Sal extra adicionado aos alimentos à mesa aumenta em 28% risco de morte prematura, diz estudo

DO TEXTO: Consumo exagerado de sal é um problema de saúde pública no Brasil e no mundo.

Mulher com cabelos brancosMão deixando cair sal numa saladeira.

Adicionar sal aos alimentos à mesa é um comportamento alimentar comum, mas fazer isso com frequência pode representar um risco 28% maior de morte prematura

São Paulo – outubro 2022 - As pessoas que adicionam sal extra à comida na mesa correm maior risco de morrer prematuramente por qualquer causa, de acordo com um estudo com mais de 500.000 pessoas, publicado no começo de julho no European Heart Journal. Em comparação com aqueles que nunca ou raramente adicionavam sal, aqueles que sempre adicionavam sal à comida tinham um risco 28% maior de morrer prematuramente. “Na população geral, cerca de três em cada cem pessoas com idade entre 40 e 69 anos morrem prematuramente. O risco aumentado de sempre adicionar sal aos alimentos visto no estudo atual sugere que mais uma pessoa em cada cem pode morrer prematuramente nessa faixa etária. O sal é a maior causa de hipertensão arterial (pressão alta). Além de causar retenção de líquidos, o sal causa constrição (estreitamento) das arteríolas, com consequente elevação da pressão arterial. A hipertensão de longa data lesa os rins e seus diversos vasos, ou seja, ocorrem lesões de órgãos-alvo, como acontece no coração e no cérebro. Dados recentes mostram que o sódio (sal) também modula o funcionamento de células imunológicas, apoiando a teoria do aumento inflamatório no organismo”, explica a médica nefrologista Dra. Caroline Reigada*, especialista em Medicina Intensiva, pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira, e em Clínica Médica/Medicina Interna.

Segundo a médica nutróloga Dra. Marcella Garcez*, diretora e professora da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN), a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que o consumo de sal não ultrapasse 5 gramas por dia — ou 2 gramas de sódio, mineral que compõe o sal. “Só que o brasileiro ingere quase o dobro disso: em média 9,34 gramas, segundo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). O consumo excessivo é um perigo para a saúde, pois o sal está relacionado ao aumento do risco de doenças crônicas e silenciosas, como hipertensão arterial, doenças cardiovasculares, doenças renais, entre outras, que podem evoluir com risco aumentado de morte precoce”, explica a Dra. Marcella Garcez.

Além disso, o estudo encontrou uma expectativa de vida menor entre as pessoas que sempre adicionaram sal em comparação com aquelas que nunca ou raramente adicionaram sal. “Aos 50 anos, 1,5 anos e 2,28 anos foram derrubados da expectativa de vida de mulheres e homens, respectivamente, que sempre adicionavam sal à comida em comparação com aqueles que nunca ou raramente o faziam”, conta a Dra. Caroline, que integra o corpo clínico de hospitais como São Luiz, Beneficência Portuguesa de São Paulo e Hospital Alemão Oswaldo Cruz. “Avaliar a ingestão geral de sódio é notoriamente difícil, pois muitos alimentos, principalmente alimentos pré-preparados e processados, têm altos níveis de sal adicionados antes mesmo de chegarem à mesa. Então todo sal que é colocado a mais nos pratos já prontos tornam-se excessivos com risco de seu consumo crônico lesar alguns órgãos”, explica a médica nefrologista.

Segundo o estudo, adicionar sal aos alimentos à mesa é um comportamento alimentar comum que está diretamente relacionado à preferência de longo prazo de um indivíduo por alimentos com sabor salgado e ingestão habitual de sal. “Na dieta ocidental, a adição de sal à mesa representa 6-20% da ingestão total de sal e fornece uma maneira única de avaliar a associação entre a ingestão habitual de sódio e o risco de morte", diz o trabalho. Os pesquisadores analisaram dados de 501.379 pessoas que participaram do estudo do UK Biobank. Ao ingressar no estudo entre 2006 e 2010, os participantes foram questionados, por meio de um questionário com tela sensível ao toque, se adicionavam sal aos alimentos (i) nunca/raramente, (ii) às vezes, (iii) geralmente, (iv) sempre, ou (v) preferem não responder. Aqueles que preferiram não responder não foram incluídos na análise. Os pesquisadores ajustaram suas análises para levar em conta fatores que podem afetar os resultados, como idade, sexo, raça, privação de sono, índice de massa corporal (IMC), tabagismo, ingestão de álcool, atividade física, dieta e condições médicas como diabetes, câncer e doenças do coração e dos vasos sanguíneos. Eles acompanharam os participantes por uma mediana (média) de nove anos. A morte prematura foi definida como morte antes dos 75 anos.

