Estudo global aponta ligação hormonal entre menstruação irregular e problemas dermatológicos
Estudo analisou população de 17.000 mulheres em 20 países. Embora correlação não indique causalidade, doenças como acne, dermatite seborreica, rosácea e melasma podem ter componente hormonal envolvido
São Paulo – julho 2025 - Doenças de pele podem ter relação com o desbalanço de hormônios, como é o caso da acne. Agora, um estudo recente publicado no British Journal of Dermatology mostrou que ciclos menstruais irregulares também podem influenciar em sintomas de quatro doenças de pele: acne, rosácea, dermatite seborreica e melasma. “A prevalência dessas quatro doenças aumentou em aproximadamente 5% para mulheres com menstruações irregulares, enquanto outros sintomas de pele como manchas vermelhas reativas, pele fina ou pele escamosa também foram relatados como maiores por participantes com períodos irregulares. O estudo também mostrou que a sensibilidade da pele também foi maior em participantes com períodos irregulares (57,6%, versus 47,6% nos casos de períodos regulares)”, explica a dermatologista Dra. Claudia Marçal*, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia. “Os dados são importantes métricas para que os dermatologistas identifiquem essa relação e possam tratar o paciente da melhor forma”, completa a médica.
O estudo analisou uma população de 17.009 mulheres, recrutadas em 20 países, e comparou os sintomas de pele, bem como o diagnóstico de doenças de pele, entre as entrevistadas com menstruações regulares e aquelas com menstruações irregulares. “O papel exato que os hormônios desempenham no desenvolvimento de condições inflamatórias comuns da pele permanece obscuro. Este estudo sugere que desequilíbrios hormonais, frequentemente indicados por períodos irregulares, podem estar ligados a uma prevalência maior dessas condições. Mais pesquisas são necessárias para estudar mais profundamente a maneira como os hormônios afetam os sintomas, a prevalência e os surtos, e como isso pode ser levado em consideração em termos de opções de tratamento ou gerenciamento de sintomas”, diz a dermatologista.
Os participantes foram convidados a preencher um questionário digital, que pedia que descrevessem a presença ou ausência de sua menstruação no último ano, e a regularidade ou irregularidade delas. A idade média das participantes é de 34 anos. “O estudo excluiu participantes que estavam na menopausa, perimenopausa sem menstruação, pós-parto e aquelas que não desejaram responder ao questionário inteiro”, diz a dermatologista. Todos os participantes foram questionados sobre a presença de acne, rosácea, dermatite seborreica e melasma; em particular, se estes foram diagnosticados por um médico. Finalmente, os participantes foram questionados sobre suas percepções de sua pele: que tipo de pele eles tinham, quão sensível eles sentiam que era, se ela apresentava quaisquer marcadores relacionados a distúrbios de pele pelos pesquisadores (12 no total, incluindo sintomas como pele escamosa, pele fina e perda de elasticidade).
Segundo a Dra. Claudia Marçal, no geral, os resultados destacam que os distúrbios de pele diagnosticados são significativamente maiores em participantes com menstruações irregulares. “Ao explorar abordagens hormonais e tópicas, os dermatologistas podem oferecer um plano de tratamento mais personalizado e eficaz para pacientes com condições dermatológicas influenciadas por hormônios. Isso pode incluir terapia de reposição hormonal, antiandrogênios, tratamentos hormonais tópicos e cosmecêuticos direcionados”, comenta a Dra. Claudia Marçal, que explica abaixo as características principais das quatro doenças:
Acne – é uma condição de pele muito comum; a maioria das pessoas experimentará alguma forma de acne durante a vida. “É identificada pela presença de cravos e espinhas (comedões) e manchas cheias de pus (pústulas). Ela varia de algumas manchas no rosto, pescoço, costas e peito, a um problema mais grave com caroços sólidos e dolorosos sob a pele. Pode causar cicatrizes. A acne geralmente começa durante a puberdade e geralmente desaparece quando as pessoas chegam aos vinte anos, embora em alguns casos possa durar mais tempo”, explica a médica.
Rosácea – é uma doença de pele que afeta principalmente o rosto. “Ela ocorre predominantemente indivíduos de pele clara, mas pode aparecer em qualquer tipo de pele e pode começar em qualquer idade, desde a infância. É uma doença de longo prazo, pode persistir por um longo tempo e varia de leve a grave. A rosácea aparece como vermelhidão persistente causada por vasos sanguíneos dilatados, pequenas saliências e manchas cheias de pus semelhantes à acne. Também pode haver vermelhidão desconfortável e irritação da superfície dos olhos e pálpebras”, destaca.
Dermatite seborreica – é uma forma comum de eczema que geralmente afeta o couro cabeludo, embora possa afetar outras partes do corpo também. “É um pouco mais comum em homens do que em mulheres e ocorre em bebês, adolescentes e adultos, geralmente entre 30 e 40 anos. Caspa, que é o nome comum para dermatite seborreica do couro cabeludo, é muito comum, afetando quase metade de todos os adultos, independentemente de sua idade, etnia ou gênero”, explica a dermatologista.
Melasma – é uma condição comum da pele em adultos na qual manchas marrons ou acinzentadas de pigmentação (cor) se desenvolvem, geralmente no rosto. “A causa exata não é conhecida, mas, acredita-se que seja devido às células produtoras de pigmento na pele (melanócitos) produzindo muito pigmento (melanina). Vários fatores podem contribuir para o desenvolvimento do melasma, incluindo gravidez e uso de medicamentos hormonais, como pílulas anticoncepcionais e reposição hormonal. Não há cura atual para o melasma, embora existam várias opções para melhorar a aparência das manchas na pele”, destaca a médica.
Por fim, a médica reforça que a interação entre a pele e os hormônios é essencial para manter a pele saudável. “Desequilíbrios hormonais podem exercer efeitos deletérios na saúde da pele e precisam ser tratados, juntamente com as doenças de pele que podem surgir ou piorar em consequência desse desajuste”, finaliza a Dra. Claudia Marçal.
*DRA. CLAUDIA MARÇAL: Médica dermatologista, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), da American Academy Of Dermatology (AAD) e da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica (SBCD). Possui especialização pela AMB e Continuing Medical Education na Harvard Medical School. É proprietária do Espaço Cariz, em Campinas - SP, speaker de laboratórios globais de dermocosméticos e de fabricantes de equipamentos. CRM: 78980 / RQE: 31829. Instagram: @draclaudiamarcal
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