Por que geralmente só um espermatozoide fecunda o óvulo? Estudo descobre o motivo

DO TEXTO: Para o estudo, os pesquisadores combinaram cristalografia de raios X e crio-microscopia eletrônica para estudar a estrutura 3D das proteínas da casca
Representação de espermatozoides em direção ao óvulo.

300 milhões de espermatozoides que nadam alucinados para chegar ao óvulo


Novo estudo da revista Cell mostra que, depois que o óvulo foi fertilizado por um espermatozoide, a camada circundante do óvulo se aperta, impedindo mecanicamente a entrada de espermatozoides adicionais e a consequente morte do embrião


São Paulo – maio 2024 - O processo de fertilização em humanos começa quando um espermatozoide se liga e ‘fura’ a camada do óvulo, um envelope extracelular filamentoso, para se fundir com o óvulo. Mas você já se perguntou por que, no geral, só um dos mais de 300 milhões de espermatozoides que nadam alucinados para chegar ao óvulo consegue fecundá-lo? A resposta vem de um estudo recente, publicado em março na revista Cell: “Depois que o óvulo foi fertilizado por um espermatozoide, a camada circundante do óvulo se aperta, impedindo mecanicamente a entrada de espermatozoides adicionais e a conseqüente morte do embrião, segundo o trabalho”, explica Dr. Fernando Prado*, especialista em Reprodução Humana, Membro da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM) e diretor clínico da Neo Vita.  

O trabalho mapeou detalhadamente a estrutura e a função da proteína ZP2, um componente do filamento do revestimento do óvulo que desempenha um papel fundamental na regulação da forma como o óvulo e o esperma interagem entre si na fertilização. “Sabemos que a ZP2 é clivada, ou seja, começa a se dividir, depois que o primeiro espermatozoide entra no óvulo. O estudo descobriu que esse evento torna a camada do óvulo mais dura e impermeável a outros espermatozoides. É como se o portão, que já não era fácil de entrar, se fechasse completamente”, explica o médico. “Isso evita a polispermia – a fusão de múltiplos espermatozoides com um único óvulo – que é uma condição fatal para o embrião”.

As alterações na camada do óvulo após a fertilização também são cruciais para a fertilidade feminina, garantindo a proteção do embrião em desenvolvimento até que este se implante no útero.

É importante ressaltar que o estudo também mostra que uma parte da ZP2 que anteriormente se pensava que atuava como um receptor para os espermatozoides não é necessária para que os espermatozoides se liguem ao óvulo. Isto levanta a questão de qual é o verdadeiro receptor do esperma na camada do óvulo, que os investigadores planejam analisar mais detalhadamente.

Para o estudo, os pesquisadores combinaram cristalografia de raios X e crio-microscopia eletrônica para estudar a estrutura 3D das proteínas da casca do óvulo. A interação entre espermatozoides e óvulos portadores de mutações na proteína ZP2 foi estudada funcionalmente em camundongos, enquanto o programa de IA AlphaFold foi usado para prever a estrutura da cobertura do óvulo em humanos.

O novo conhecimento pode explicar formas de infertilidade feminina associadas à camada de óvulo mais rígida. “Mutações nos genes que codificam as proteínas da casca do óvulo podem causar infertilidade feminina, e cada vez mais mutações desse tipo estão sendo descobertas”, diz o médico. “Em casos em que o casal não consegue engravidar de forma natural, a fertilização in vitro (FIV) pode ser indicada, pois a reprodução assistida pode ajuda a ‘furar’ esse bloqueio em óvulos mais rígidos”, finaliza o médico.

🩺 🩺 🩺

*DR. FERNANDO PRADO: Médico ginecologista, obstetra e especialista em Reprodução Humana. É diretor clínico da Neo Vita e coordenador médico da Embriológica. Doutor pela Universidade Federal de São Paulo e pelo Imperial College London, de Londres - Reino Unido. Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal de São Paulo, Membro da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM) e da Sociedade Europeia de Reprodução Humana (ESHRE). Instagram: @neovita.br
POSTS RELACIONADOS:
Enviar um comentário

Comentários