Menopausa precoce pode estar ligada a tratamentos contra o câncer, causas autoimunes e genéticas

Mulheres que passam pela situação precisam buscar tratamento, pois a menopausa precoce está ligada a riscos específicos à saúde que podem ser abordado
Criação IA sobre menopausa precoce.

Cerca de três em cada 100 mulheres passarão pela menopausa antes dos 40 anos


Muitos dos casos, no entanto, não têm causa definida. Se não tratada com a terapia hormonal correta, a menopausa precoce aumenta os riscos de infarto, fraturas, derrame e doenças cardiovasculares


São Paulo – janeiro 2025 - A faixa etária normal da menopausa é entre 45 e 55 anos, mas cerca de três em cada 100 mulheres, segundo dados da North American Menopause Society (NAMS), passarão pela menopausa antes dos 40 anos. “Isso é conhecido como menopausa prematura. Existem algumas razões pelas quais a menopausa prematura ocorre, como um tratamento para o câncer, cirurgia dos ovários ou causas autoimunes e genéticas, mas muitas vezes a razão exata é desconhecida. Mulheres que passam pela situação precisam buscar tratamento, pois a menopausa precoce está ligada a riscos específicos à saúde que podem ser abordados com monitoramento e tratamento contínuo”, explica o ginecologista Dr. Igor Padovesi*, especialista em menopausa certificado pela North American Menopause Society (NAMS) e membro da International Menopause Society (IMS). Entre os principais sintomas da menopausa precoce, é possível destacar: as ondas de calor, sudorese noturna, alterações menstruais, mudanças de humor, irritabilidade, insônia, fadiga, entre outros.

Menopausa induzida por tratamentos contra o câncer – Segundo o Dr. Ramon Andrade de Mello*, oncologista de São Paulo, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cancerologia, Pós-Doutor clínico no Royal Marsden NHS Foundation Trust (Inglaterra) e pesquisador honorário da Universidade de Oxford (Inglaterra), a menopausa induzida ocorre quando um tratamento médico contra o câncer, como cirurgia, quimioterapia ou radiação, remove ou danifica seriamente ambos os ovários. "Quanto à cirurgia, quando ambos os ovários são removidos cirurgicamente, a menopausa ocorre. Essa remoção pode ser feita para tratar câncer de ovário. Já quanto à quimioterapia, os medicamentos são usados para tratar vários tipos de câncer, inclusive sendo uma estratégia associada à cirurgia, radioterapia ou ambas. Ela pode danificar os ovários, fazendo com que a mulher pare de menstruar e não produza mais óvulos. A radioterapia usa partículas ou ondas de alta energia para danificar células cancerígenas e reduzir seu tamanho ou impedir que cresçam.  Os riscos de menopausa precoce e infertilidade crescem com o aumento das doses de radioterapia abdominopélvica, e com a quantidade de agentes quimioterápicos utilizados em associação", explica o oncologista. O Dr. Ramon explica que hoje, na Oncologia, existe uma estratégia para preservar a fertilidade das pacientes. “Sabemos que 20% dessas pacientes em tratamento de quimioterapia em idade fértil evoluem com a infertilidade. Hoje, utilizamos a prescrição de análogos do LHRH, como goserelina, para câncer de mama, para que ocorra a supressão da função ovariana, induzindo a menopausa transitória. Então esse tratamento suprime os ovários durante a quimioterapia e após o tratamento contra o câncer as pacientes conseguem voltar à função de fertilidade”, acrescenta o oncologista.

Insuficiência Ovariana Primária – Essa condição ocorre quando mulheres mais jovens pulam muitos períodos seguidos ou não têm nenhum período, segundo o Dr. Igor. “Devido à perda prematura de folículos ovarianos, a condição resulta em níveis mais baixos de hormônios reprodutivos femininos. Um exame de sangue pode relatar um alto nível de hormônio folículo-estimulante, o que pode ser um sinal de menopausa e de poucos óvulos restantes nos ovários. No entanto, a liberação de um óvulo de um ovário (ovulação) ainda pode acontecer ocasionalmente, o que significa que a gravidez ainda é possível”, diz o médico. “Algumas mulheres com insuficiência ovariana primária apresentam sintomas típicos da menopausa, enquanto outras não. Os sintomas podem ser intermitentes. Algumas mulheres retomam os períodos normais em algum momento, e outras não. Existem várias causas conhecidas, incluindo certos distúrbios genéticos e autoimunes. Mulheres com menos de 40 anos que perderam três ou mais períodos menstruais são aconselhadas a consultar um profissional de saúde para determinar se isso é causado por insuficiência ovariana primária ou se há outro motivo para menstruação ausente ou irregular em jogo”, acrescenta o Dr. Igor.  

