeo anexo é perfeito. Trata-se de uma portuense, adepta do Futebol Clube do Porto, dissertando sobre o respectivo presidente, Pinto da Costa, uma figura incontornável do mundo do futebol e não só.
Para terminar, gostaria de dizer que, no meu caso pessoal, já estou habituado a que, sempre que me desloco a Lisboa em trabalho, me perguntem: «Você é do Porto, não é?»
TRIPEIRA DE GEMA
Naquele dia, o Porto jogava com o Chelsea, e fui cedo para o Café do Aristides para ocupar a melhor mesa frente à TV. Enquanto o jogo não começava, lia o JN da casa, mas, por mais que as notícias me despertassem, inconscientemente a minha atenção ia para a conversa de duas jovens na mesa ao lado que, apercebi-me depois, trabalhavam na mesma empresa.
«De onde és?», pergunta uma.
«Do Porto», responde a outra.
«Eu vi logo! A tua pronúncia não engana ninguém.»
«Sou do Porto, falo e falarei sempre à tripeira, com muito orgulho!»
«Pois olha que eu também sou do Porto, mas sempre me esforcei para não falar à portuense e, se queres progredir na carreira, aconselho-te a mudares a pronúncia!»
A conversa foi interrompida porque, entretanto, a caixa mágica já estava a anunciar a formação das equipas. O jogo começa e o Chelsea marca um golo, depois outro e ainda outro. O Porto, finalmente, marca um golo e, entre várias manifestações de contentamento, a que me chamou mais a atenção veio da mesa mais próxima, a das jovens.
«Bibó Porto, carago!», gritou a jovem que sempre se tinha esforçado por não ter a pronúncia portuense.
Apesar de continuar a seguir o jogo de futebol, os meus pensamentos estavam num professor de linguística que, um dia, a propósito de Edite Estrela, me disse que qualquer um pode afogar de várias formas a sua génese linguística, mas que, nos momentos de maior emoção, a pronúncia de origem vem sempre à superfície.
O F.C. do Porto perdeu, mas a cidade ganhou uma portuense que, pese embora conselhos contrários, teima em ser tripeira de gema!
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📸Foto: Sala de visitas da cidade do Porto.
🛑 Aviso: Este vídeo contém expressões que podem ser consideradas chocantes. Recomendamos discrição ao assistir.
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Comentários
Eheheheheheh Isso é que é o orgulho (regional) nacional!
ResponderEliminarNão se devem negar as origens, por muito más que possam parecer.. :|
Dasss que a senhora ultrapassa-me à bontade carago!! ahahahaha
Abraço e Bom Fim de semana :)
Meu querido Armindo!!!
ResponderEliminarQuanto ao Acordo Ortográfico, assunto já muito debatido aqui, se as mudanças variam dentro dos próprios países, como citaste, as pronúncias em diversos locais aí em Portugal, imagina só no Brasil, que é dividido em várias Regiões e que é considerado um país continente!
Aqui fala-se vários dialetos ou diversas formas de linguagem, pela diversicação de grupos populacionais, que possuem culturas e sotaques diferentes onde sofreram influências do povo que foi formador do conjunto da população.
Gostei de seu artigo que escrevestes em 2004, mostrando a linguagem dos Tripeiros da Gema do Porto, pois és um gajo do carago, quando escreve essa coisas.
O vídeo nos mostra um humor de uma forma linguística, que se fosse para nós brasileiros, era considerado imorais, mas para os habitantes do Porto, é natural, pois gostam dese palavriado deixando um pouco do humorismo e da sua cultura adquirida ao longo dos anos.
A Paródia do Metrô deixa comprovado que em cada lugar independente do país ou não está a sua maneira de expressar os seus sentimentos e as suas características próprias de uma fala.
Parabenizo o Armindo pela postagem, pelo Artigo escrito e por mostrar concretamente as mudanças nos tipos de linguagens divessificadas de cada povo em espaços geográficos diversos.
Beijos da amiga que admita-te muito!
Mazé Silva
Querido amigo,
ResponderEliminarparabéns pelo texto.
Como sempre escreves muito bem.
Sobre os regionalismos, uma coisa interessante essa conversa entre as duas moças, não adianta querer negar as origens,ela está impregnada em nós.
Eu nunca achei que tinha um jeito diferente de falar.Como sempre morei no interor do Estado, achava meu jeito normal. Mudamos para Santos, litoral,e não é que um dia na cabeleireira, me perguntaram: você é do interior, não é?
Respondi que sim e como adivinharam: Minha pronúncia...
Daí fiquei sabendo que falava diferente...Influência mineira, Franca fica na divisa com Minas Gerais.
Já o santista fala tudo na segunda pessoa, tem termos diferentes, nomes diferentes para certas coisas.
Apesar de mais de vinte anos lá, não pegamos esse jeito, nem os filhos, criados lá, um santista inclusive.
Agora aqui na região de Sorocaba o sotaque e as expressões são demais e até divertidas.
Também não pegamos...Pelo menos acho que não...
Isso, dentro de um Estado...Imagine nesse Brasil imenso...
Agora sobre o vídeo, nos divertimos. Muito legal.Que torcedora!
Legal também a foto de sua cidade, deve mesmo ser muito linda.
Enfim meu amigo, parabéns pela postagem.
Um abraço,
Carmen Augusta
Olá, Tá-se bem!
ResponderEliminarEsqueci-m de te dizer que a mulher que está no vídeo é...
A Isaurinha da Areosa! eheheheheh
Aquela que está sempre a dar cabo da cabeça ao Senhor Nebes dos Discos Pe(r)didos.
eheheheheh
Abraços
Olá, Mazé!
ResponderEliminarEu sabia que ias gostar do post, em especial do vídeo, que é do baril.
eheheheheh
Beijinhos
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarOlá, Carmen!
ResponderEliminarO que dizes, faz-me lembrar outra coisa: que julgo os portugas conseguem mais facilmente imitar os brasucas a falar do que o contrário. É que eu nunca ouvi nenhum brasuca tentando falar portuga de jeito. eheheheh
Eu, por exemplo, uma ocasião telefonei para o Marlos e para o Edson, falando brasuca dizendo-lhes que era o Roberto Carlos. É claro que eles não acreditaram que eu era o RC, mas que pensaram que era um brasuca, isso eles pensaram. eheheheheh
A única vez que não pegou foi quando telefonei para a Con, mas isso foi porque eu não consegui suster a risada. ehehehehe
Abraços
Armindo,meu amigo,
ResponderEliminarfiquei sabendo desses telefonemas, acho que pelo Portal Forum), você não tinha ainda o blog.
Andas a telefonar para os amigos brasucas...
Será que um dia serei premiada?
Um beijo,
Carmen Augusta
HAHAHAH
ResponderEliminarE BIBA O PUORTO CARAGU!!!
beijo:)
Gostei muito do texto e de reforçar a ideia de que quem tenta esconder a sua origem acaba sempre por mostrá-la quando menos espera.
ResponderEliminarO video, apesar de já o conhecer, é de chorar a rir.
Bom domingo
Grande abraço