Comer menos frutas e vegetais pode ser um fator de risco para doença renal crônica?

DO TEXTO: A doença, que afeta cerca de 37 milhões de adultos nos Estados Unidos e 10 milhões no Brasil, deixa os rins menos capazes de filtrar os resíduos do..

Frutas e legumes.


Pessoas com doença renal comem menos frutas e vegetais, levando a discussão sobre como a falta de nutrientes pode predispor a doença


São Paulo –fevereiro 2023 - As estimativas apontam que apenas um em cada três brasileiros consome frutas e vegetais regularmente. Esse é um número baixo. Mas ainda há aquelas pessoas que não comem esses alimentos de jeito nenhum, o que pode ser extremamente perigoso. “Frutas e vegetais contêm importantes compostos bioativos que demonstraram ter efeitos benéficos na saúde humana. Eles são fontes e ricos em vitaminas A, C, E e K e minerais como potássio, magnésio e cálcio. Além disso, também são uma boa fonte de fibras alimentares e possuem propriedades antioxidantes, além de fornecer também macronutrientes, como proteínas, carboidratos e gorduras boas”, explica a médica nutróloga Dra. Marcella Garcez*, professora e diretora da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN). Um estudo publicado em julho de 2022 no Journal of Renal Nutrition mostrou que pessoas com doença renal comem menos frutas e vegetais. “Embora o estudo não tenha mostrado que a baixa ingestão é um fator de risco ou resposta à doença renal crônica, o baixo consumo de frutas e vegetais foi mais comum em pacientes com a doença. Mas sabemos que uma alimentação com mais frutas e vegetais está associada à diminuição de fatores de risco relacionados à doença renal. Isso acontece porque há um maior aporte de fibras e antioxidantes na dieta. Esses nutrientes ajudam o corpo contra componentes inflamatórios e o estresse oxidativo”, destaca a médica nefrologista Dra. Caroline Reigada*, especialista em Medicina Intensiva pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira.

Segundo a médica nefrologista, a doença, que afeta cerca de 37 milhões de adultos nos Estados Unidos e 10 milhões no Brasil, deixa os rins menos capazes de filtrar os resíduos do sangue e pode levar à pressão alta, doenças cardíacas e derrame. “Após contabilizar fatores como tamanho da cintura, diabetes e pressão alta, os pesquisadores descobriram que aqueles com doença renal crônica eram consistentemente mais propensos a praticar um padrão alimentar que incluía menos frutas e vegetais do que pessoas sem a doença. São necessárias mais pesquisas para descobrir se o baixo consumo de frutas e vegetais contribui ou resulta da doença renal crônica e quais outros fatores podem estar envolvidos. Os médicos às vezes aconselham os pacientes com a doença a reduzir o consumo de potássio, um mineral comumente encontrado em frutas e vegetais”, explica a Dra. Caroline Reigada.

Mas também existe um contraponto a essa recomendação. Isso porque consumir mais vegetais e frutas é interessante, segundo a nefrologista, para que esses pacientes com doença renal crônica combatam alterações na microbiota que implicam em várias mudanças na fermentação bacteriana e na geração de proteínas tóxicas. “Estas proteínas tóxicas se acumulam no plasma dos pacientes, contribuindo para a síndrome urêmica, e como efeito na progressão da doença renal, em mediadores pró-inflamatórios e estresse oxidativo, no risco cardiovascular e na resistência insulínica. Foi demonstrado que a produção desses solutos é influenciada por modificações nos hábitos alimentares, uma vez que dietas ricas em fibras não digeríveis podem reduzir em cerca de 60% a excreção urinária dessas proteínas tóxicas”, explica a médica. “Vale destacar também que pacientes com doença renal crônica são inflamados cronicamente. O consumo maior de fibras e os antioxidantes presentes em frutas e vegetais agem de forma importante para melhora da microbiota intestinal com efeito antioxidante e anti-inflamatório”, acrescenta a médica. “Sabemos que o estresse oxidativo está relacionado à progressão da lesão renal, das complicações cardiovasculares e das maiores taxas de mortalidade. Consumir esses alimentos pode representar, a longo prazo, melhor status antioxidante, já que contam como fitoquímicos, poderosos antioxidantes, impedindo a geração de radicais livres”, destaca a Dra. Caroline Reigada.

Segundo a médica nutróloga, uma dieta rica em frutas e vegetais reduz também o risco de problemas cardiovasculares e complicações futuras. “Estima-se que o risco de doenças cardíacas entre os indivíduos que ingerem mais de cinco porções de frutas e vegetais por dia seja reduzido em 20%, em comparação com aqueles que comem menos de três porções por dia”, afirma a médica. De acordo com a revisão Effects of Vegetables on Cardiovascular Diseases and Related Mechanisms, o consumo de vegetais está inversamente correlacionado ao risco de doenças cardiovasculares. “Pesquisas de vários estudos epidemiológicos mostram que vegetais como aspargos, aipo, alface, brócolis, cebola, tomate, batata, soja e gergelim têm grande potencial na prevenção e tratamento de doenças cardiovasculares. Esses vegetais apresentam ação protetora do coração principalmente por seus efeitos antioxidantes, anti-inflamatórios e antiplaquetários”, diz a médica nutróloga. “Frutas e vegetais ajudam a regular a pressão arterial e a glicose no sangue; eles também têm um efeito favorável no perfil lipídico. Além disso, previnem danos ao miocárdio, modulam as atividades enzimáticas, regulam a expressão gênica e as vias de sinalização associadas a doenças cardiovasculares”, conta a médica. “Com esses benefícios, eles ajudam a prevenir problemas nos rins”, finaliza a médica nefrologista.

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*DRA. CAROLINE REIGADA: Médica nefrologista, especialista em Medicina Interna pela Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e em Nefrologia pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. A médica é especialista em Medicina Intensiva pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira. Formada pela Faculdade de Medicina da Universidade de Santo Amaro, a Dra. Caroline Reigada participa periodicamente de cursos e congressos, além de ter publicado uma série de trabalhos científicos premiados. Participou do curso “The Brigham Renal Board Review Course” em Harvard. Atualmente é médica do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Instagram: @dracaroline.reigada.nefro

*DRA. MARCELLA GARCEZ: Médica Nutróloga, Mestre em Ciências da Saúde pela Escola de Medicina da PUCPR, Diretora da Associação Brasileira de Nutrologia e Docente do Curso Nacional de Nutrologia da ABRAN. A médica é Membro da Câmara Técnica de Nutrologia do CRMPR, Coordenadora da Liga Acadêmica de Nutrologia do Paraná e Pesquisadora em Suplementos Alimentares no Serviço de Nutrologia do Hospital do Servidor Público de São Paulo. Além disso, é membro da Sociedade Brasileira de Medicina Estética e da Sociedade Brasileira para o Estudo do Envelhecimento. Instagram: @dra.marcellagarcez

 


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