Marketing agressivo disfarça cuidado e atrasa tratamento da menopausa
O mercado tem explorado os desconfortos naturais do período menopausal para vender soluções que muitas vezes não funcionam ou que não foram testadas adequadamente
São Paulo – 18/07/2025 - A menopausa é cada vez mais debatida e, se por um lado, isso é importante para que mais informações circulem, por outro pode ser perigoso, já que muitos se aproveitam do tema para lucrar com promessas vazias. É por isso que o termo menowashing vem ganhando destaque em discussões sobre saúde feminina e consumo. “A palavra é uma junção de menopause (menopausa) e brainwashing (lavagem cerebral), e se refere ao marketing agressivo e, muitas vezes, sem respaldo científico, de produtos que prometem aliviar os sintomas da menopausa. O uso comercial desse conceito pode representar riscos à saúde, atrasar o tratamento e fornecer desinformação para o público”, explica o ginecologista Dr. Igor Padovesi*, autor do livro 'Menopausa Sem Medo' (Editora Gente), especialista em menopausa certificado pela North American Menopause Society (NAMS) e membro da International Menopause Society (IMS).
De acordo com o especialista, o menowashing está presente na divulgação massiva de suplementos alimentares, vitaminas, cremes, chás e cosméticos com alegações como “restauração hormonal natural”, “rejuvenescimento feminino” ou “fim dos sintomas da menopausa”. “Apesar da promessa de bem-estar, muitos desses produtos não possuem comprovação científica robusta ou aprovação por agências reguladoras como a Anvisa ou o FDA, nos Estados Unidos”, diz o médico.
A menopausa é uma fase fisiológica, não uma doença. “No entanto, o mercado tem explorado os desconfortos naturais desse período para vender soluções que muitas vezes não funcionam ou que não foram testadas adequadamente”, afirma o ginecologista. “É comum que mulheres busquem alívio para os sintomas como ondas de calor, insônia e alterações de humor, mas é preciso cautela na escolha dos tratamentos. Primeiro, é necessário consultar um médico especialista para realmente fazer o tratamento adequado”, diz o Dr. Igor. “Esses produtos podem atrasar o tratamento e prolongar os sintomas”, completa.
Outro ponto de preocupação é a ausência de orientação profissional. Muitos dos produtos vendidos são consumidos sem acompanhamento médico, o que pode causar efeitos adversos, especialmente quando envolvem substâncias hormonais ou altas doses de vitaminas. “Suplementação inadequada pode levar a problemas como hipervitaminose ou interação medicamentosa. É essencial que o tratamento seja individualizado e baseado em diagnóstico preciso”, explica o Dr. Igor. “O fato de as mulheres ainda terem dificuldade de encontrar médicos qualificados para o tratamento adequado da menopausa também favorece o menowashing, já que elas acabam se tornando alvo fácil dessas campanhas de marketing prometendo melhora dos sintomas”, completa o especialista.
O conceito de menowashing também se insere em um movimento mais amplo de crítica ao uso do discurso de empoderamento feminino como ferramenta de venda. “Assim como ocorre com o pinkwashing (marcas que usam a causa do câncer de mama para promover produtos ou melhorar sua reputação) ou o greenwashing (quando uma marca se apresenta como ecologicamente correta sem realmente adotar práticas sustentáveis), a proposta é alertar para práticas que disfarçam interesses comerciais com mensagens de cuidado e saúde”, explica o médico.
Por fim, o Dr. Igor enfatiza que as mulheres busquem informações em fontes confiáveis e consultem profissionais da saúde antes de iniciar qualquer tipo de tratamento ou suplementação. “Além da terapia hormonal, mudanças no estilo de vida, alimentação equilibrada e prática de atividade física têm papel importante na qualidade de vida durante a menopausa”, finaliza o médico.
*DR. IGOR PADOVESI: Médico ginecologista, autor do livro 'Menopausa Sem Medo' (Editora Gente), especialista em menopausa certificado pela North American Menopause Society (NAMS) e membro da International Menopause Society (IMS). Formado e pós-graduado pela USP, onde foi preceptor da disciplina de Ginecologia. Também é especialista em cirurgias ginecológicas minimamente invasivas e criador do Instituto de Cirurgia Íntima, sendo reconhecido internacionalmente por sua liderança nessa área. É membro sênior da European Society of Aesthetic Gynecology (ESAG) e em 2024 conquistou dois prêmios de primeiro lugar em congressos mundiais com sua técnica de ninfoplastia a laser, realizada em consultório. Também é palestrante e mentor de médicos nas áreas de menopausa e cirurgias íntimas. Instagram: @dr.igorpadovesi
Marketing agressivo disfarça cuidado e atrasa tratamento da menopausa
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