A menopausa precoce afeta a saúde geral da mulher
O início da menopausa aumenta fatores de risco para os ossos, o coração e a saúde do cérebro, segundo o Dr. Igor. “Para mulheres que passam pela menopausa precocemente, esses riscos podem ser maiores. Com a menopausa, geralmente há um curto período de perda mais rápida da densidade óssea, que é seguida por uma perda óssea mais lenta, mas contínua. No caso da menopausa prematura, essa perda precoce pode levar a um risco mais prematuro de fraturas ósseas relacionadas à osteoporose. Além da reposição de estrogênio para compensar o risco, é especialmente importante se envolver em atividades que incentivem a preservação da densidade óssea”, diz o ginecologista.  

A menopausa prematura também pode aumentar o risco de doenças cardíacas mais tarde na vida. “Além de repor estrogênio para reduzir os riscos cardíacos, é importante seguir um estilo de vida saudável para o coração. Passos específicos incluem não fumar, atingir e manter um peso saudável e ser fisicamente ativa regularmente. Quanto à alimentação, incluir frutas, vegetais e grãos integrais adequados também são estratégias importantes pra manter a saúde cardíaca. Testes de colesterol no sangue de rotina e outros testes, como para diabetes, podem ajudar a monitorar fatores de risco específicos, e medicamentos podem ser recomendados para otimizar o controle”, diz o Dr. Igor Padovesi. 

Como a menopausa pode influenciar a função cognitiva, a reposição hormonal e os bons hábitos de vida também demonstram benefícios para a memória e ajudam a proteger o cérebro contra a demência. “Para mulheres com menopausa induzida, especialmente quando resulta de tratamento para uma doença grave, uma série de outros medos e preocupações podem agravar os desafios da menopausa prematura. Mas o diagnóstico e o tratamento corretos, prescritos por um especialista, são fundamentais para a qualidade de vida e longevidade saudável”, finaliza o Dr. Igor Padovesi.

*DR. IGOR PADOVESI: Médico ginecologista, especialista em menopausa certificado pela North American Menopause Society (NAMS) e membro da International Menopause Society (IMS). Formado e pós-graduado pela USP, onde foi preceptor da Disciplina de Ginecologia, é ex-instrutor dos cursos de pós-graduação e outros cursos da área de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital Albert Einstein e membro do corpo clínico do mesmo hospital. Associado à Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) da qual fez parte da Diretoria de Comunicação Digital (2016-2019). Também é membro sênior da European Society of Aesthetic Gynecology (ESAG) e doutorando com projeto na área de cirurgias íntimas. Em 2024, conquistou o prêmio internacional com o 1º lugar no Congresso Mundial de Ginecologia Estética na Colômbia, com trabalhos científicos sobre ninfoplastias. Instagram: @dr.igorpadovesi

*DR. RAMON ANDRADE DE MELLO: Médico oncologista em São Paulo, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cancerologia, Pós-Doutor clínico no Royal Marsden NHS Foundation Trust (Inglaterra), pesquisador honorário da Universidade de Oxford (Inglaterra), pesquisador sênior do CNPQ (Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico), Brasil, vice-líder do programa de Mestrado em Oncologia da Universidade de Buckingham (Inglaterra), Doutor (PhD) em Oncologia Molecular pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (Portugal). Tem MBA em gestão de clínicas, hospitais e indústrias da saúde pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), São Paulo. É pesquisador e professor do Doutorado da Universidade Nove de Julho (UNINOVE), de São Paulo. Membro do Conselho Consultivo da European School of Oncology (ESO). O oncologista tem mais de 122 artigos científicos publicados, é editor de 4 livros de Oncologia, entre eles o Medical Oncology Compendium, Elsevier, de 2024. É membro do corpo clínico do Hospital Israelita Albert Einstein, Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo, e do Centro de Diagnóstico da Unimed, em Bauru, SP. Instagram: @dr.ramondemello
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