Parece, mas não é: dor na perna nem sempre é sinal de trombose; saiba como identificar

DO TEXTO: Se a dor surge nas duas pernas, dificilmente trata-se de trombose. Nesses casos, o desconforto pode ser resultado de longos períodos em pé, esforços

Mulher com dor numa perna.


Problemas de circulação além da trombose também podem ser causa da dor unilateral nas pernas


Desconforto nos membros inferiores pode ser gerado por uma série de fatores, desde disfunções circulatórias até problemas ortopédicos. Em quadros de trombose, dor é unilateral e surge de maneira repentina acompanhada por outros sintomas, como calor, inchaço e sensibilidade na região

São Paulo – 17/06/2024 - Dores nas pernas são um problema comum. Ao senti-las, geralmente deduzimos que se trata de um problema de circulação e imediatamente colocamos as pernas para cima. Se a dor é persistente, rapidamente buscamos um cirurgião vascular quase certos do diagnóstico de trombose, especialmente agora com uma maior divulgação do problema na mídia e um aumento do número de casos no Brasil. A média de hospitalizações diárias por trombose venosa passou de 59, em 2012, para 98, em 2022. “Dor na perna é realmente um dos sintomas de trombose, mas uma série de outros fatores também podem causar desconforto na região. No geral, na trombose, a dor é unilateral, afetando apenas um membro, e surge geralmente na panturrilha associada com outros sintomas, como dificuldade de locomoção e inchaço, calor, sensibilidade e mudança de cor na região”, explica a cirurgiã vascular Dra. Aline Lamaita*, membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular.

Ou seja, se a dor surge nas duas pernas, dificilmente trata-se de trombose. Nesses casos, o desconforto pode ser resultado de longos períodos em pé, esforços musculares excessivos durante algum exercício ou ainda condições mais sérias, como a doença arterial obstrutiva periférica (DAOP). “A DAOP é caracterizada pelo acúmulo de placas de gordura e perda de flexibilidade nas paredes dos vasos arteriais, gerando uma obstrução que prejudica a circulação. Além de dor nas pernas, a condição pode causar fadiga, palidez e redução da temperatura nos membros inferiores, perda de pelos nas pernas e até mesmo surgimento de feridas e gangrena em casos graves”, explica a médica. Se a dor nas duas pernas surge especificamente ao toque, uma possibilidade é o lipedema. “O acúmulo de tecido gorduroso com aumento desproporcional no tamanho principalmente das pernas e quadris é a principal característica do lipedema. Esse acúmulo é simétrico e causa dor ao toque, aumento da frequência de hematomas espontâneos e maior tendência ao acúmulo de líquido.”

Já se a dor afeta apenas uma das pernas, a trombose é realmente uma das possibilidades, mas não é a única. Por exemplo, pode ser causada por problemas ortopédicos e fisiátricos, como tendinites, cãibras, lesões e distensões musculares. “Inflamação no nervo ciático é uma causa muito comum de dor na perna, podendo afetar apenas um ou ambos os lados”, diz a Dra. Aline. Problemas de circulação além da trombose também podem ser causa da dor unilateral nas pernas. É o caso da erisipela, uma infecção dos vasos linfáticos causada pela entrada de bactérias presentes na pele por meio de cortes e feridas. “Além da dor, a região pode ficar avermelhada, inchada e quente. Algumas pessoas também sentem febre e calafrios. E tais sintomas também são comuns em quadros de celulite infecciosa, que não tem relação com a celulite estética e difere-se da erisipela pela profundidade da infecção: a erisipela atinge as camadas mais superficiais da pele, enquanto a celulite afeta a derme profunda e o tecido subcutâneo”, relata a Dra. Aline.

Mas as possibilidades são muito diversas, então como saber se realmente se trata de trombose? Primeiro, perceba se a dor afeta as duas pernas ou somente uma. Além disso, tente recordar quando a dor apareceu. “Se a dor surgiu após um exercício intenso, por exemplo, o mais provável é que seja uma dor muscular e não trombose”, diz a médica, que explica que a dor causada pela trombose surge de maneira repentina. “É muito comum que a trombose apareça após situações em que permanecemos parados por muito tempo na mesma posição, como durante longas viagens ou hospitalizações”, afirma a especialista. Além disso, verifique se a dor está acompanhada de outros sintomas característicos da condição, como inchaço, calor e sensibilidade na região. Segundo a Dra. Aline, o local também pode adquirir uma coloração avermelhada ou azulada e a locomoção pode ser prejudicada. “Alguns fatores individuais podem agravar os riscos de trombose, como obesidade, tabagismo, uso de hormônios e pílulas anticoncepcionais, portadores de câncer, gestantes, idosos, deficientes físicos e portadores de varizes. Então, pessoas que se enquadram nesses quesitos devem redobrar a atenção com dores na perna.”

Na dúvida, a recomendação mais importante é realmente buscar um cirurgião vascular para passar por uma avaliação e receber o diagnóstico adequado, especialmente porque a trombose precisa ser tratada assim que possível para evitar que evolua para quadros mais graves, como a embolia pulmonar. “A embolia pulmonar é a grande complicação de uma trombose venosa profunda. Nesses casos, o coágulo sanguíneo característico da trombose se desprende da parede da veia e corre pela circulação até chegar ao pulmão, causando essa embolia pulmonar que pode resultar até mesmo em morte súbita”, alerta a Dra. Aline Lamaita, que explica que o tratamento da trombose inclui o uso de medicamentos anticoagulantes que vão ajudar na redução da viscosidade do sangue e na dissolução do coágulo. “Dessa maneira, conseguimos impedir que esse coágulo cresça e avance para outras regiões, além de evitar a ocorrência de novos quadros de trombose”, completa.

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*DRA. ALINE LAMAITA: Cirurgiã vascular, Dra. Aline Lamaita é membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV). Membro da Sociedade Brasileira de Laser em Medicina e Cirurgia, do American College of Phlebology, e do American College of Lifestyle Medicine, a médica é formada pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (2000) e hoje dedica a maior parte do seu tempo à Flebologia (estudo das veias). Curso de Lifestyle Medicine pela Universidade de Harvard (2018). A médica possui título de especialista em Cirurgia Vascular pela Associação Médica Brasileira / Conselho Federal de Medicina. RQE 26557. Instagram: @alinelamaita.vascular

 

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