Reconstrução das mamas após cirurgia do câncer

Entenda como ficam os seios após a cirurgia de câncer de mama e conheça as opções de reconstrução disponíveis com especialistas.
 Criação IA de fundo cor de rosa com laço e a frase "Câncer da mama".

O que muda no corpo e na mente após a retirada cirúrgica das mamas


Quando há a opção pela cirurgia, a reconstrução de mamas deve ser muito bem discutida e decidida em conjunto entre a equipe de mastologia, cirurgia plástica e a própria paciente


"Reconstruir vai além da estética — é sobre recuperar identidade e coragem."
Vímara Porto


São Paulo – junho 2025 - O câncer de mama é um dos mais comuns em mulheres no Brasil e é causado quando as células da mama sofrem mutações que as fazem se multiplicar de maneira anormal, formando um tumor. “Existem diversos tipos de câncer de mama que variam de intensidade, e por conta de fatores genéticos, a doença evoluirá de formas diferentes” explica o Dr. Ramon Andrade de Mello*, oncologista do Centro Médico Paulista High Clinic Brazil (São Paulo) e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cancerologia. A remoção cirúrgica pode ser indicada e, em alguns casos, a simples retirada do tumor pode ser suficiente, mas, dependendo das células envolvidas, mesmo em tumores pequenos, a retirada de toda a mama pode ser necessária, ou ainda deve ser complementada com radioterapia, quimioterapia ou ainda hormonioterapia. “Quando há a opção pela cirurgia, a reconstrução de mamas deve ser muito bem discutida e decidida em conjunto entre a equipe de mastologia, cirurgia plástica e a própria paciente. Todos os riscos, expectativas, opções de tratamento precisam estar bem explicados para o sucesso do tratamento”, afirma a cirurgiã plástica Dra. Beatriz Lassance*, membro da Sociedade Brasileia de Cirurgia Plástica.

De acordo com a especialista, no caso de pacientes que precisam retirar a mama inteira, estudos mostram que a sobrevida e a qualidade de vida da paciente são melhores quando a reconstrução é imediata, ou seja, quando é feita na mesma cirurgia da retirada da mama. “Porém, em alguns casos isso não é possível por estadiamento do tumor, ou condições clínicas da paciente para enfrentar cirurgia maior. A decisão é feita pela equipe médica visando o melhor à paciente”, comenta.

A cirurgiã plástica diz que a cirurgia depende da quantidade de pele, gordura e glândula que precisou ser retirada. “O mastologista retira a quantidade de tecidos necessária para garantir a extirpação total do tumor com segurança. Se diagnosticado precocemente, um tumor pequeno e com diagnóstico histológico favorável, é retirada somente da parte afetada da mama – o que chamamos de quadrantectomia. Nestes casos uma cirurgia de modelagem da mama, com ou sem colocação de prótese mamária, deixando simétrica com o outro lado pode ser suficiente, ou então podemos reduzir a outra mama”, diz a médica.

Já em casos mais avançados, onde a mama toda é retirada, o nome do procedimento é mastectomia. “Se for possível preservar pele e músculo, uma prótese é colocada sob o músculo peitoral, se não há espaço suficiente, podemos colocar um expansor, que é uma prótese que será preenchida de soro, aos poucos, no consultório do cirurgião plástico para expandir gradualmente os tecidos e permitir a colocação de prótese de silicone com consistência e formato muito próximos ao de uma mama normal em outra cirurgia posteriormente”, conta. O expansor pode também ser colocado se for necessária radioterapia pós-operatória. A radioterapia altera e deixa a pele muito frágil – e aumentam os riscos de complicações com as próteses.

Quando a pele também é retirada, é necessário utilizar tecidos de outros lugares para tratar. “Pode ser utilizada pele da região lateral do tórax, pele e músculo grande dorsal da região das costas, ou ainda pele da região inferior do abdômen. A decisão vai depender levando em consideração a quantidade e qualidade dos tecidos da paciente associadas ao tamanho do tecido retirado pelo mastologista”, conta. “As opções são várias e o cirurgião plástico sempre vai optar pelo melhor possível a oferecer ao paciente. Muito difícil se obter um resultado ideal em apenas um procedimento, normalmente são necessárias duas ou mais cirurgias”, argumenta.

