Plantas brasileiras no combate ao câncer de estômago

Estudo revela compostos naturais de plantas brasileiras com potencial anticancerígeno e benefícios na prevenção do câncer de estômago.
 Cartaz Plantas Anticâncer com abordagem botânica e design elegante

Estudo revela que extratos de frutas nativas podem ter ação anticancerígena promissora


A natureza brasileira pode esconder respostas poderosas contra o câncer


São Paulo – outubro 2025 - O câncer de estômago ou câncer gástrico foi responsável por mais de 968 mil novos diagnósticos de tumores em 2022, com cerca de 660 mil mortes. Essa é a quinta neoplasia mais incidente e letal do mundo. “O câncer de estômago é comum no Brasil e, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), entre 2023 e 2025 ocorrerão aproximadamente 704 mil novos casos de câncer. “O câncer gástrico, também chamado de adenocarcinoma gástrico, se origina nas células que revestem o estômago. Seu desenvolvimento é multifatorial, envolvendo fatores genéticos e ambientais, como hábitos alimentares, infecção por Helicobacter pylori e doenças pré-existentes, como a gastrite crônica atrófica”, explica o Dr. Ramon Andrade de Mello*, médico oncologista do Centro Médico Paulista High Clinic Brazil (São Paulo). Uma nova revisão publicada na revista Oncoscience em maio mostra que plantas brasileiras contam com compostos naturais que podem ser promissores contra esse tipo de tumor. “Esse tipo de câncer tem muita relação com o hábito alimentar. Sabemos que o alto consumo de sódio e alimentos defumados aumenta o risco de desenvolvimento de câncer no estômago, enquanto o consumo de frutas e vegetais tem efeito protetor contra a doença. Esse efeito ocorre porque nos vegetais há compostos fitoquímicos com atividades antioxidantes, anti-inflamatórias, antioxidantes e anticancerígenas”, completa o Dr. Ramon, que também é vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cancerologia.

De acordo com o médico, muitas pesquisas ainda precisam ser feitas com plantas do bioma brasileiro, que é pouco explorado. O que se sabe atualmente é que o consumo regular de frutas e vegetais ricos em compostos bioativos, como polifenóis e flavonoides, tem efeitos anti-inflamatórios, antioxidantes e quimiopreventivos no câncer de estômago, com ação também indireta, ao diminuir o risco de doenças metabólicas que favorecem o desenvolvimento tumoral. “As frutas nativas brasileiras, originárias de diversos biomas, são ricas em compostos bioativos, e seu processamento permite não apenas o consumo in natura, mas também produz subprodutos ricos em elementos valiosos como os fenólicos, proporcionando benefícios substanciais à saúde. Estamos falando de frutas como açaí e goiaba, por exemplo. Incluí-las na dieta melhora o aporte de nutrientes antioxidantes e compostos anti-inflamatórios, muitos dos quais fundamentais para a prevenção de doenças crônicas não transmissíveis como hipertensão, obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares e câncer”, argumenta a médica nutróloga Dra. Marcella Garcez*, diretora e professora da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN).

O estudo em questão revisou trabalhos dos últimos 25 anos e abrange dez espécies nativas, incluindo açaí (Euterpe oleracea), araçá-do-campo (Psidium guineense), araçá-amarelo (Psidium cattleianum Sabine), cacau (Theobroma cacao), coentro (Eryngium foetidum), physalis (Physalis angulata), goiaba (Psidium guajava), jambu (Acmella oleracea), pitanga (Eugenia uniflora) e ubaia (Eugenia patrisii). “Extratos dessas plantas mostraram sinais de redução do crescimento de células cancerígenas, desencadeando a morte celular e retardando a progressão da doença. Muitos dos trabalhos analisados são estudos de cultura de células, com apenas dois estudos conduzidos em modelo animal e nenhum estudo clínico foi realizado. Embora os mecanismos biológicos exatos permaneçam obscuros em muitos casos, alguns trabalhos relataram redução da inflamação e interrupção da sinalização relacionada ao câncer. Essas descobertas apontam para a possibilidade de que substâncias naturais à base de plantas possam apoiar os esforços para prevenir ou controlar o câncer, mas precisam ser confirmadas em trabalhos clínicos”, esclarece o Dr. Ramon. “Isso é importante para entender como esses compostos vegetais atuam no corpo humano e para avaliar sua segurança e eficácia em cenários do mundo real”, completa o médico.

