Mesmo com altas taxas de cura, o tumor pode afetar a capacidade de ter filhos
Antes do tratamento, no entanto, a criopreservação é indicada. A coleta do sêmen é feita por masturbação ou, quando há indicação, por procedimento cirúrgico para retirada dos espermatozoides do testículo ou do epidídimo
São Paulo – julho 2025 - Apesar de raro, representando aproximadamente 1% dos tumores malignos que afetam os homens, o câncer de testículo é o tipo de câncer mais comum entre jovens de 15 a 35 anos. “Apesar das altas taxas de cura, seu impacto pode ser significativo, especialmente em relação à fertilidade masculina, tornando fundamental a conscientização sobre a doença”, explica o Dr. Ramon Andrade de Mello*, médico oncologista em São Paulo, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cancerologia e Pós-Doutor clínico no Royal Marsden NHS Foundation Trust (Inglaterra). “A própria doença pode comprometer a produção de espermatozoides, e os tratamentos, especialmente a quimioterapia e a radioterapia, podem levar à infertilidade temporária ou até mesmo permanente. Por isso, antes de iniciar qualquer abordagem terapêutica, é recomendado que o paciente realize o congelamento de sêmen por meio da criopreservação, garantindo assim a possibilidade de ter filhos no futuro”, completa o Dr. Rodrigo Rosa*, médico especialista em Reprodução Humana, diretor clínico da Mater Prime.
De acordo com o oncologista, esse tipo de câncer se origina nas células germinativas dos testículos, que são responsáveis pela produção dos espermatozoides. “Entre os fatores de risco que podem aumentar as chances de seu desenvolvimento, destacam-se o histórico familiar da doença, a criptorquidia – uma condição na qual os testículos não descem para o escroto durante o desenvolvimento fetal –, a síndrome de Klinefelter (condição genética que ocorre quando um homem nasce com um cromossomo X extra), além da exposição a substâncias químicas ou radiação. Embora a presença desses fatores possa aumentar a probabilidade de ocorrência do câncer testicular, muitos casos surgem sem que haja qualquer predisposição evidente”, diz o médico Dr. Ramon.
Nos estágios iniciais, esse tipo de câncer pode não apresentar sintomas claros, o que dificulta a identificação precoce da doença. “No entanto, à medida que progride, alguns sinais podem surgir, como o aumento de volume ou a presença de um nódulo indolor em um dos testículos. Além disso, alguns pacientes relatam uma sensação de peso na bolsa escrotal, desconforto na região abdominal inferior ou na virilha, acúmulo de líquido no escroto e, em alguns casos, dor testicular”, diz o Dr. Ramon Andrade de Mello. “Como esses sintomas podem ser confundidos com outras condições menos graves, muitos homens demoram a buscar avaliação médica, o que pode comprometer o diagnóstico precoce e as chances de cura”, completa o Dr. Rodrigo.
O diagnóstico do câncer de testículo envolve uma série de exames clínicos e laboratoriais, incluindo exame físico detalhado e ultrassonografia escrotal para avaliar a presença de massas suspeitas. “Além disso, exames de sangue são solicitados para medir os níveis de marcadores tumorais, como alfa-fetoproteína (AFP) e beta-hCG, que podem indicar a presença da doença. A confirmação definitiva do câncer, no entanto, ocorre somente após a remoção cirúrgica do testículo afetado – procedimento conhecido como orquiectomia –, seguida de análise laboratorial do tecido”, diz o Dr. Ramon.
Antes do tratamento, no entanto, a criopreservação é indicada. “O congelamento de sêmen é um procedimento seguro, mais barato que o congelamento de óvulos, e os espermatozoides são preservados por décadas, mantendo sua qualidade. Assim, conseguimos prevenir que o tratamento para o câncer possa levar à esterilidade. A coleta do sêmen é feita por masturbação ou, quando há indicação, por procedimento cirúrgico para retirada dos espermatozoides do testículo ou do epidídimo. Essa técnica é usada quando o homem tem a contagem reduzida ou ausência de espermatozoides no sêmen”, explica o Dr. Rodrigo Rosa. “Após a coleta, o sêmen é encaminhado para laboratório especializado no congelamento. O material é resfriado em nitrogênio líquido até os -196ºC. No geral, recomendamos que sejam armazenadas diferentes amostras do sêmen para aumentar as chances de sucesso”, completa o especialista em Reprodução Humana.
O tratamento do câncer varia de acordo com o estágio da doença no momento do diagnóstico. “A cirurgia para remoção do testículo é a primeira abordagem terapêutica e, em muitos casos, é suficiente para a cura. No entanto, em situações mais avançadas ou quando há risco de disseminação da doença, podem ser necessárias terapias complementares, como a radioterapia, mais comumente utilizada em certos tipos específicos de tumores testiculares, e a quimioterapia, empregada quando há disseminação do câncer para outros órgãos”, diz o oncologista de São Paulo.
O Dr. Ramon esclarece que, embora não existam formas comprovadas de prevenir o câncer de testículo, a realização periódica do autoexame testicular pode auxiliar na detecção precoce de alterações suspeitas. “Esse exame consiste em apalpar os testículos regularmente para identificar qualquer anormalidade, como nódulos ou alterações no tamanho e textura. Além disso, consultas médicas regulares com um urologista são essenciais para um acompanhamento adequado”, diz o médico. “Caso qualquer alteração suspeita seja notada, é imprescindível buscar atendimento médico o mais rápido possível, pois o diagnóstico precoce aumenta significativamente as chances de cura e reduz os impactos negativos da doença”, finaliza o Dr. Ramon.
*DR. RAMON ANDRADE DE MELLO: Médico oncologista em São Paulo, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cancerologia, Pós-Doutor clínico no Royal Marsden NHS Foundation Trust (Inglaterra), pesquisador honorário da Universidade de Oxford (Inglaterra), pesquisador sênior do CNPQ (Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico), Brasil, vice-líder do programa de Mestrado em Oncologia da Universidade de Buckingham (Inglaterra), Doutor (PhD) em Oncologia Molecular pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (Portugal). Tem MBA em gestão de clínicas, hospitais e indústrias da saúde pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), São Paulo. É pesquisador e professor do Doutorado da Universidade Nove de Julho (UNINOVE), de São Paulo. Membro do Conselho Consultivo da European School of Oncology (ESO). O oncologista tem mais de 122 artigos científicos publicados, é editor de 4 livros de Oncologia, entre eles o Medical Oncology Compendium, Elsevier, de 2024. É membro do corpo clínico do Hospital Israelita Albert Einstein, Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo, e do Centro de Diagnóstico da Unimed, em Bauru, SP. Instagram: @dr.ramondemello
*DR. RODRIGO ROSA: Ginecologista obstetra especialista em Reprodução Humana e sócio-fundador e diretor clínico da clínica Mater Prime, em São Paulo, e do Mater Lab, laboratório de Reprodução Humana. Membro da Associação Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA) e da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH), o médico é graduado pela Escola Paulista de Medicina – Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM). Especialista em reprodução humana, o médico é colaborador do livro “Atlas de Reprodução Humana” da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana. Instagram: @dr.rodrigorosa
Mesmo com altas taxas de cura, o tumor pode afetar a capacidade de ter filhos
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