DO TEXTO:
O Dr. Rodrigo Rosa, especialista em Reprodução Humana, explica que, apesar de a técnica ter sido usada para criar embriões sem a presença de uma mãe,
Edição genética com CRISPR viabiliza embriões biparentais em modelo animal
Recentemente, ratinhos que nasceram de dois pais machos com a técnica CRISPR, um método de edição genética, chegaram à vida adulta, mas existe uma grande chance desse avanço não chegar ao campo da Reprodução Humana
"Quando a ciência rompe limites, a ética levanta a mão."
Vimara Porto
Um estudo que mostrou o nascimento de ratinhos gerados com gametas oriundos de dois pais machos circulou em vários sites recentemente como um grande avanço científico, mas será que realmente veremos a reprodução unissexual no campo da Reprodução Humana? “As técnicas de edição genética estão evoluindo e isso é realmente um avanço para a ciência, o que deve ser comemorado. A tecnologia CRISPR, por exemplo, foi usada para alterar células-tronco embrionárias, tornando possível a concepção sem mãe. Mas isso deve esbarrar em uma forte questão ética”, pondera o Dr. Rodrigo Rosa*, especialista em Reprodução Humana e sócio-fundador e diretor clínico da clínica Mater Prime.
De acordo com o médico, basicamente, os pesquisadores utilizaram materiais genéticos nos núcleos de espermatozoides de dois machos para fazer uma edição gênica, como se fosse um recorte de alguns genes específicos para possibilitar uma evolução de embriões. “E essa gravidez foi gerada em uma rata com uma barriga de aluguel, em um útero de substituição. No entanto, essa técnica gerou ratos que tinham uma expectativa de vida menor, ratos maiores do que a média da espécie e todos os ratos inférteis”, completa. “É importante citar, no entanto, que para a Medicina Reprodutiva, além de todas as questões técnicas do CRISPR, ainda não se sabe qual é a implicação da técnica nesse formato e para essa finalidade. Mesmo que seja possível no futuro essa reprodução em humanos, isso sempre pode esbarrar numa questão ética, porque envolve a mudança da expressão gênica, o DNA da espécie humana como um todo, e não se sabe a repercussão disso”, completa o especialista.
O médico explica que essa técnica pode ser importante para a Medicina Regenerativa, para formar células-tronco pluripotenciais, aquelas células que podem se transformar em qualquer outra célula do organismo. “Há aplicabilidade, por exemplo, para regenerar órgãos que foram lesionados. Parte das células do coração que foram necrosadas em um infarto poderiam ser ‘substituídas’ por células pluripotentes, que virariam células do coração”, exemplifica o médico. “Na Medicina Reprodutiva, entretanto, ainda estamos muito longe disso ser reproduzido em humanos, porque a taxa de sucesso do estudo em si também foi baixa e não foi isenta de outras complicações. E, além disso, há a questão ética”, diz.
Por ora, a Medicina dispõe de algumas técnicas de Reprodução Assistida para casais homoafetivos. “A reprodução assistida para casais homoafetivos do sexo masculino depende, além da doação do óvulo (intermediada por bancos do material que garantem o anonimato dos receptores e doadores), da barriga solidária, ou seja, uma mulher que esteja disposta a gestar o bebê. Após isso, cabe ao casal decidir qual dos dois será o doador do esperma que, em seguida, será usado, na Fertilização In Vitro (FIV), para fecundar o óvulo em laboratório e ser inserido no interior do útero da mulher disposta a gestar a criança”, explica o médico. “Em casais homoafetivos femininos, o processo de reprodução assistida é mais simples, visto que é apenas necessária a doação do sêmen, feita de forma anônima por meio de bancos do material. Com o sêmen, o casal pode optar por dois métodos: a FIV ou a Inseminação Intrauterina (IU). Para a FIV, o casal homoafetivo feminino ainda pode realizar uma gestação compartilhada, processo no qual uma das mulheres cede o óvulo enquanto a outra é a responsável por gestar o bebê. Já a inseminação intrauterina, popularmente conhecida como inseminação artificial, consiste na inserção do espermatozoide doado na cavidade do útero durante o período de ovulação da mulher para que a fecundação ocorra naturalmente”, finaliza.
*DR. RODRIGO ROSA: Ginecologista obstetra especialista em Reprodução Humana e sócio-fundador e diretor clínico da clínica Mater Prime, em São Paulo, e do Mater Lab, laboratório de Reprodução Humana. Membro da Associação Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA) e da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH), o médico é graduado pela Escola Paulista de Medicina – Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM). Especialista em reprodução humana, o médico é colaborador do livro “Atlas de Reprodução Humana” da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana. Instagram: @dr.rodrigorosa
Edição genética com CRISPR viabiliza embriões biparentais em modelo animal
Gostou do post ou tem sugestões?
✍️ Deixe aqui a sua opiniãoComentários
Enviar um comentário
🌟Copie um emoji e cole no comentário: Clique aqui para ver os emojis