Bed Rotting: entenda os riscos da trend do TikTok que sugere ficar longos períodos na cama para desestressar

O bed rotting (apodrecer na cama, em tradução livre) já acumula mais de 57 milhões de visualizações na plataforma e consiste em optar por passar...
Quarto de dormir em cuja cama está deitado um esqueleto tendo junto a si um tablet. Na parede uma moldura com o logótipo do Portal Splish Splash.


Com mais de 57 milhões de visualizações na plataforma de vídeos...


...hábito de permanecer longos períodos na cama para realizar atividades passivas é estratégia da Geração Z para desestressar, mas pode oferecer riscos à circulação sanguínea. Cirurgiã vascular explica


Destaques:
  • Adeptos do Bed Rotting (apodrecer na cama) optam por passar longos períodos na cama, assistindo filmes ou rolando pelas redes sociais, como forma de autocuidado.
  • Passar muito tempo parado na mesma posição pode prejudicar a circulação e favorecer surgimento de problemas como inchaço, varizes e trombose.
  • Em vez de ficar longos períodos parado, intercale com atividades que movimentem as pernas, como caminhadas e exercícios físicos, que também são ótimas estratégias para modular o estresse.

A Geração Z sabe muito bem a importância do autocuidado e não abre mão de hábitos que contribuem para a manutenção da saúde mental, seja por meio da realização de um dia de spa em casa, de uma noite com os amigos ou da prática de atividades físicas. E a nova tendência que circula pelo TikTok segue essa linha: o bed rotting (apodrecer na cama, em tradução livre) já acumula mais de 57 milhões de visualizações na plataforma e consiste em optar por passar longos períodos na cama realizando atividades passivas, como assistir séries e filmes e rolar pelas redes sociais, como forma de desestressar. Porém, o que poucos adeptos da prática sabem é que permanecer na mesma posição por longos períodos de tempo pode ter sérias consequências para a saúde, favorecendo, por exemplo, o surgimento de problemas circulatórios. “A musculatura da panturrilha é a responsável por bombear o sangue das pernas e fazer com que retorne ao coração. Mas, quando ficamos parados na mesma posição, a contração dessa musculatura não ocorre, o que dificulta o retorno do sangue e a circulação, favorecendo o surgimento de retenção de líquido, inchaço e sensação de pernas pesadas e cansadas”, explica a cirurgiã vascular Dra. Aline Lamaita*, membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular.

De acordo com a angiologista, períodos prolongados sem mudar de posição também colaboram com quadros circulatórios. “O sangue acumulado, lentificado nas veias prejudica o funcionamento adequado dentro dos vasos sanguíneos, responsáveis por controlar a passagem do sangue. Com o sistema valvular parando de funcionar corretamente, ocorre o que chamamos de estase sanguínea, que é um dos fatores da tríade que favorece a formação dos coágulos sanguíneos característicos da trombose”, acrescenta a Dra. Aline Lamaita.

A médica ainda alerta que, em casos extremos e graves, esse coágulo pode se desprender da parede da veia e correr pela circulação até chegar ao pulmão, causando uma embolia pulmonar que pode resultar até mesmo em morte súbita. Um estudo de 2018 publicado no Journal of Thrombosis and Thrombolysis confirmou que o hábito de permanecer longos períodos na mesma posição para assistir televisão está associado ao surgimento desses coágulos. “E, de acordo com o estudo, mesmo quem pratica atividades físicas regularmente possui mais chances de desenvolver trombose caso passe muito tempo parado assistindo televisão”, diz a médica.

Por isso, em vez de ficar longos períodos parado na cama para maratonar séries e filmes ou rolar pelas redes sociais, intercale com alguma atividade que movimente as pernas. Por exemplo, de tempos em tempos, procure levantar para caminhar um pouco, seja para ir ao banheiro, tomar um café ou respirar um ar fresco. E não é preciso muito: um estudo de janeiro mostrou que apenas cinco minutos de caminhada a cada meia hora parado pode reduzir significativamente tanto a pressão arterial quanto os níveis de açúcar no sangue. “E sabemos que, enquanto a pressão alta está associada a um maior risco de varizes, trombose, aterosclerose, infarto e AVC, níveis de açúcar descontrolados, por sua vez, prejudicam a saúde arterial, o fluxo sanguíneo e podem impedir a passagem do sangue para o coração”, diz a médica.

Além disso, beber bastante água, manter uma dieta balanceada, diminuir a quantidade de sal nas refeições, praticar exercícios físicos e evitar roupas apertadas são outras dicas que podem ajudar a prevenir os problemas de circulação no dia a dia. “Caso você note qualquer tipo de alteração nas pernas, como mudança da coloração da pele, inchaço persistente, queimação, sensação de cansaço e retenção de liquido, é importante que você consulte um médico especializado. Apenas ele poderá diagnosticar o problema e indicar o melhor tratamento para cada caso”, diz a médica, que, por fim, ressalta que, em vez do bed rotting, o ideal seria investir em uma nova trend em prol da saúde mental que envolva se expor ao sol, contato com a natureza (grounding) e colocar movimento no dia a dia, pois esses sim são elementos essenciais para quem busca saúde mental e equilíbrio.

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Dra. Aline Lamaita
*DRA. ALINE LAMAITA:
Cirurgiã vascular, Dra. Aline Lamaita é membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV). Membro da Sociedade Brasileira de Laser em Medicina e Cirurgia, do American College of Phlebology, e do American College of Lifestyle Medicine, a médica é formada pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (2000) e hoje dedica a maior parte do seu tempo à Flebologia (estudo das veias). Curso de Lifestyle Medicine pela Universidade de Harvard (2018). A médica possui título de especialista em Cirurgia Vascular pela Associação Médica Brasileira / Conselho Federal de Medicina. RQE 26557. Instagram: @alinelamaita.vascular
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