Controle do peso em homens também é importante para preservar a fertilidade

DO TEXTO: Existem também outras causas de infertilidade masculina, como as genéticas e a varicocele

Homens gordo.


Estudo recente mostrou que as anormalidades associadas ao envelhecimento das células espermáticas podem ser exacerbadas pelo índice de massa corporal (IMC) elevado

São Paulo – Setembro/2022 - A fertilidade feminina é muito afetada pela idade, mas as principais causas de infertilidade masculina estão ligadas a hábitos de vida: obesidade, tabagismo, abuso de álcool, alimentação inadequada, sono não reparador e sedentarismo. E acredite, nessa conta, o peso é fundamental. “Nos homens, o excesso de gordura corporal prejudica a produção de testosterona, o que, além de reduzir o apetite sexual e causar dificuldades de ereção, também interfere na qualidade e quantidade de espermas. No geral, quanto maior o sobrepeso, menor é a qualidade, concentração e mobilidade do esperma”, ressalta o Dr. Rodrigo Rosa, especialista em reprodução humana e diretor clínico da clínica Mater Prime, em São Paulo, e sócio-fundador do Mater Lab, laboratório de Reprodução Humana. Um estudo recente, publicado em maio na Developmental Cell, mostrou que a análise de uma única célula de testículos humanos autopsiados sugere que as anormalidades associadas ao envelhecimento das células espermáticas podem ser exacerbadas pelo índice de massa corporal (IMC) elevado.

Embora esteja bem estabelecido que homens mais velhos apresentam saúde reprodutiva reduzida, o envelhecimento testicular permanece pouco compreendido em nível molecular e genômico. “O envelhecimento pode conferir uma combinação de mudanças moleculares modestas que sensibilizam o testículo para desregulação adicional, com desregulação pronunciada causada quando o envelhecimento é combinado com fatores adicionais, como obesidade”, diz o médico.

Os pesquisadores usaram o sequenciamento de RNA de célula única para perfilar mais de 44.000 células obtidas de amostras de testículos de autópsia de quatro homens jovens e oito homens mais velhos. Os doadores mais velhos foram selecionados para ter filhos como adultos jovens para garantir a fertilidade no início da idade adulta.

As amostras jovens se agruparam e não exibiram assinaturas moleculares de envelhecimento ou uma capacidade interrompida de produzir espermatozoides. Surpreendentemente, as amostras mais antigas mostraram apenas mudanças modestas relacionadas à idade nas células-tronco que dão origem ao esperma maduro, mas foram claramente classificadas em dois grupos distintos. “O primeiro grupo exibiu uma capacidade intacta de produzir espermatozoides, com apenas fracas assinaturas moleculares que os distinguiam de amostras jovens. Em contraste, o segundo grupo mostrou uma capacidade muito limitada de desenvolver espermatozoides. Notavelmente, o IMC surgiu como um fator crítico entre os indivíduos mais velhos nesse grupo em que os espermatozoides tiveram mais anormalidades”, explica o médico.

Todos os doadores do primeiro grupo apresentaram níveis de IMC inferiores a 27, enquanto todos os doadores do segundo grupo apresentaram níveis superiores a 30. “Os resultados revelam possíveis mecanismos moleculares subjacentes às complexas alterações testiculares associadas ao envelhecimento e sua possível exacerbação por doenças crônicas concomitantes e condições como a obesidade”, explica o médico.

O médico ressalta que mais estudos podem envolver a questão para ficar mais claro se dieta, exercício físico, diabetes ou produção hormonal alterada são, especificamente ou conjuntamente, preponderantes no envelhecimento dos testículos.

Existem também outras causas de infertilidade masculina, como as genéticas e a varicocele, caracterizada pela dilatação e varizes das veias da bolsa testicular. Segundo o especialista, o exame que vai avaliar o potencial fértil do homem é o espermograma, que mostra o volume do sêmen, a concentração dos espermatozoides, a motilidade nesses espermatozoides e a morfologia. “Baseado nesses parâmetros, nós podemos estimar se o homem é fértil ou não. Mas a comprovação de fertilidade é apenas quando há a gravidez. No caso de alteração do espermograma, fazemos outros exames para avaliar a causa daquela alteração, como um ultrassom de bolsa testicular, doppler para avaliar a presença de varicocele além do exame clínico, exames hormonais e também um exame chamado de fragmentação de DNA espermático, que também pode ser causa de infertilidade e abortos de repetição”, diz o médico.

O principal tratamento da infertilidade masculina é identificar e tratar a causa daquela infertilidade. “Então se for a varicocele, o tratamento cirúrgico pode ser indicado. Se for obesidade, a perda de peso. Se for algum hábito de estilo de vida, melhorar esse hábito. Mas existem casos que são realmente irreversíveis, que são sequelas de traumas e infecções ou mesmo genéticas que não são passíveis de reversão. Na grande maioria dos casos em que não há uma forma de reverter aquela piora da qualidade e quantidade dos espermatozoides, são indicados os tratamentos de reprodução assistida como a inseminação artificial nos casos mais leves e nos casos mais severos a fertilização in vitro”, diz o médico. “Todos os casais que estão tentando engravidar há um ano sem sucesso devem ser investigados, porque é uma luta contra o tempo, quanto antes diagnosticar e tratar a causa da infertilidade, melhor o prognóstico de gravidez. E como a infertilidade masculina é tão comum quanto a feminina, sempre o homem deve ser investigado. O espermograma é um exame básico, que deveria ser feito em todos os homens antes mesmo de tentar a gravidez para que o homem saiba que, se tiver um problema, trate aquela causa antes que se perca tempo em busca de uma gestação espontânea que muitas vezes pode não acontecer”, finaliza.

                                                                     💢💢💢

*DR. RODRIGO ROSA: Ginecologista obstetra especialista em Reprodução Humana e sócio-fundador e diretor clínico da clínica Mater Prime, em São Paulo, e do Mater Lab, laboratório de Reprodução Humana. Membro da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA) e da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH), o médico é graduado pela Escola Paulista de Medicina – Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM). Especialista em reprodução humana, o médico é colaborador do livro “Atlas de Reprodução Humana” da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana. Instagram: @dr.rodrigorosa

 


POSTS RELACIONADOS:
Enviar um comentário

Comentários