Perda de audição compromete a qualidade de vida de idosos e deve ser acompanhada de perto

DO TEXTO: Afinal, cuidar da audição é cuidar das memórias e das relações das pessoas idosas, que são tão importantes para os manter com o propósito de viver

Médico testando audição de paciente.

Os indicativos de surdez costumam partir de situações cotidianas, como aumentar demasiadamente o volume da TV





Por: Dr. Gilberto Ferlin*


A perda auditiva, a partir da quinta ou sexta década de vida, faz parte do processo natural de envelhecimento humano. Ou seja, é algo mais do que previsto e comum - assim como as alterações da visão, perda de cabelo e perda de massa muscular, dentre outras tantas perdas também associadas ao envelhecimento.

No caso da audição, porém, é algo que penaliza de sobremaneira os pacientes quando têm essa condição agravada. Afinal, a surdez provoca uma situação de isolamento social, justamente pela perda da capacidade de comunicação que lhe é imposta.

Trabalhos recentes vêm associando a deficiência auditiva em idosos à evolução de quadros demenciais. Nesses casos, a reabilitação com aparelhos de amplificação sonora individual, segundo o tipo de perda auditiva, pode evitar essa progressão e, em alguns casos, até melhorar a cognição.

Quando se trata de idosos em especial, a dificuldade auditiva com comprometimento da comunicação interpessoal é, sem dúvida, um fator de risco a quem preza por uma boa qualidade de vida. Por isso, é tão importante o acompanhamento médico regular. 

Afinal, cuidar da audição é cuidar das memórias e das relações das pessoas idosas, que são tão importantes para os manter com o propósito de viver e garantir a autonomia e independência deles. As pessoas que convivem com idosos precisam ter isso muito claro e sempre estar atentos!

Os indicativos de surdez costumam partir de situações cotidianas, como aumentar demasiadamente o volume da TV, solicitar que repitam as frases recorrentemente, não responder a chamados e apresentar dificuldades para manter conversação em ambientes com ruido competitivo, como em uma mesa de restaurante com alguns familiares. Também é bastante comum a dificuldade em falar/entender ao telefone; falta de uma boa compreensão das palavras que ouve; dificuldade em conseguir manter conversas simples; e elevação do som da própria voz.

Para um diagnóstico correto, o exame de audiometria é o mais recomendável, pois identifica o tipo e o grau da perda auditiva. Ele é fundamental para detectar perdas auditivas ainda em seu estágio inicial, para que seja feita uma intervenção precoce a fim de melhorar a qualidade de vida das pessoas que já apresentam algum grau de deficiência. Isso porque o exame ajuda a identificar se o paciente precisará utilizar um aparelho auditivo e qual a melhor indicação (tecnologia e modelo), de acordo com as suas necessidades.

O meio mais indicado para iniciar a reabilitação, tão logo ocorra alterações sensoriais auditivas, é avaliá-la periodicamente a partir dos 60 anos. O ideal é que o idoso não espere sentir desconforto auditivo para fazer o exame, principalmente se houver histórico de surdez na família. Da mesma forma, os parentes e cuidadores devem ficar atentos para que essa condição não comprometa a qualidade de vida.

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que, no Brasil, há 28 milhões de pessoas com surdez, representando 14% da população, com incidência maior em idosos. Em média, segundo a Associação Brasileira de Otorrinolaringologia, as pessoas demoram cerca de sete anos para procurar um especialista após perceberem algum dano à audição e ainda levam mais dois anos para escolher um tratamento. 

Componentes genéticos e fatores de risco específicos, como diabetes, pressão alta, tabagismo e uso excessivo de álcool, podem acelerar o processo de perda auditiva. As causas mais recorrentes, por sua vez, são a exposição ao ruído ao longo da vida, atuação em alguns tipos de ambientes de trabalho e a não-utilização de protetor auditivo.

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*Dr. Gilberto Ferlin é médico otorrinolaringologista e foniatra no Hospital Paulista.

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