Segundo a médica, é muito importante discutir as expectativas. “Nas mastectomias, a mama será substituída por prótese de silicone ou músculo ou tecido de outra parte do corpo. Nunca será como a mama anterior, composta de glândula e tecido gorduroso. Por mais que as próteses de silicone tenham evoluído e conferem aspecto o mais natural possível, sempre serão mais consistentes que a mama original. Além disso, não é possível preservar a sensibilidade da mama”, explica. No caso da aréola e do mamilo, eles podem ser reconstruídos após obtido aspecto final das mamas. “Uma grande opção para restaurar a aréola é a pigmentação ou tatuagem na mesma cor e tamanho da aréola contralateral. O mamilo pode ser reconstruído com pele do próprio local ou enxerto de outras áreas como parte do mamilo da outra mama, pele da vulva ou região da virilha. Importante lembrar que a sensibilidade não é restabelecida.”

Mas, a médica reforça que a necessidade de rastreio do câncer de mama. “Com os recursos da medicina moderna, grande parte dos tumores são curáveis desde que diagnosticados precocemente”, explica a Dra. Beatriz. O Dr. Ramon Andrade de Mello ressalta que, embora muitos casos de câncer de mama estejam associados a fatores genéticos e hereditários, o estilo de vida e a alimentação desempenham um importante papel na saúde do corpo e podem aumentar ou diminuir sua suscetibilidade. “Medidas que podem ajudar a prevenir o câncer de mama, baseado em importantes estudos científicos, incluem: dieta balanceada, rica em frutas e vegetais e evitando alimentos pró-inflamatórios como frituras e gorduras trans; evitar sobrepeso, já que a obesidade está relacionada ao aumento do risco de vários cânceres, incluindo o de mama; atividades físicas regulares, pelo menos 1 hora, 3 dias por semana; evitar ingestão excessiva de bebidas alcoólicas e não fumar. Visitar regularmente o ginecologista e realizar a mamografia periodicamente de acordo com a orientação do médico também são atitudes importantes de prevenção”, finaliza o Dr. Ramon Andrade de Mello.

*DRA. BEATRIZ LASSANCE: Cirurgiã plástica formada na Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e residência em cirurgia plástica na Faculdade de Medicina do ABC. Trabalhou no Onze Lieve Vrouwe Gusthuis – Amsterdam -NL e é Membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, da ISAPS (International Society of Aesthetic Plastic Surgery) e da American Society of Plastic Surgery. Além disso, é membro do American College of LifeStyle Medicine e do Colégio Brasileiro de Medicina do Estilo de Vida. Instagram: @drabeatrizlassance

*DR. RAMON ANDRADE DE MELLO: Médico oncologista do Centro Médico Paulista High Clinic Brazil (São Paulo), vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cancerologia, Pós-Doutor clínico no Royal Marsden NHS Foundation Trust (Inglaterra), pesquisador honorário da Universidade de Oxford (Inglaterra), pesquisador sênior do CNPQ (Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico), Brasil, vice-líder do programa de Mestrado em Oncologia da Universidade de Buckingham (Inglaterra), Doutor (PhD) em Oncologia Molecular pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (Portugal). Tem MBA em gestão de clínicas, hospitais e indústrias da saúde pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), São Paulo. É pesquisador e professor do Doutorado da Universidade Nove de Julho (UNINOVE), de São Paulo. Membro do Conselho Consultivo da European School of Oncology (ESO). O oncologista tem mais de 122 artigos científicos publicados, é editor de 4 livros de Oncologia, entre eles o Medical Oncology Compendium, Elsevier, de 2024. É membro do corpo clínico do Hospital Israelita Albert Einstein, Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo, e do Centro de Diagnóstico da Unimed, em Bauru, SP. Instagram: @dr.ramondemello
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