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Segundo um estudo publicado em setembro na revista científica Fertility and Sterility, uma má qualidade do sono pode estar relacionada à diminuição da
Estudo incluiu 1070 mulheres com idade entre 20 e 40 anos
Em pesquisa publicada em setembro na revista científica Fertility and Sterility, participantes com sono ruim apresentaram menores marcadores de reserva ovariana, que indica a quantidade de óvulos disponíveis, em comparação com grupo com melhor qualidade do sono
São Paulo – dezembro 2024 - Não é novidade que, enquanto está tentando engravidar, a mulher deve redobrar os cuidados com os hábitos de vida, já que podem ter um impacto significativo nas chances de gravidez. É fundamental, por exemplo, prestar atenção na qualidade do sono. “O sono é fundamental para o bom funcionamento da hipófise, glândula do cérebro que é responsável pela produção de uma série de hormônios, inclusive daqueles responsáveis pela estimulação dos ovários. Logo, quando o período de repouso é curto ou de pouca qualidade, essa glândula não funciona da maneira como deveria, o que interfere na fertilidade”, diz o Dr. Rodrigo Rosa*, especialista em reprodução humana e diretor clínico da clínica Mater Prime, em São Paulo. Mas a qualidade do sono pode interferir na fertilidade não apenas no momento da tentativa de gravidez, mas também no futuro, já que, segundo um estudo publicado em setembro na revista científica Fertility and Sterility, uma má qualidade do sono pode estar relacionada à diminuição da reserva ovariana.
De acordo com o médico, a reserva ovariana nada mais é que o estoque de óvulos da mulher. “A mulher já nasce com todo o estoque de óvulo que terá durante a vida e a reserva ovariana é reduzida gradualmente conforme os anos passam, se esgotando na menopausa, que marca o fim da período fértil e da capacidade reprodutiva da mulher”, diz o especialista, que explica que a reserva ovariana é influenciada por diversos fatores. “O estoque de óvulos da mulher é definido principalmente pela genética. Mas ele pode diminuir de maneira mais veloz devido a muitas razões, incluindo uso de certo medicamentos, exposição à radiação, certas doenças e cirurgias ovarianas, por exemplo”, pontua.
Para entender o impacto da qualidade do sono sobre a reserva ovariana, o estudo incluiu 1070 mulheres com idade entre 20 e 40 anos que responderam um questionário conhecido como Índice de Qualidade do Sono de Pittsburgh (PSQI), que permite avaliar uma série de indicadores do sono, incluindo duração, latência, qualidade e possíveis distúrbios. Além disso, todas as mulheres realizaram ultrassonografia transvaginal para avaliar a contagem de foliculos antrais (CFA) e exames de sangue para verificar os níveis dos hormônios folículo estimulante (FSH) e anti-mülleriano (AMH), além de outros hormônios reprodutivos. “A medição de FSH e AMH estão entre as maneiras mais simples de verificar o estado da reserva ovariana. Mas enquanto o FSH não é tão confiável devido a sua alta oscilação dependendo do momento da vida da mulher e da fase do ciclo menstrual, o AMH é o melhor marcador de reserva ovariana justamente por não apresentar variabilidade signifitcativa entre ciclos”, detalha o Dr. Rodrigo. “Outra maneira de medir a reserva ovariana é por meio da contagem de folículos antrais, realizada por meio de ultrassom transvaginal geralmente no ínicio do ciclo menstrual. Nesse procedimento, contamos os folículos, responsáveis por armazenar os óvulos imaturos, que estão prontos para se desenvolverem naquele ciclo. Com isso, conseguimos estimar o tamanho da reserva ovariana.”
Após a coleta do questionário e exames, as participantes foram dividas em dois grupos de acordo com a qualidade do sono. Assim, ao compararem os resultados dos exames de ambos os grupos levando em consideração outros fatores como idade e índice de massa corporal (IMC), os pesquisadores observaram que as mulheres com baixa qualidade de sono possuíam maiores níveis de FSH e menores índices de AMH em comparação com o grupo que possuía uma boa qualidade do sono. “Quanto maior a reserva ovariana, maior é a concentração sanguínea de AMH. Já com relação ao FSH, altos níveis do hôrmonio indicam um menor estoque de óvulos”, explica o médico. Além disso, o grupo com baixa qualidade do sono apresentou menor contagem de folículos antrais, o que também aponta para uma reserva ovariana reduzida.
Os resultados apontam então para uma associação entre baixa qualidade do sono e diminuição da reserva ovariana em mulheres em idade reprodutiva. E essa associação foi consistente mesmo em grupos de diferentes idades e IMC. No entanto, o exato motivo pelo qual isso acontece ainda precisa ser elucidado, então mais estudos sobre o tema são necessários. “Alguns possíveis motivos da relação entre sono ruim e fertilidade reduzida incluem: desquilibrios no eixo hipotálamo-pituitária- adrenal (HPA), que, entre outras funções, controla as reações ao estresse e, consequentemente, pode afetar a fertilidade; alterações nos níveis dos hôrmonios reprodutivos devido a desregulação do sono; ou, por fim, um comprometimento da imunidade devido a distúrbios do sono, o que também poderia prejudicar a fertilidade”, explica o Dr. Rodrigo.
Por fim, o médico ressalta que, mesmo com uma baixa reserva ovariana, ainda é possível engravidar naturalmente, mas é uma questão de estatística: “Em tese, basta um óvulo bom. E a qualidade dos óvulos está mais relacionada à idade da mulher do que com o número total de óvulos disponíveis. Mas, quanto mais óvulos, maiores são as chances de encontrarmos óvulos bons. E vale lembrar que hábitos de vida também podem afetar a qualidade dos óvulos”, diz o Dr. Rodrigo. No entanto, o especialista alerta que, quando o estoque de óvulos não é tão grande, é recomendado que a mulher não perca muito tempo com tentativas naturais antes de buscar procedimentos de reprodução assistida. “Se a mulher tem menos de 40 anos e está tentando engravidar por mais de seis meses, já é recomendado que ela procure um especialista em reprodução humana. Mas, se mulher tem mais de 40 anos, o ideal é buscar opções de reprodução assistida imediatamente”, finaliza.
*DR. RODRIGO ROSA - Ginecologista obstetra especialista em Reprodução Humana e sócio-fundador e diretor clínico da clínica Mater Prime, em São Paulo, e do Mater Lab, laboratório de Reprodução Humana. Membro da Associação Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA) e da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH), o médico é graduado pela Escola Paulista de Medicina – Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM). Especialista em reprodução humana, o médico é colaborador do livro “Atlas de Reprodução Humana” da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana. Instagram: @dr.rodrigorosa
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