Dedicada aos inconformados com o senso comum, "A Casa Cósmica" reúne coletânea de textos que tecem o amor ou beiram ao grotesco
Sem a pretensão de ser agradável ou polido, é de drama, astúcia e liberdade que vive o Poeta Vagabundo. Protagonista e eu lírico de A Casa Cósmica, não mede palavras para opinar sobre política, religião, relações humanas e, principalmente, o senso comum – e quem decide segui-lo sem questionamentos. Para ele, a estrutura do “obedecer e ser obedecido” é inglória e quem escolhe de desgarrar da massa poderá gozar dos prazeres da vida, como o amor, humor e arte.
O poeta excêntrico criado pelo escritor gaúcho Gustavo Malagigi provoca no leitor uma miscelânea de sentimentos, que podem variar rapidamente entre alegria e aversão. O próprio título da obra faz referência a este cosmos único, ora ordeiro, ora caótico, criado pelo protagonista e no qual as críticas são feitas despreocupadamente em tons de sarcasmo, acidez e revolta, mas também com boa dose de drama, afeto e delicadeza.
Enquanto no poema “Menina” expõe a repulsa ao conservadorismo, machismo e extremismo, a crônica “Canários caribenhos” usa linguagem poética, mas tom seco, para fazer duras críticas ao governo ditatorial da Cuba castrista. Uma verdadeira coletânea dedicada a quem não se conforma com definições rasas de como é ou deve ser a vida; pessoas que, assim como ele, procuram por alívio das próprias tragédias, ou doses de pecado para saciar inquietações.
Inspirado pelo espírito satírico de Gregório de Matos (O Boca do Inferno), e pela insanidade do dramaturgo gaúcho Qorpo-Santo, precursor do teatro do absurdo no Brasil, Malagigi reage ao mundo por meio da literatura. É pelas palavras que se sente transcender à realidade monótona, imposta pelo senso comum que critica.