Pesquisadores desenvolvem método para diagnóstico precoce de aterosclerose

DO TEXTO: A descoberta foi publicada em fevereiro na revista médica Scientific Reports.

Caracterizada pelo estreitamento e enrijecimento das artérias devido ao acúmulo de placas de gordura em seu interior, a aterosclerose figura como a principal causa de morte no mundo ocidental.


Principal causa de morte no ocidente


Através da análise de imagens do olho por meio de um software de autoaprendizagem, pesquisadores foram capazes de identificar pacientes com doença arterial periférica que ainda não apresentavam sintomas. Os resultados foram publicados em fevereiro na revista médica Scientific Reports


São Paulo – 22/06/2022 - Caracterizada pelo estreitamento e enrijecimento das artérias devido ao acúmulo de placas de gordura em seu interior, a aterosclerose figura como a principal causa de morte no mundo ocidental. “Isso porque a aterosclerose é a maior responsável pela ocorrência de infartos e AVC’s, além da doença arterial periférica (DAP), quando, devido ao estreitamento dos vasos, o fluxo de sangue para os membros é reduzido”, alerta a cirurgiã vascular Dra. Aline Lamaita*, membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular. “O problema é que a aterosclerose é uma doença de evolução gradual e silenciosa que, na grande maioria das vezes, não apresenta sintomas, sendo geralmente descoberta apenas quando danos sérios já foram causados”, explica a médica. A boa notícia é que, agora, pesquisadores do University Hospital Bonn, na Alemanha, desenvolveram um método capaz de diagnosticar precocemente o risco de aterosclerose através de imagens de um órgão que não é comumente associado a doença: o olho. A descoberta foi publicada em fevereiro na revista médica Scientific Reports. 

Para a pesquisa, os responsáveis pela descoberta fotografaram os olhos de 97 homens e mulheres que sofriam de doença arterial periférica, sendo que, em metade dos participantes, a condição ainda estava em estágios iniciais, sem apresentar sintomas. “O fundo do olho é extremamente bem irrigado de sangue para que possa funcionar corretamente. Essas veias e artérias ligadas aos olhos podem ser observadas e fotografadas através da pupila sem grandes esforços. Esse foi o ponto de partida dos pesquisadores”, explica a médica. Essas imagens, em conjunto com fotos do olho de 34 indivíduos saudáveis, foram então utilizadas para alimentar uma rede neural convolucional, um software que pode ser treinado para reconhecer o conteúdo de certas imagens, nesse caso, mudanças vasculares nos vasos presentes nos olhos. Para isso, os pesquisadores também utilizaram 80 mil fotos adicionais de outras doenças que afetam os vasos dos olhos de forma a ensinar o algoritmo do software ao que prestar atenção.

Como resultado, o software foi capaz de identificar precocemente com grande precisão se as imagens dos olhos foram tiradas de pacientes saudáveis ou que apresentavam doença arterial periférica. Do total dos participantes, 80% foram diagnosticados corretamente, sendo que os outros 20% foram compostos de falsos positivos, isto é, indivíduos saudáveis que o algoritmo classificou como doentes. “Esse método de diagnóstico é realmente um grande avanço que nos permitirá, futuramente, diagnosticar precocemente casos de aterosclerose para adotar medidas de combate o quanto antes de forma a diminuir o risco de complicações e morte. Hoje, mesmo oftalmologistas treinados não são capazes de detectar alterações causadas pela doença arterial periférica por meio de imagens do fundo do olho”, diz a Dra. Aline, que explica que, atualmente, o diagnóstico de aterosclerose geralmente ocorre em situações de emergência, após um infarto por exemplo, ou durante a realização de exames preventivos.

Mas é importante ressaltar que, infelizmente, o novo método para diagnóstico da doença pode demorar até que seja amplamente difundido, pois ainda possui limitações, como a necessidade de imagens de alta resolução que mantenham os detalhes das estruturas vasculares nítidos para que o software consiga identificá-las com maior precisão. No entanto, os pesquisadores já estão trabalhando com oftalmologistas e médicos vasculares para melhorar a performance desse método. “Até lá é fundamental que todas as pessoas busquem um médico anualmente para realizar um check-up e avaliar o risco do desenvolvimento de aterosclerose para tratá-la precocemente se necessário”, finaliza a Dra. Aline Lamaita.

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*DRA. ALINE LAMAITA - Cirurgiã vascular, Dra. Aline Lamaita é membro da diretoria (comissão de marketing) da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV). Membro da Sociedade Brasileira de Laser em Medicina e Cirurgia, do American College of Phlebology, e do American College of Lifestyle Medicine, a médica é formada pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (2000) e hoje dedica a maior parte do seu tempo à Flebologia (estudo das veias). Curso de Lifestyle Medicine pela Universidade de Harvard (2018). A médica possui título de especialista em Cirurgia Vascular pela Associação Médica Brasileira / Conselho Federal de Medicina. RQE 26557

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