Enquanto esses extratos ainda não são explorados pelas pesquisas, o oncologista diz que vale a pena incluir alimentos que contenham compostos fitoquímicos. “Esses compostos são substâncias bioativas naturalmente encontradas em plantas — incluindo frutas, legumes, grãos e sementes — que não são nutrientes essenciais (como vitaminas e minerais), mas exercem efeitos benéficos à saúde humana. Em frutas nativas brasileiras, esses compostos estão presentes em alta diversidade e concentração, o que contribui para seu potencial funcional e medicinal. Na lista de compostos, estão os: polifenóis (que incluem flavonoides, ácidos fenólicos, taninos e lignanas); carotenoides; alcaloides; saponinas e terpenoides; e antocianinas”, diz o Dr. Ramon. “O açaí, por exemplo, contém antocianinas. Flavonoides chamados antocianinas, responsáveis por sua coloração, com grande poder antioxidante, são compostos bioativos que conferem funcionalidade ao alimento. Sua fermentação provoca alterações em determinados grupos bacterianos e produz ácidos orgânicos. Os compostos fenólicos do açaí têm efeitos antioxidantes que protegem o DNA”, diz a médica nutróloga Dra. Marcella Garcez. A médica ainda lembra que a polpa de açaí é rica em cálcio e potássio, importantes para várias funções metabólicas.

Por fim, a médica recomenda a inclusão desses alimentos nativos do Brasil em uma dieta equilibrada, variada e o mais natural possível, para promover benefícios e prevenir doenças. O oncologista de São Paulo também orienta como prevenção do câncer gástrico controlar a gastrite e evitar fatores de risco. “Diagnosticar e tratar a infecção por H. pylori, reduzir o consumo de alimentos ultraprocessados e ricos em conservantes, manter uma dieta equilibrada, rica em frutas e vegetais, evitar cigarro e álcool em excesso, além de realizar exames de rotina, especialmente para quem tem histórico familiar da doença, estão entre as atitudes preventivas”, finaliza o especialista.

*DR. RAMON ANDRADE DE MELLO: Médico oncologista do Centro Médico Paulista High Clinic Brazil (São Paulo), vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cancerologia, Pós-Doutor clínico no Royal Marsden NHS Foundation Trust (Inglaterra), pesquisador honorário da Universidade de Oxford (Inglaterra), pesquisador sênior do CNPQ (Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico), Brasil, vice-líder do programa de Mestrado em Oncologia da Universidade de Buckingham (Inglaterra), Doutor (PhD) em Oncologia Molecular pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (Portugal). Tem MBA em gestão de clínicas, hospitais e indústrias da saúde pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), São Paulo. É pesquisador e professor do Doutorado da Universidade Nove de Julho (UNINOVE), de São Paulo. Membro do Conselho Consultivo da European School of Oncology (ESO). O oncologista tem mais de 122 artigos científicos publicados, é editor de 4 livros de Oncologia, entre eles o Medical Oncology Compendium, Elsevier, de 2024. É membro do corpo clínico do Hospital Israelita Albert Einstein, Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo, e do Centro de Diagnóstico da Unimed, em Bauru, SP. Instagram: @dr.ramondemello
*DRA. MARCELLA GARCEZ: Médica nutróloga, Mestre em Ciências da Saúde pela Escola de Medicina da PUCPR, Diretora da Associação Brasileira de Nutrologia e Docente do Curso Nacional de Nutrologia da ABRAN. A médica é Membro da Câmara Técnica de Nutrologia do CRMPR, Coordenadora da Liga Acadêmica de Nutrologia do Paraná e Pesquisadora em Suplementos Alimentares no Serviço de Nutrologia do Hospital do Servidor Público de São Paulo. Além disso, é membro da Sociedade Brasileira de Medicina Estética e da Sociedade Brasileira para o Estudo do Envelhecimento. Instagram: @dra.marcellagarcez
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