Como denunciar casos mesmo sem a colaboração da vítima
O recente vazamento de imagens mostrando o cantor de funk Ryan SP agredindo sua atual companheira, a influenciadora digital Gi Roque, reacendeu o debate sobre a violência doméstica no Brasil. As cenas, gravadas por câmeras de segurança e datadas de 21 de abril deste ano, mostram o cantor desferindo um chute em Gi Roque, que aparece sentada no chão. O episódio ganhou enorme repercussão nas redes sociais, especialmente pela reação da própria vítima, que surpreendentemente saiu em defesa do agressor.
Gi Roque, que é mãe da filha de Ryan, se pronunciou após a divulgação das imagens, minimizando o ocorrido e defendendo o funkeiro. Em suas redes sociais, a influenciadora afirmou que o episódio foi uma “situação isolada” e mencionou que a agressão aconteceu após uma briga, na qual ela quebrou o celular de Ryan. Gi também disse que ambos estavam "fora de controle" e que Ryan “não é a pessoa ruim que as imagens sugerem”. Esse tipo de declaração é comum em casos de violência doméstica, onde as vítimas, muitas vezes, se sentem pressionadas ou emocionalmente dependentes do agressor, o que dificulta a denúncia.
O comportamento de Gi Roque levantou discussões sobre o ciclo de abuso em relações violentas e a falta de denúncia por parte das vítimas. Especialistas, como o advogado Robert Beserra, explicam que o fenômeno da vítima defender o agressor é recorrente em relações abusivas, e pode ser motivado por dependência emocional, financeira, ou até medo de represálias. “Em muitos casos, a vítima justifica o comportamento do agressor ou até sente culpa pelo ocorrido. Esse ciclo de violência é extremamente prejudicial e, infelizmente, comum”, explica Beserra.
A falta de denúncia direta da vítima não impede que o agressor seja responsabilizado. De acordo com a Lei Maria da Penha, é possível que terceiros denunciem, como vizinhos, amigos ou familiares, principalmente quando há provas contundentes, como vídeos ou relatos de testemunhas. “A lei permite que a denúncia seja feita mesmo sem a colaboração da vítima, especialmente em situações em que há evidências visuais ou físicas das agressões. As autoridades têm o dever de investigar a violência, mesmo que a vítima tente minimizar ou negar o abuso”, afirma Robert Beserra.
O advogado também salienta a importância da rede de apoio da vítima, que pode ser fundamental para romper o ciclo de violência. “Amigos e parentes desempenham um papel crucial. Muitas vezes, a vítima está fragilizada e não consegue tomar uma atitude sozinha. Por isso, é essencial que essas pessoas, que testemunham ou suspeitam de violência, se posicionem e denunciem. O silêncio pode ser mortal", alerta Beserra.
A violência doméstica é uma realidade alarmante no Brasil. Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, milhares de mulheres sofrem agressões diariamente, e muitas delas não denunciam por medo ou dependência. Esse silêncio pode ser rompido com o apoio da sociedade e de testemunhas que não devem se omitir. "A ação de terceiros é fundamental", reitera Beserra, "sobretudo quando a vítima não se sente capaz de denunciar por conta própria."
Casos como o de Ryan SP e Gi Roque mostram a importância de educar a sociedade sobre os sinais de abuso e encorajar a denúncia, mesmo que não venha diretamente da vítima. Além disso, reforçam a necessidade de acompanhamento psicológico e jurídico para as vítimas, que muitas vezes não conseguem sair do ciclo de violência sozinhas. “A intervenção de profissionais, tanto no campo jurídico quanto no psicológico, é essencial para que a vítima recupere sua autonomia e segurança”, conclui Beserra.
A violência contra a mulher é uma luta contínua, e casos de grande visibilidade, como este, devem servir como alerta para a urgência de medidas mais eficazes de proteção e apoio às vítimas. O número 180, por exemplo, é um serviço de emergência dedicado à violência contra a mulher, onde qualquer pessoa pode denunciar agressões de forma anônima.
Como denunciar casos mesmo sem a colaboração da vítima
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