Além de descobrir que sempre adicionar sal aos alimentos estava associado a um risco maior de morte prematura por todas as causas e a uma redução na expectativa de vida, os pesquisadores descobriram que esses riscos tendiam a ser ligeiramente reduzidos em pessoas que consumiam as maiores quantidades de frutas e vegetais, embora esses resultados não tenham sido estatisticamente significativos. "Frutas e vegetais são as principais fontes de potássio, que tem efeitos protetores e estão associados a um menor risco de morte prematura", explica a Dra. Caroline.

A Dra. Marcella Garcez enfatiza que, a longo prazo, além dos riscos individuais, o consumo exagerado de sal é um problema de saúde pública no Brasil e no mundo. “Isso representa muito custo para o sistema público de saúde e para sociedade, porque pessoas morrem prematuramente, as pessoas adoecem, deixam de trabalhar e produzir”, conta a médica nutróloga. “Assim como a redução do açúcar adicionado, a diminuição no consumo de sal é considerada uma das intervenções de melhor custo benefício contra as doenças crônicas não transmissíveis no mundo”, completa a Dra. Marcella.

A médica Dra. Caroline argumenta que, além de diminuir o sal extra adicionado após as preparações, o ideal é, na medida do possível, preparar as próprias refeições, uma vez que dessa forma dá para diminuir a quantidade de sódio. “Nunca conseguiremos ter controle da quantidade de sal adicionado em uma refeição comprada em restaurante, fast-foods e delivery. Em casa, na preparação, uma dica é preferir temperos naturais para dar sabor à comida, como: alho, cebola, salsinha, cebolinha, coentro, limão ou outros de sua preferência. Devemos evitar também todos os alimentos que são altamente processados e ricos em sódio, como embutidos, temperos e molhos prontos, enlatados, conservas, queijos amarelos, sopas de pacote e macarrão instantâneo, carnes salgadas, salgadinhos para aperitivos, bolachas salgadas ou doces recheadas, margarina ou manteiga com sal, requeijão normal ou light, maionese pronta, patês, produtos com glutamato monossódico, como molho de tomate pronto, salgadinhos, sardinha em lata, farofa e temperos prontos”, conta a médica. “Assim como devemos adequar o paladar doce para reduzir os excessos de açúcar, o acréscimo de especiarias e temperos proporcionará sabor, sem excessos de sal. Temos ciência de que estratégias de redução de sal no nível social reduzirão os níveis médios de pressão arterial da população, resultando em menos pessoas desenvolvendo hipertensão e suas consequências, lembrando que a pressão alta é a primeira principal causa de insuficiência renal”, finaliza a médica nefrologista.

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*DRA. CAROLINE REIGADA: Médica nefrologista formada pela Faculdade de Medicina da Universidade de Santo Amaro, com residência médica na Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e residência em Nefrologia no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Especialista em Medicina Intensiva pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira, a médica participa periodicamente de cursos e congressos, além de ter publicado uma série de trabalhos científicos premiados. Participou do curso “The Brigham Renal Board Review Course” em Harvard. Integra o corpo clínico de hospitais como São Luiz, Beneficência Portuguesa de São Paulo e Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Instagram: @dracaroline.reigada.nefro

*DRA. MARCELLA GARCEZ: Médica Nutróloga, Mestre em Ciências da Saúde pela Escola de Medicina da PUCPR, Diretora da Associação Brasileira de Nutrologia e Docente do Curso Nacional de Nutrologia da ABRAN. A médica é Membro da Câmara Técnica de Nutrologia do CRMPR, Coordenadora da Liga Acadêmica de Nutrologia do Paraná e Pesquisadora em Suplementos Alimentares no Serviço de Nutrologia do Hospital do Servidor Público de São Paulo. Além disso, é membro da Sociedade Brasileira de Medicina Estética e da Sociedade Brasileira para o Estudo do Envelhecimento. Instagram: @dra.marcellagarcez


 


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